domingo, 15 de maio de 2022

TRAJETÓRIA DE INOCÊNCIO SERÁ NARRADA EM LIVRO

Afastado da longa vida parlamentar de sucesso incontestável - 10 mandatos de deputado federal, 40 anos de Congresso Nacional - Inocêncio Oliveira ganha uma biografia: Inocêncio Oliveira, do Pajeú à Presidência da República, de autoria do jornalista José Adalberto Ribeiro, ex-colunista político dos anos dourados Diario de Pernambuco, jornal mais antigo em circulação na América Latina.

Concebido numa região de conflitos sociais que parecem sem fim, marcados cruelmente pelo rifle de Lampião, Inocêncio berrou ao mundo em Serra Talhada há 83 anos. Cresceu ouvindo histórias, de secas que mataram de fome e sede homens, mulheres e até crianças da sua geração. Ouviu também histórias de parentes que enfrentaram a fogo, olho no olho, as tropas de Virgulino Ferreira da Silva, o mais temido bandoleiro do século passado.

Inocêncio escapou da seca, de todas as agruras de menino pobre do Sertão. Estudou com afinco, mergulhou nos clássicos de gente que descreveu seu mundo de dor, como Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz e José Américo de Almeida. Num juramento sagrado aos pés do seu pai, o velho Micena, que sonhou acordado em ter um filho doutor, Inocêncio se converteu médico, salvou vidas por apenas 11 anos, de 1963 a 1974, quando não escapou da sedução da política, que estava no sangue do próprio pai e do tio Enock.

Foi logo para Brasília. Em 40 anos de Congresso, saiu da condição de deputado do baixo clero para presidente da Câmara. Além de mandatário do parlamento brasileiro, ocupou todas as funções da Mesa Diretora, de presidente a quarto-secretário, inclusive com passagem pela Primeira Secretaria, que dá ao ocupante a chave do cofre e o direito de ser chamado do prefeito da Casa.

Quando Collor foi apeado do poder e Itamar Franco assumiu, Inocêncio, na condição de presidente da Câmara dos Deputados, chegou à Presidência da República, interinamente, por 64 vezes. O velho Micena não conteve a emoção e só ali compreendeu a razão do filho ter trocado a sala de cirurgia pela vida pública no Planalto Central.

Ao longo de 40 anos de parlamento, Inocêncio também sofreu fortes ataques da mídia, até por puro preconceito, por ser negro e gago. Também foi acusado de exploração de mão de obra escrava numa fazenda do Maranhão, da qual se desfez profundamente abatido. Foi acusado, igualmente, de usar máquinas do Dnocs para perfurar poços em propriedades particulares em Serra Talhada.

Isso, entretanto, está longe de apagar as benfeitorias que fez em favor do Nordeste e de sua gente sofrida. O que se diz em Serra Talhada, berço natal dele, é que tudo que o progresso trouxe foi alavancado pelo poder e a influência de Inocêncio.

A obra, editada pela Cepe, a Companhia Editora de Pernambuco, será lançada no próximo dia 23, a partir das 16 horas, na Assembleia Legislativa.

Via Magno Martins



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