quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Ao menos seis estados e o Distrito Federal terminam o ano com ocupação acima de 80% nas UTIs para Covid-19 da rede pública

Na foto, UTI de Coronavírus do Hospital Universitáriio Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

O Globo

Nos últimos dias de 2020, ao menos seis estados e o Distrito Federal têm ocupação acima de 80% nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para Covid-19 da rede pública. A informação é do levantamento do jornal O Globo, com informações das secretarias estaduais de saúde de 24 estados e do DF, realizado entre segunda (28) e terça-feira (29). Os dados também mostram que pelo menos 20 mil pessoas estão hospitalizadas no SUS com a doença provocada pelo coronavírus, incluindo leitos de UTI e de enfermaria.

Os estados com níveis críticos de ocupação nas UTIs são Mato Grosso do Sul (93,8%), Amazonas (92,9%), Santa Catarina (83,2%), Paraná (83%), Pernambuco (82%) e Espírito Santo (81,9%). Em Brasília a taxa é de 89,31%, e no Rio de Janeiro de 79%.

Em Manaus (AM), o prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) afirmou à TV Globo que há risco de o sistema de saúde no estado entrar em colapso, exatamente como em abril, no pico da pandemia. A especialista em Saúde Pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e colunista do jornal O Globo, Ligia Bahia, afirma que a situação atual da pandemia no Brasil — com um número elevado de casos e “sem retaguarda assistencial” — é impressionante.

— Estamos a 10 meses da ocorrência do primeiro óbito e até agora não houve organização adequada do sistema de saúde para atender as demandas. Sabíamos que o aumento de casos aconteceria novamente. Não teve lockdown, as medidas de prevenção não foram adotadas. Os dados mostram uma desmobilização de uma fase inicial, quando houve hospitais de campanha e tentativa de abrir leitos, analisa a especialista — Agora estamos em uma situação péssima: é o que estamos chamando de interiorização da pandemia, pois ocorre simultaneamente em vários lugares, inclusive na região Sul, que em abril e maio não ocorria.

Segundo o levantamento, Bahia, Ceará, Sergipe e Rio Grande do Sul encontram-se no limite da zona considerada crítica, com a ocupação das taxas de UTI para Covid-19 na rede pública acima de 70%. No último estado, a situação é ainda pior na rede privada, com 89,6% dos leitos de UTI ocupados.

Amapá, Rondônia, Tocantins, Pará, Roraima e São Paulo não informaram a taxa de ocupação dos leitos de UTI da rede pública para a doença.

Na avaliação da médica, nesse momento governadores, prefeitos e o governo federal devem focar esforços em assegurar atendimento para casos graves, com a reabertura de leitos de UTI.

— Também é necessário o fechamento de algumas atividades. Porque sabemos que se estamos com essa taxa de ocupação hoje, vamos ter uma situação ainda pior daqui a 15 dias, depois das festas de réveillon. Essas medidas são absolutamente urgentes, afirma Ligia Bahia.

Mais de 10 mil internados em São Paulo

Em São Paulo, 10.873 pacientes estão internados devido ao coronavírus, sendo 4.226 em hospitais públicos e a maioria (6.647) em leitos de hospitais particulares.

Segundo levantamento feito pela produção da TV Globo, o estado de São Paulo mantém a média de mais de 10 mil leitos para Covid-19 ocupados desde 1º de dezembro. Antes disso, a última vez em que o estado havia registrado mais de 10 mil pacientes internados simultaneamente foi em 20 de setembro.

Toque de recolher prorrogado

No Paraná, um decreto assinado nesta segunda-feira (28) prorrogou o toque de recolher no estado, das 23h às 5h, por mais dez dias. A medida entrou em vigência em 2 de dezembro, mas não terá validade na virada de ano, entre quinta-feira (31) e sexta-feira (1º).

— Não é porque o decreto deixa de viger no dia 31 que nós podemos nos aglomerar, ponderou o secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto, segundo informações do G1. — Até agora, em 24 dias do decreto, tivemos um certo controle da situação.

No Mato Grosso do Sul, o governo estadual também decidiu prolongar o toque de recolher das 22h às 5h, por mais 15 dias, para  tentar conter o avanço do coronavírus. No estado, a medida que havia sido determinada inicialmente entre os dias 11 e 26 de dezembro vai valer até 9 de janeiro de 2021.

“O momento exige medidas mais restritas, estamos operando no limite da capacidade do Sistema Único de Saúde. O foco é evitar mais mortes”, afirmou o governador Reinaldo Azambuja, em nota.

Para Ligia Bahia, medidas como essa podem ajudar, mas a especialista em Saúde Pública avalia que “já é tarde demais”.

— Com toque de recolher os bares tem que fechar, mas o ideal seria que nem abrissem. Colocar horário ou qualquer medida que signifique fechamento de bares, restaurantes, academia de ginástica e eventos que reúnam mais de 10 pessoas, são válidas. Mas a situação já está incontrolável. Temos festas com mais de 500 pessoas, tudo foi liberado. É importante que se tente de alguma maneira conter, mas sabemos que é difícil. Por isso a importância muito grande da organização dessa infraestrutura assistencial, porque certamente teremos casos graves, afirma.

A médica destaca que além do fechamento de alguns serviços, também deveriam ser revistas às viagens nesse momento.

— Não estamos nas nossas férias normais, as experiências mostram isso. O que aconteceu na Espanha, por exemplo, com o aumento de casos depois das férias, vai acontecer aqui, por isso é importante que as autoridades governamentais se preparem, afirma Ligia Bahia, e destaca: — As recomendações de proteção devem continuar as mesmas. Estamos com altas taxas de transmissão. É mentira essa história da imunidade de rebanho. Se fosse verdade, não teríamos esse recrudescimento do número de casos e óbitos.

Nenhum comentário: