quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Morre ex-presidente da França


Ex-presidente Jacques Chirac morreu nesta quinta-feira, aos 87 anos Foto: PATRICK KOVARIK / AFP / 15-02-2007

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Com informações de O Globo


PARIS — Morreu nesta quinta-feira o ex-presidente Jacques Chirac , aos 86 anos, um dos líderes mais longevos da história recente da França. Presidente entre 1995 e 2007, ele ocupou o Palácio do Eliseu por dois mandatos, foi duas vezes primeiro-ministro e prefeito de Paris por 18 anos, de 1977 a 1995.

A morte foi confirmada por seu genro, Frederic Salat-Bardoux, mas o motivo ainda não é conhecido. Há anos, no entanto, o ex-mandatário francês sofria de perda de memória relacionada a uma forma de mal de Alzheimer ou a um derrame que sofreu em 2005.

“Ele morreu pacificamente nesta manhã, cercado por seus entes queridos”, disse Salat-Bardoux. Quando a notícia veio à tona, o Parlamento francês interrompeu sua sessão para respeitar um minuto de silêncio.

Domesticamente, um dos maiores legados de Chirac foi reconhecer a responsabilidade francesa no envio de cerca de 76 mil judeus para campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo o ex-presidente, os crimes do regime nazista durante a ocupação francesa foram assistidos pelo povo e pelo Estado francês. Ele foi o primeiro líder do país a pedir desculpas por isso — derrubando um dos últimos tabus relacionados ao regime de Vichy.

Internacionalmente, um dos maiores legados de Chirac foi sua forte oposição à invasão do Iraque, em 2003. Durante esta época, sua postura contrária à guerra contra Bagdá — um "pesadelo", ele disse — fez sua aprovação chegar a 90% no país.

— A guerra é sempre a última solução. É sempre uma prova de fracasso. É sempre a pior das soluções, porque traz morte e miséria — disse o então presidente, uma semana antes de a coalizão liderada pelos Estados Unidos invadirem o Iraque.

Jacques Chirac com o então chanceler alemão Helmut Kohl em Estrasburgo em maio de 1995 Foto: ERIC CABANIS / AFP

Chirac também era conhecido por sua habilidade de nadar com a corrente. Chirac passou de eurocético, na década de 1970, para um defensor árduo de uma Constituição Europeia dez anos depois — algo rejeitado pelo eleitorado. Outra mudança de opinião foi referente a questões econômicas: começou defendendo o controle estatal para, nos anos 1980, apoiar as políticas liberais de Margaret Thatcher e Ronald Reagan.

Durante sua Presidência, o país adotou o Euro, aboliu o serviço miltar compulsório e reduziu o mandato presidencial de sete para cinco anos. E apesar de ter deixado a França dividida e com grandes dívidas, desemprego e estagnada, Chirac tinha uma personalidade que o transformou em um político bastante querido pelo povo francês.

Alvo de muitas sátiras e críticas, ele foi o primeiro presidente francês condenado por abuso de poder e desvio de dinheiro público enquanto era prefeito de Paris. Ele recebeu uma pena de dois anos de prisão, mas foi eximido de cumpri-la por motivo de doença.

Chirac cumprimenta pessoas que o esperavam no aeroporto de Pamandzi, no território francês de Mayotte, em 19 de maio de 2011 Foto: CHARLES PLATIAU / REUTERS

Chirac também será lembrado por sua grande capacidade de sedução política: segundo o Guardian, ele apertava tantas mãos enquanto viajava pelo país que precisava colocar seus dedos no gelo no final do dia ou usar luvas. Durante campanhas, bebia cervejas, fumava e chegava a almoçar cinco vezes no mesmo dia com parte do eleitorado.

Ele despontou no cenário político europeu na década de 1960, como conselheiro do primeiro-ministro George Pompidou. Em seguida, tornou-se deputado e ministro. Antes de chegar ao Eliseu nos anos 1990, fundou seu próprio partido e perdeu duas eleições presidenciais.

Chirac prometeu, para finalmente chegar à liderança do país, resolver as questões sociais, como o alto desemprego e a desigualdade. Quando assumiu a Presidência, entretanto, apresentou uma reforma de previdência e um programa de austeridade fiscal que levaram dois milhões de pessoas às ruas de Paris e geraram as maiores greves desde maio de 1968.

Em 2002, ele foi reeleito com 82% dos votos contra Jean-Marie Le Pen, candidato da extrema direita que chocou o país ao chegar no segundo turno. A grande vitória de Chirac, entretanto, se deu em boa parte à grande rejeição a seu opositor.

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