sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Câmara sempre no foco da investigação policial

 / Pedro Romero/Especial para o JC

Operações expõem esquema de corrupção envolvendo integrantes do Poder Legislativo. Polícia Civil deve analisar projeto que previa licitação para transporte

CARUARU – Desde o dia 18 de dezembro, quando foi desencadeada a operação Ponto Final e dez vereadores foram presos acusados de cobrar propina para aprovar projetos da prefeitura, os moradores desta cidade estão acompanhando cenas incomuns no Legislativo. Na última quarta-feira (29), por exemplo, o vereador Val (DEM), se embrenhou em um matagal para não ser preso. Na fuga, abandonou o carro que, segundo a polícia, foi depredado pela população. 
A novela não deve terminar tão cedo e as próximas investigações devem abordar um projeto de lei que previa licitação para a prestação de serviços de transporte no município. Na época, houve denúncias de que empresários do setor “chegaram junto” para que o projeto fosse rejeitado.
A informação de que empresários interessados na rejeição do projeto distribuíram dinheiro foi constante nos corredores da Câmara de Caruaru, inclusive com informações de que alguns estavam atuando no local no dia da votação. 
Um dos que denunciaram o suposto esquema foi o presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Caruaru (Sindecc), Milton Manoel, também membro do Conselho Municipal de trânsito e Transportes (Comut).
“Nós denunciamos a votação do projeto e agora as coisas estão aparecendo. Numa das novas gravações, por exemplo, o vereador Sivaldo diz que os outros não se preocupem, pois o dinheiro vem de empresários”, argumentou Milton Mota. Ele acrescenta que o delegado Erick Lessa, responsável pelas investigações, informou que empresários também serão ouvidos.
“Ano passado, um empresário do setor de transportes ofereceu um carro para o sindicato para que eu votasse, como membro do Comut, pelo aumento das passagens. Na época denunciei e abandonei o conselho”, destacou o presidente do sindicato. O projeto para abertura de licitação para o transporte público em Caruaru já foi reprovado duas vezes.

Polícia aponta que criação de CPI tinha intuito de cobrar barganha


Polícia Civil revela que os cinco vereadores acusados usariam comissão para cobrar propina da Prefeitura de Caruaru

CARUARU – Os cinco vereadores que tiveram a prisão preventiva decretada anteontem na operação Ponto Final 2 queriam a aprovação de uma CPI para depois barganhar dinheiro com a prefeitura para que o resultado das investigações não desse em nada. Os detalhes foram divulgados, ontem, pela Polícia Civil. Dois dos parlamentares acusados já estão atrás das grades e outros três são considerados foragidos pela polícia.
De acordo com a Polícia Civil, os vereadores Neto (PMN), Val (DEM) e Evandro Silva (PMDB) deram dinheiro para que Val das Rendeiras (PROS) e Pastor Jadiel (PROS) assinassem um requerimento para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Segundo o delegado Erick Lessa, responsável pelas investigações, o objetivo da comissão era investigar supostas irregularidades da prefeitura levantadas em um relatório da Controladoria Geral da União (CGU).

“Eles queriam criar a comissão e depois cobrar dinheiro da prefeitura para que o resultado das investigações não desse em nada”, explicou Erick Lessa. Segundo a polícia, Pastor Jadiel teria recebido R$ 30 mil, sendo R$ 15 mil pagos por Val e R$ 15 mil por Neto.
Com a assinatura de mais três vereadores, o requerimento solicitando a abertura de uma CPI foi aprovado, mas o presidente da Casa, Leonardo Chaves (PSD), alegou que a matéria precisava de votação no plenário e a iniciativa foi derrotada. Os parlamentares recorreram à Justiça e a comissão acabou sendo instalada. O presidente é o vereador Marcelo Gomes (PSB), que não quis falar sobre o assunto.
O relatório da CGU aponta superfaturamento na compra de itens da merenda escolar, desvio de finalidade no empenho de verbas públicas e licitação dirigida na Prefeitura de Caruaru. O maior prejuízo está nos contratos firmados com o Ministério da Educação. O relatório foi tema de uma série de reportagens publicada no Jornal do Commercio, em agosto do ano passado.
Os cinco parlamentares que estão sendo acusados nesse inquérito já haviam sido presos, acusados de cobrar R$ 2 milhões para aprovar um projeto da prefeitura que prevê a implantação do sistema de Bus Rapid Transit (BRT) em Caruaru. As negociações foram feitas entre um grupo de dez vereadores e o secretário de Relações Institucionais, Marco Casé, e foram gravadas pela polícia.
Evandro Silva e Val das Rendeiras já estão na Penitenciária Juiz Plácido de Souza. Val, Neto e Pastor Jadiel estão sendo procurados pela policia. Os parlamentares que teriam oferecido dinheiro estão sendo acusados de corrupção ativa e de integrar organização criminosa.
Os vereadores acusados de receber dinheiro vão responder por corrupção passiva e também por integrar organização criminosa. De acordo com o delegado Erick Lessa, outras pessoas serão ouvidas nas investigações. Ele tem dez dias para concluir o inquérito.
Os advogados dos vereadores que estão sendo acusados entraram ontem no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) com pedidos de habeas corpus liberativo para os parlamentares que estão presos e preventivos, para os que estão ameaçados de prisão.

Nenhum comentário: