sábado, 12 de dezembro de 2020

José Mucio não nega possibilidade de disputar Governo


O ex-presidente do Tribunal de Contas da União José Mucio Monteiro concedeu, hoje, uma entrevista ao programa Frente a Frente, ancorado pelo titular deste blog. Cotado para a disputa ao Governo de Pernambuco em 2022, o ministro foi cuidadoso ao responder sobre o tema, mas não refutou a possibilidade. “Eu primeiro preciso sentar a poeira e a cabeça. Disse a você que eu queria aproveitar a família. Vamos primeiro deixar que as coisas aconteçam”, comentou.

Nesta entrevista, José Mucio, que optou por se aposentar do TCU este ano, falou sobre outros assuntos, como a luta contra a Covid-19, que diz ter causado um grande sofrimento. Além disso, fez um balanço sobre o legado que deixa ao Tribunal, as razões de sua saída precoce, bem como entraves que teve com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Leia, abaixo, os principais tópicos:

Posição sobre eleições em 2022

“(Risos) Candidato a governador... Deixa eu te dizer: eu tive esse projeto em 1986 e, depois disso, o povo de Pernambuco meu deu cinco mandatos de deputado federal. Eu (não posso) dizer a você que, ao sair do TCU antes de ontem e me aposentar nesse final de ano, estou com projeto político. Na realidade, falta muito tempo. Eu primeiro preciso sentar a poeira e a cabeça. Disse a você que eu queria aproveitar a família. No momento, eu não tenho nenhum projeto político. Vamos primeiro deixar que as coisas aconteçam, que os governantes que estão no poder cumpram com as suas obrigações, com suas promessas.

A gente precisa acabar com essa história de ‘eleição, eleição, eleição’. O Brasil tem 14 milhões de desempregados e 53 milhões na linha de pobreza, dos quais 21 estão abaixo. A gente tem que se preocupar em botar esse povo para trabalhar, todo mundo se ajudar. Torcer para todo mundo que está no poder dar certo. Vou torcer para que os dirigentes sejam magnânimos, façam boas administrações, justifiquem os votos dos vencedores, sejam magnânimos com os vencidos e a gente tenha um Brasil mais justo porque de injustiça, não sei até que ponto vamos chegar. De qualquer forma, um voto seu público é mais do que um prêmio depois de tantos anos de vida pública.”

Ainda sobre a chance de concorrer ao Governo de Pernambuco, caso apareça um “cavalo selado”:

“Resta ter muito cuidado porque você sabe que o cavalo é incômodo no meio e perigoso nos extremos. Eu tenho medo de coice e de mordida. Vamos ver como as coisas acontecem (risos).”

Vencendo a Covid-19

“Essa é uma doença traiçoeira, diferente em cada pessoa. Por exemplo, tem um rapaz que trabalha comigo há muitos anos. Ele contraiu covid e não tomou absolutamente remédio nenhum. Passou 30 dias em repouso e ficou bom. Aí você diz ‘Bom, então vamos copiá-lo’. Pode ser que a gente copie e morra. Eu senti os sintomas e como já tive pneumonia algumas vezes, não tenho mais idade de menino, fui para o hospital. A médica e o meu médico que me acompanha disseram que deveria ser sintoma de covid. Eu me internei, o exame deu positivo e comecei a tomar os remédios.

Quatro dias depois, o hospital disse que eu estava bom e me liberou para casa. Cheguei em casa para almoçar, e quando deu 18h, comecei a sentir falta de ar e um cansaço absoluto, além de dor no corpo. Voltei no mesmo dia para o hospital e passei quase 12 dias internado, tomando antibiótico na veia, corticoide. E teve hora que eu pensei que estava complicado. O pulmão ficou comprometido, é uma doença traiçoeira.

O problema é que quando você resolve fazer o exame e sai o resultado, a doença já se instalou no seu corpo. Porque na realidade não é o vírus que mata. Ele ‘alimenta’ sua área frágil. Quem é diabético, o vírus vai em cima disso, quem tem problema de coração.. O vírus ataca a parte em que você tem comorbidade. Eu sei que passei 30 dias com a covid e foi um sofrimento. (Ficaram comprometidos) 25% de cada pulmão, mas hoje estou ótimo, graças a Deus.”

Balanço TCU

“Magno, na quarta-feira, eu fui à última sessão e fiquei felicíssimo. Fiz mais um balanço afetivo das coisas do que um balanço do que nós havíamos feito. Fizemos muita coisa: abrimos o Tribunal, que passou a participar das coisas. Nosso papel era apenas de delegacia, e isso era muito forte. O nosso lado pedagógico passou a atuar com mais intensidade, a imprensa começou a frequentar mais o TCU. Quando chegava um jornalista lá no passado era um inferno. A gente passou a dar satisfação do que fazia, discutir com a sociedade.

A primeira coisa que nós fizemos quando assumimos o Tribunal foi fazer uma grande DR (discussão de relacionamento) com todos os que nos criticavam. Todos disseram no que nós estávamos errados e muita coisa foi aproveitada. Modificamos todas as secretarias de Tribunais nos Estados, começamos a atuar mais em teletrabalho. Mesmo antes do vírus chegar, investimos nisso. Hoje, o TCU trabalha com mais de 92% do seu efetivo em casa e nós estamos produzindo mais.

Foi um ano extremamente positivo. Investimos muito em TI, muito em aprimoramento do quadro funcional e eu sei que foi uma coisa que me deixou muito satisfeito e ao que parece os funcionários e os ministros também. Foram dois anos muito profícuos e acho que saí na hora. Essa aposentadoria ao deixar a Presidência, para mim foi um coroamento.”

Briga com Dilma

“(Risos) você me conhece, Magno. Pelo amor de Deus. Aliás, esse negócio de não se dar bem não existe na minha vida. Eu me dou bem com todo mundo. Ela (Dilma) tem o temperamento diferente. Na realidade, acho que ela não tinha uma boa relação com o Congresso. Todos os presidentes da República que desafiaram o Congresso tiveram... O TCU não cassa ninguém, o Tribunal diz que as contas não foram aprovadas. Pelo contrário: quero lhe dizer que, quando apareceram as pedaladas, eu assinei um relatório - e isso é uma coisa que eu tenho documentada -, dizendo que estavam acontecendo as pedaladas e que não havia desvio de recurso público, masmanobras de tesouraria e que o Governo dissesse em quanto tempo iria corrigir esse problema.

A presidente respondeu que não tinha nada de errado, que estava tudo certo e desafiou o Tribunal, que recomendou que as contas não fossem aprovadas pelo Senado. Quem cassa é o Senado. Nós somos um órgão auxiliar. Para você ter ideia, na época em que ela foi cassada, o Congresso tinha 12 contas analisadas na prateleira do Senado. Foi algo em que a política tomou conta. Não havia uma boa condução política e foi isso o que aconteceu.”

Aposentadoria no TCU

“Essa covid nos obrigou a dar uma repensada na vida. Nós de repente ficamos presos em casa e obrigados a fazer uma reflaxão na nossa vida. Em março, abril, comecei a raciocinar que, a partir do final dessa presidência, eu teria dois anos e meio à frente do Tribunal de Contas, sabendo o que eu ia fazer e sabendo como era. Vou dedicar esse tempo que resta à minha família, aos meus netos, devolver aos filhos o tempo que não dediquei a eles. Vou procurar os amigos.

Eu estou com 72 anos e quando eu saísse do Tribunal, estaria com 75. Eu tinha duas opções: continuar no TCU e saber o que eu seria ou aproveitar a vida um pouco mais. Estou em uma fase da vida em que a gente tem que valorizar o presente. Minha ideia foi exatamente essa e acho que eu tomei uma decisão feliz e acertada. Vou voltar ao Recife na próxima semana. Tive a covid, sei o que passei. O susto que senti. A gente não fica mais com a mesma cabeça. Então, minha ideia é essa.”

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