quarta-feira, 24 de julho de 2019

Vidas soterradas: as histórias das vítimas das chuvas na RMR

Onze pessoas morreram em Abreu e Lima, Recife e Olinda em mais uma madrugada trágica

Redação OP9

Com medo dos deslizamentos, Natalício Vicente da Silva, de 69 anos, e Ivonete Maria da Silva, 63,  tinham se mudado há quatro anos para uma casa em Passarinho, na zona norte do Recife. O imóvel foi construído em regime de mutirão pela própria família por ser um lugar que eles julgavam ser mais seguro. Na trágica madrugada chuvosa desta quarta-feira (24), eles dormiam quando a barreira desabou. Seus corpos foram encontrados lado a lado, em cima da cama.

A história do casal de idosos se soma a uma lista de onze vítimas fatais do temporal desta quarta na Região Metropolitana do Recife. Desde o dia 13 de junho, quando deslizamentos mataram nove pessoas na região metropolitana, já são 20 vítimas de desabamentos. Em comum, são famílias pobres que se deslocaram para áreas de risco por falta de opção.

Grávida de oito meses, Maria Eduarda de Silva, de 21 anos, viajou até Caetés II, em Abreu e Lima, para celebrar a vida – mas acabou soterrada por uma montanha de lama e entulhos. Ele deixou a Ilha de Itamaracá, onde morava com o marido, para realizar um chá de bebê com a família e acompanhar a aniversário de 15 anos do irmão. Duda, como é conhecida, ainda está sendo procurada pelo Corpo de Bombeiros e pelo marido, mas os irmãos Luis Henrique da Silva, de 15 anos, Mariana da Silva, de 18 anos, e o pai, Silvano da Silva, de 49, morreram soterrados pela avalanche.

Em Olinda, os vizinhos  Elisângela Alves da Silva, de 43 anos, e  Diego Luiz de Oliveira , de 33 anos, também não resistiram a uma deslizamento no bairro de Caixa d’Água. Empolgada por ter voltado aos estudos, Elisângela recebeu, horas antes da tragédia, a visita de um filho caçula de 16 anos, a quem tentou tranquilizar por conta do tempo ruim.  Já o filho mais velho,  25 anos, que dormia com ela no barraco, levou uma pancada na cabeça durante a queda da barreira, mas conseguiu sobreviver.

Diego, o vizinho discreto, morava sozinho. Seu único companheiro era um cachorro, que sobreviveu. O cão não quis deixar a área dos escombros e, talvez na esperança de reencontrar o dono, acompanhou de operação de resgate do Corpo de Bombeiros, comovendo moradores e parentes da vítima.

No bairro de  Águas Compridas, também em Olinda, Abraão Batista da Silva, de 25 anos, estava no barraco de um amigo em uma área de difícil acesso quando foi atingido massa de lama.  Éverton Dias da Silva, amigo de Abraão, também foi atingido e considerou “um milagre” ter sobrevivido para lamentar a perda precoce.

No Córrego do Curió, em Dois Unidos, no Recife,  Josafá Barbosa da Costa, 34 anos, ainda tentou correr após ouvir um estrondo. A mulher foi atingida, mas sobreviveu. O pai de Josafá lembra que o filho estava feliz com o emprego novo. Ele era motorista da prefeita interina de Camaragibe, Nadégi Queiroz.

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