sábado, 21 de dezembro de 2013

Reginaldo Rossi e Dominguinhos, um encontro no céu

Uma crônica sobre o encontro entre os artistas pernambucanos, falecidos este ano e vítimas de câncer de pulmão

  / Ilustração: Vladimir Barros

Ilustração: Vladimir Barros

Reginaldo Rossi não tirou os óculos escuros nem mesmo pra entrar no céu. Chegou lá em cima cheio de marra, os cabelos crespos confundindo-se com as nuvens, e logo procurou a ala de Pernambuco.
Pediu uma cerveja gelada ao garçom - porque céu que se preze tem que ter cerveja gelada - e disse que hoje, só hoje, não encheria o saco pra falar das centenas de casos de amor que seu confidente oficial já cansou de escutar. Aí notou um amontoado de gente chumbregando mais adiante. Parecia carnaval. Foi lá.
Naquele céu não havia silêncio nem harpa, querubim nem serafim. No céu pernambucano é sinfonia de sanfona e, se Deus achar ruim, é capaz de haver movimento emancipacionista pra fundar uma república independente.
E lá estava Dominguinhos comandando a farra. Vitimados por um câncer de pulmão, eternizados pela música, levados embora por um 2013 que deixou a terra mais sem graça e o céu mais animado.
“Saudade, meu remédio é cantar”, disse Dominguinhos, ao avistar Rossi. “Mon amour, meu bem, ma femme!”, gritou Rei do Brega, a camisa aberta até o peito, se dirigindo ao conterrâneo. “Hoje é o dia do corno, foi bom te encontrar”, continuou Reginaldo Rossi, finado e afiado. Arlindo dos 8 Baixos, Carlos Fernando e João Silva não se contiveram. A gargalhada foi geral. “Esse bicho é fogo. Já chega arriando”, disseram.
Foi o encontro do brega com o forró, de dois Pernambucos que são só um, de duas escolas musicais que nasceram do povo e para o povo. Um abraço selou o encontro entre os dois.
A multidão anônima logo entoou: “Olha, isso aqui tá muito bom, isso aqui tá bom demais”. E, no céu do Recife, “o paraíso tropical” cantado por Reginaldo Rossi, a festa não tem hora pra acabar.

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