quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Voto no Brasil poderá ser facultativo

Estado de Minas
Foi aprovada ontem pelo grupo de trabalho que trata de reforma política na Câmara dos Deputados uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que estabelece diversas mudanças no sistema eleitoral e partidário no país. O texto será apresentado ao presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e seguirá para apreciação por uma comissão especial. Entre os pontos principais do projeto estão o fim da reeleição para cargos executivos, a instituição do voto facultativo, a implementação de uma cláusula de desempenho partidária – chamada comumente de cláusula de barreira – e a criação de circunscrições eleitorais – chamadas de distritos – nos estados.
Coordenador do grupo de trabalho, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) considerou a aprovação do projeto um grande avanço: “É a primeira mudança de fundo do sistema político desde 1945”, afirmou. O petista destaca a ideia de criar circunscrições dentro de cada estado, pois, segundo afirma, a mudança aproximaria o eleito do eleitor e reduziria gastos de campanha. O artigo que estabelece um percentual mínimo de votação que corresponda a 10% do quociente eleitoral para o candidato poder ser eleito também merece destaque, segundo o deputado. “Assim você evita uma situação que houve na Câmara, de um cidadão que teve dois votos ser eleito deputado.”
Membro da comissão que elaborou o projeto, o deputado Luciano Castro (PR-RR) também comemora diversos pontos aprovados, mas alerta para a falta de tempo para aprovação do texto, já que o próximo ano é eleitoral. “Pela minha experiência de 22 anos na Câmara, acredito que dificilmente esse projeto será votado em plenário no ano que vem. Se ele passar pela comissão especial até o recesso parlamentar no fim do ano, temos que ficar muito felizes”, diz ele. Para Castro, a instituição do voto facultativo atenderia um anseio antigo da população. “O povo deseja essas mudanças no sistema eleitoral agora”, responde, quando perguntado sobre as expectativas criadas pelos protestos de junho.
O projeto também prevê a perda de mandato para o parlamentar que se desfiliar voluntariamente do partido pelo qual foi eleito e facilita a criação de partidos, permitindo que 5% dos deputados criem uma legenda sem coletar assinaturas, ou que 0,25% dos eleitores referendem uma nova agremiação (atualmente é necessário 0,5%). Outra mudança prevista é a criação de um teto nominal em reais para doações de campanha. Atualmente, empresas podem doar 2% de seu faturamento bruto e pessoas físicas 10% do rendimento bruto.
O cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Bruno Reis considera que a PEC, se aprovada como está, terá “efeitos ambivalentes” no sistema político. Para ele a chance de piorar é maior do que de melhorar, mas há pontos positivos no texto. “Muda um bocado a dinâmica das eleições se você divide os distritos em espaços que não vão ter 10 representantes cada um. As chapas ficarão menores e mais discerníveis, talvez fique mais parecido com a eleição do Senado, mas com mais pessoas eleitas do que somente três”, avalia.
O professor se diz contrário à ideia de coincidência de eleições, que, segundo ele, reduz o debate eleitoral com uma “intenção mesquinha de economizar dinheiro, como se isso fosse o mais importante”. Bruno condena também o voto facultativo: “O fato de o voto ser facultativo tem efeito político relevante e sistemático. No mundo perfeito o voto teria que ser facultativo. No mundo real ele piora o clientelismo, e na maioria dos países ele elitiza o voto. O rico vota mais do que o pobre, o branco vota mais do que o negro, os universitários votam mais do que os que têm menor escolaridade”.

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