quarta-feira, 6 de julho de 2022

ENFERMARIA DO HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO É ALVO DE INTERDIÇÃO ÉTICA

Enfermaria do Hospital da Restauração é alvo de interdição ética; diretor diz que atendimento 'continua normal'
Conselho Regional de Enfermagem (Coren-PE) apontou 'riscos à integridade física dos profissionais e pacientes'. Diretor-geral do HR disse que recebeu a notícia 'com surpresa e indignação'.
Por Mário Carvalho e Priscilla Aguiar, TV Globo e g1 PE
A enfermaria do Hospital da Restauração (HR), no Derby, no Recife, foi alvo, nesta quarta (6), de uma interdição ética na emergência de trauma e nas salas vermelha e laranja 1 e 2. De acordo com o Conselho Regional de Enfermagem (Coren-PE), a medida foi tomada após a constatação de "riscos à integridade física dos profissionais e pacientes".

O diretor geral do Hospital da Restauração, Miguel Arcanjo, afirmou, em entrevista coletiva, que recebeu a notícia "com surpresa e indignação".

Também disse que, apesar da interdição ética, o grupo de enfermagem "continuou trabalhando normalmente" e o atendimento "segue normal" 

A decisão pela interdição ética na unidade, que conta com a maior emergência de trauma do Nordeste, foi publicada no Diário Oficial da União.

De acordo com o documento, é assegurada a continuidade do atendimento dos pacientes que já estão internados ou sob cuidados da equipe de enfermagem do HR.

A decisão, segundo o Coren-PE, foi tomada com base em relatórios feitos pelo Departamento de Fiscalização do conselho após recorrentes episódios de desabamento de partes do teto em setores de atendimento e internação, além de falhas nos sistemas elétricos e hidráulicos

Segundo o conselheiro do Coren-PE Gidelson Gabriel Gomes, a situação vem sendo monitorada há longo prazo, mas o relatório de sindicância que resultou na interdição ética foi elaborado após o desabamento de placas que gesso que compõem o forro do teto do HR, no dia 2 de maio, quando a água de um cano estourado atingiu pacientes.
O conselho informou que uma comissão de sindicância foi instituída e, durante inspeções, constatou "a gravidade da situação" e a "falta de documentos comprobatórios de manutenções recentes e regulares nos sistemas estruturais".


Também foi observado, segundo o Coren-PE, que não há um cronograma com planejamento para ações futuras de manutenção.

“O relatório de sindicância apontou sobretudo problemas de estrutura física, de superlotação e esses problemas na verdade acabam constituindo uma insegurança técnica do ponto de vista que pode causar danos tanto aos profissionais quanto aos pacientes que ali estão, inclusive o risco de infecção hospitalar” , afirmou Gidelson Gabriel Gomes.
O g1 teve acesso ao relatório feito pelo conselho, que aponta que “há oito anos houve a última reforma geral" e que "existe um projeto de reforma em toda a instituição mas não há previsão de início e de término da obra". Além disso, informa que a "reforma não contempla ampliação de espaço físico e número de leitos".

O documento conta ainda com imagens que mostram a superlotação e informa que, no momento da inspeção, emergência excedia 48% da sua capacidade.

“A superlotação é mais evidente nas salas laranja e vermelha, onde identifica-se a presença de pacientes acomodados em macas baixas e altas, dispostas em todas as áreas, dificultando até o deslocamento dos profissionais na prestação de assistência”, diz o relatório.

'Surpresa e indignação'
O diretor geral do HR, Miguel Arcanjo, em entrevista coletiva — Foto: Reprodução/TV Globo

O diretor geral do HR afirmou que respondeu todas as notificações enviadas pelo Coren-PE quando houve o rompimento do cano, em maio.

"Respondemos ponto a ponto. Os problemas que tínhamos mais graves foram solucionados e todas as respostas foram dadas. E a partir dai não recebemos mais nenhuma notificação", afirmou Miguel Arcanjo.

Ele disse que foi notificado da interdição ética por volta das 11h desta quarta no grupo de enfermeiros e técnicos de enfermagem.

"Recebemos com surpresa e indignação. Estamos diante de uma emergência que atende todos os politraumatizados do estado. É o único serviço de neurocirurgia, de queimados, de hemorragia digestiva, além de cirurgia geral, cirurgia vascular, cirurgia bucomaxilo facial, cirurgia traumatológica, entre outras especialidades", afirmou.

O diretor disse que o hospital tomou as medidas jurídicas cabíveis. "Estramos a tarde com uma ação judicial para derrubar essa interdição ética e funcionarmos a todo vapor. A enfermagem tem papel fundamental na assistência aos pacientes. Nós, enquanto médicos, recebemos os pacientes e fazemos as medidas cabíveis, porém a enfermagem que continua o cuidado do paciente", disse.

Ele ressaltou que o grupo de enfermagem da unidade de saúde continuou trabalhando mesmo após a decisão do Coren-PE e que o atendimento não foi afetado.

"Conversamos com o grupo de enfermagem do hospital e graças a Deus eles entendem a situação e nós continuamos a trabalhar normalmente", declarou.

Miguel Arcanjo afirmou que o número de pacientes na emergência do HR reduziu entre 35% e 40% com relação a maio.

"Pacientes estão sendo encaminhados para o antigo Hospital Alfa quando saem de protocolos cirúrgicos. Estamos com duas licitações estruturais e de equipamento que correm em paralelo", afirmou.

Problema recorrentes
Além do problema identificado em maio, ocorreram situações semelhantes no HR em outras ocasiões. Em janeiro, após forte chuva no Grande Recife , uma infiltração deixou corredores alagados na ala de trauma da unidade de saúde.

Na época, a unidade de saúde disse que o prédio do hospital tem mais de 50 anos e que essas infiltrações sempre ocorrem em dias de muita chuva.

Em abril de 2021, placas de gesso se desprenderam do teto e caíram no setor de imagem do HR, que fica no primeiro andar do hospital, onde são realizados exames de diagnósticos, como tomografia, raio x e ultrassom. Em dezembro de 2021,o forro do teto desabou na entrada da recepção da emergência pediátrica.

Maior unidade da rede
O Hospital da Restauração é o maior da rede pública de Pernambuco. A unidade de saúde é considerada referência no atendimento de casos de queimaduras graves, intoxicação por animais peçonhentos, vítimas de violência e acidentes de trânsito.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o hospital realiza, em média, 180 atendimentos por dia na emergência e que o HR possui 830 leitos registrados no Ministério da Saúde

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