Por Gilberto Prazeres, editor do Blog da Folha
Afeito à polêmica, o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal, o deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), mostra-se disposto a ingressar na disputa pela Presidência da República no próximo ano, para amplificar os debates travados no colegiado, e com força suficiente para levar a eleição para o segundo turno. “Depois do que aconteceu na comissão, eu me tornei um símbolo. Um símbolo de uma resistência, um símbolo da fé cristã e o símbolo dos conservadores que aparentemente não existem mais no Brasil”, atestou. Nessa entrevista exclusiva ao Blog da Folha, o social-cristão, que fez campanha para a presidente Dilma Rousseff (PT) em 2010, revelou que se sente traído pela petista e que, por isso, não medirá esforços para contribuir para a sua derrota.
O seu nome já figurou em pesquisas sobre a eleição presidencial do próximo ano, mas o seu partido indica que deve apostar em outra postulação. Está realmente descartada uma candidatura presidencial do deputado Pastor Marco Feliciano?
O futuro a Deus pertence. Nós temos um acordo no partido para que o nosso vice-presidente nacional, Pastor Everaldo Pereira, seja candidato a presidente da República pelo partido. Só que ele, durante reunião, disse que, caso a sua campanha não decole até março, ele declinaria. E tudo pode acontecer. Me chegam informações de que a ouvidoria do partido recebe hoje uma média de mil ligações diárias. Dessas mil, 1001 é perguntando o motivo de eu não ser o candidato a presidente pelo partido. Então, eu não sei o que pode acontecer daqui para frente. Hoje, eu sou apenas um pré-candidato à reeleição como deputado federal. Até o Senado foi cogitado, só que o problema do Senado em São Paulo é que nós temos 30 milhões de eleitores, e há uma vaga só. Então, para ser eleito, precisaria ter, no mínimo, de dez a 11 milhões de voto. E com dez a 11 milhões de voto, se eu sou candidato a presidente. E tendo isso, eu entro para a história. Divido qualquer campanha. Mando para segundo turno qualquer candidato.
Acha que o seu voto seria apenas do segmento evangélico ou consegue adentrar em outros setores?
Depois do que aconteceu na Comissão de Direitos Humanos, eu me tornei um símbolo. Um símbolo de uma resistência, um símbolo da fé cristã e o símbolo dos conservadores que aparentemente não existem mais no Brasil. O meu público é um público silencioso, mas cresceu assustadoramente. Hoje, eu ando na rua, católicos me param e eu sei discernir quem é católico ou de outra confissão religiosa, ou quem é evangélico. O evangélico me chama de pastor Marco. Os outros me chamam ‘Feliciano, posso tirar uma foto?’ porque a mídia me apelidou de Feliciano. Então, hoje, nós estávamos aqui agora te dando essa entrevista você viu aqui uma militar. Ela disse ‘eu não sou evangélica, sou católica, mas parabéns pela sua luta’. Ela disse. Então, cresceu demais, assustadoramente.
Esse crescimento vai tornar inevitável a sua candidatura?
Não sei. Tudo pode acontecer. A Presidência, eu não teria medo hoje. Não teria medo porque eu acredito que nós faríamos um barulho. E seria uma oportunidade de mostrar para o Brasil qual a força dos evangélicos de verdade. E não só dos evangélicos, dos católicos. Não só dos católicos. Os espíritas que fizeram manifestação a meu favor. Nós tivemos em Brasília, tivemos em Brasília uma manifestação espírita contra o aborto e eu fui homenageado e aplaudido por dez mil pessoas. Veja só, olha que coisa bonita. Os conservadores, os ateus conservadores. Eu tenho um grupo de ateus na internet que são ateus mas são conservadores e me apoiam. Então, coisas poderiam acontecer. Nós poderíamos colocar o Brasil de volta em questões que hoje parece que está adormecida.
Eu me sinto de direita, apesar de no nosso País não ter mais isso. Aliás, nosso País não tem mais nem oposição, não tem mais nada” (Foto: Arthur Mota)
Esse debate é mais religioso comportamental. Agora, em relação a outras questões, como, por exemplo, a economia. O senhor se sente pronto para discutir?
O que eu não sei, eu meto a cara nos livros e vou conhecer um pouco mais. Eu conheço o Brasil mais talvez do que todos esses candidatos. Eu fui pessoalmente a mais de duas mil cidades do Brasil. E eu falei direto para a massa. Então, eu sei da necessidade do povo brasileiro. Eu sei que pode acontecer no nosso País. Eu sei o que o povo de fato precisa. Não adianta mexer só em algumas estruturas ruídas que já estão, precisamos de uma reforma tributária. A primeira coisa que teríamos que acontecer no nosso País é uma reforma tributária. Arrecadação do nosso País, a distribuição da renda, então, e pra tudo isso existe equipe. Ou você acha Dilma sabe tudo? Que o Lula sabia tudo? Tem uma equipe. Mas o povo precisa de um símbolo. E um símbolo agrega valores ao seu lado.
Desde que assumiu a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado tem adotado uma postura crítica em relação ao governo da presidente Dilma e ao PT. Já foi, inclusive, classificado de anti-petista. Se vê dessa forma?
Fui enganado, assim como fui enganada a população brasileira e, principalmente, os evangélicos. No segundo turno da campanha presidencial de 2010, nós tínhamos José Serra e Dilma. Ao serem ambos questionados sobre o aborto, José Serra disse que era a favor, que a mulher dele havia feito um aborto. E Dilma, que outrora havia dito que era a favor do aborto, voltou atrás e assinou um documento diante das maiores lideranças evangélicas do Brasil mostrando que ela era contrária ao aborto e que no governo dela não teria nada com a votação da Lei do Aborto. Por questão disso, eu caminhei ao lado dela. Eu fui contra meu partido em São Paulo. Meu partido no País todo estava com a Dilma, mas em São Paulo, estava com José Serra. E como eu sou de São Paulo, fui contra o meu partido naquele momento por causa da minha ideologia e apoiei Dilma, subi em palanques com ela. O jornal Folha de São Paulo, na cobertura de reuniões que ocorreram com a minha presença e a de Dilma, não colocavam nem a foto dela, colocavam a minha foto porque havia sido muito bem votado. Fui o décimo segundo entre 70 deputados do Estado de São Paulo, tive 212 mil votos. Então, eu entreguei de corpo e alma a minha vitória na mão da presidente. Em 2010, eu criei uma central de inteligência de internet. Eu cheguei a disparar cinco milhões de e-mails para o Brasil, nas principais áreas onde ela não havia sido bem votada e consegui cooptar o voto dessas pessoas que acreditaram em mim. E, de repente, no momento que eu mais precisei da presidente, ela se calou. O governo não se manifestou através da boca da presidente, acerca de eu ter assumido a presidência da Comissão de Direitos Humanos. ,
Se sentiu traído?
Traído com “T” maiúsculo. E não só isso. Não era para ser votada a Lei do Aborto, e, de fato, a Dilma não colocou a mão dela, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) votou e aprovou o aborto dos anencéfalos. Ah, mas foi o Supremo, pastor! Podem dizer. Eu sei, mas naquele momento, dos 11 ministros, oito eram os colocados pelo PT. E alguém pode dizer que o Executivo e o Judiciário são poderes independentes. Mas nós sabemos como isso funciona nesse País. Eu não vou aqui acusar, mas nós sabemos como funciona. Nós vimos na criação do partido de Marina (Rede Sustentabilidade). Nós vimos… Me senti traído e, por isso, comecei a vasculhar a ideologia do PT que até então eu desconhecia porque nunca tive tempo. E, quando eu descobri que a filosofia deles é enraizada no marxismo, e no marxismo com “M” maiúsculo, em que se vê a religião como um freio no progresso do mundo. Eu descobri que eu estava lutando do lado do meu inimigo. Então, de lá para cá, tornei-me uma voz contra ao governo do PT, que aparelhou o País inteiro, aparelhou o Estado inteiro, aparelhou a polícia, aparelhou a mídia… Eu vejo isso nas reportagens que citam a minha pessoa. Me sinto como se eu fosse um monstro.
"Hoje, eu ando na rua, católicos me param e eu sei discernir quem é católico ou de outra confissão religiosa, ou quem é evangélico” (Foto: Arthur Mota)
Esquerdismo? O senhor se consideraria de centro ou de direita?
Meu partido é um partido de centro, né? Eu falar que sou de direita pode soar pretensioso demais. Mas eu me sinto de direita, apesar de no nosso País não ter mais isso. Aliás, nosso País não tem mais nem oposição. Nosso País não tem mais política.
E como o deputado vê as candidaturas presidenciais que estão postas, como a da dupla Eduardo/Marina e Aécio Neves?
Eu tinha e ainda tenho um apreço muito grande pelo Eduardo. Estive com ele, estive com a mãe dele (a ministra do TCU Ana Arraes). É um rapaz brilhante, tem um entusiasmo tremendo. E conheço também um pouco da história do Aécio. Tancredo Neves, o seu avô… Naquele momento (da política brasileira), eu era um adolescentezinho mas que ouvia a música ‘Coração de estudante’ e chorava sem entender o porquê. No momento das Diretas Já, final da ditadura. Mas hoje eu não saberia dizer a quem iria (se o PSC não tiver candidatura própria). Eu tenho um pequeno probleminha com Marina. Essa semana eu dei um depoimento, quando me perguntaram sobre Marina, e disse me decepcionei com ela Marina. Porque, em 2010, agregou para ela os votos dos evangélicos por causa da sua aparência, por causa da maneira como se portou dizendo que era uma cristã da Assembleia de Deus. Ou seja, uma protestante. Só que, quando questionada acerca das ideologias cristã, sobre o aborto, Marina simplesmente disse que isso é uma questão de saúde pública. E nós sabemos que isso é uma desculpa. Toda vez que um governante diz que aborto é de saúde pública, ele está jogando sobre a população, sobre a sociedade, a culpa e a responsabilidade. Aborto não é uma questão de saúde pública, é uma questão de consciência. É uma vida, estamos falando de morte.
Na semana passada, foi aprovação na Comissão Direitos Humanos a possibilidade das igrejas impedirem o acesso de cidadãos que ingressem nos cultos como objetivo de realizar algum tipo de protesto. A medida foi interpretada por diferentes setores da sociedade como uma exemplo antidemocrático. Não o é?
Tente você entrar dentro do Congresso Nacional sem gravata. A pessoa é barrada, não deixam ela entrar. São leis estabelecidas, regras. Por que é que eu não posso proteger a minha fé? Quer dizer então que duas pessoas podem entrar dentro de um culto onde eu estava, tirar a roupa, dar um beijo homossexual na frente dos fiés, crianças, velhos. E meu direito de culto? O Artigo 5º da Constituição diz que o direito e local a culto é protegido pelo Estado. Artigo 208 do Código Penal, nenhum objeto de culto pode ser exposto à humilhação. Tem que ser respeitado. O Estado é laico, mas não é laicista. Ai você pode dizer já tem lei para isso e questionar o porquê de se criar mais uma. Parece que as pessoas não dão atenção para as leis que já foram criadas. Então, cabe ao Parlamento criar novas leis. O projeto não é meu, é de Washington Reis (PMDB/RJ). Em momento algum ele veta a entrada de pessoas na igreja. A pessoa pode entrar, de qualquer sexo, de qualquer cor, qualquer religião. Agora, como só o sexo não basta, a orientação sexual também. Qualquer pessoa de qualquer orientação sexual pode entrar. O que não pode é dentro da igreja atrapalhar o culto. O que não pode é querer colocar dentro da igreja sua ideologia. Dois homens querem se casar e obrigar o pastor ou o padre a fazer casamento. Os intelectuais de esquerda dizem que isso é liberdade, que a pessoa pode fazer o que ela quiser, inclusive casar dentro da igreja. Mas não se respeita uma tradição milenar da igreja? E quando essas pessoas vão ao culto elas não vão pontuar essas questões, vão para afrontar. E se vão para afrontar é preciso ter mecanismos que protejam a igreja.
Durante boa parte do embate entre o senhor e ativistas do movimento LBGT, foi recorrente o comentário de que suas ações são resultantes do fato de o deputado ser “sexualmente enrustido”. Alguns dos seus adversários o trataram dessa forma. Como é que o senhor recebe esse tipo de crítica?
Eu queria que você me dissesse se isso não seria preconceito? Isso não seria homofobia? Isso é um preconceito. É contra tudo que eles lutam. Se eles estão me acusando de ser enrustido, isso é um preconceito. Agora, preconceito só funciona quando é daqui para lá. De lá para cá não é preconceito. O Brasil inteiro viu e nós desmascaramos esse movimento. E hoje pode ver que parou, cessou, por que não me perseguem mais? Até os atentados que eu sofri no avião, nos cultos… Os próprios movimentos gays foram contra aquilo. Porque isso depõe contra a causa. O povo viu o quão radicais eles são, intolerantes e preconceituosos. Não querem direitos, querem privilégios. Isso não pode acontecer jamais.
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