segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O grande Nereu Pinheiro

O GRANDE NEREU PINHEIRO

CLAUDEMIR GOMES

De repente passamos a tomar conhecimento de notícias desagradáveis: o narrador da Rede Globo, Galvão Bueno, teve um mal-estar, e foi submetido a um procedimento de cateterismo; Gugu Liberato, apresentador da TV Record sofreu um acidente doméstico e seu estado de saúde é grave... Aqui, na nossa aldeia, o ex-treinador, Nereu Pinheiro, que vem travando uma luta inglória contra um adversário cruel e letal, o câncer, foi internado, no meio da semana, numa Unidade de Terapia Intensiva.
Nereu tem uma história de superação belíssima. Testemunhei muitas passagens, fato que me deu a oportunidade de lhe ver sentado a mesa de alguns banquetes, e também comendo do pão que o diabo amassou. O conheci através do amigo em comum, Amaury Veloso. Com o passar do tempo estreitamos nossa amizade que resultou numa boa troca de conhecimentos.
Na década de 80, a redação do Diário de Pernambuco, no expediente da manhã, funcionava como uma espécie de escritório do jornalista, Amaury Veloso, que montou uma rede de informações fantástica. Na época não existia Internet, mas Amaury recebia informações de clubes de cidades do Interior de Pernambuco, e de outros estados. Todos os dias Nereu ia bater o ponto no DP, um rico endereço para encontros que lhe rendeu alguns empregos.
Homem simples, de pouca escolaridade, sem habilidade no trato com as palavras, mas dono de um faro invejável, qualidade que lhe transformou num grande descobridor de talentos. A lista de jogadores revelados por Nereu é fantástica, assim como, as estórias e os causos servem de motes para boas prosas, e boas crônicas.
Supersticioso, Nereu Pinheiro era capaz de descobrir chifre em cabeça de cavalo, quando dos momentos de tensão. Desconfiava de tudo. E era esta desconfiança que alimentava bons papos, nos quais aprendia muitas coisas de bastidores.
Em 1989, quando o Sport se preparava para decidir o primeiro título da Copa do Brasil, com o Grêmio de Porto Alegre, durante um treino coletivo, na Ilha do Retiro, Nereu me chamou em separado e observou:
"Esse Zico é um jogador arretado. Tem um potencial técnico muito grande, mas é preguiçoso. Faz 20 minutos que ele não sai daquele espaço do campo. Olhe a camisa dele, sequer suou debaixo do sovaco. No jogo, vai cansar."
Foi uma grande decisão. Aquele título seria a coroação de Nereu Pinheiro como treinador, mas o apito amigo acabou favorecendo o Tricolor Gaúcho. O Sport não tomou algumas precauções que o Grêmio tomou nos bastidores. Naquela noite de sábado, quando chegamos ao hotel, Nereu me chamou, e com a cara de poucos amigos, amuado, disse baixinho:
"Não quero falar com ninguém. Vou sair com você e o corona (Cel. Marcos Soares), para tomar uma". 
E assim foi feito.
Como santo de casa não faz milagres, pouco se fala do bom trabalho que ele fez no Santa Cruz levando o tricolor à Série A, em 1999. O presidente era Jonas Alvarenga, que colocou um bispo da cola de Nereu, no jogo final, com o Goiás, em Goiânia. O empate garantiria o acesso, dos dois clubes.
No dia jogo, o bispo chegou cedo no quarto de Nereu e disse: "Acabei de falar com Jesus e ele disse que íamos ser campeões. Solte o time".
Tão logo ele deixou o quarto, Nereu olhou para o seu auxiliar, Charles Muniz, e perguntou desconfiado:
"Você viu ele falar com Jesus?".
"Não!", lhe respondeu Charles.
"Eu também não. Vou jogar quietinho no meu campo porque o empate me classifica". O jogo terminou empatado e o Santa subiu para Primeira Divisão.
A maioria dos ex-jogadores quando fala de Nereu revela um carinho pelo mestre, mas temos que ressaltar a atenção e a dedicação que Chiquinho, atual Secretário de Esportes da Cidade de Olinda, que foi revelado por Pinheiro, tem tido com aquele que ele chama de "meu pai no futebol".
A gratidão de Chiquinho, expressa em gestos e dedicação, é um golaço humanitário que ele faz para o seu inesquecível TREINADOR.

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