terça-feira, 11 de abril de 2023

ARTIGO - A ESCOLA QUE TEMOS, A ESCOLA QUE QUEREMOS

A escola que temos, a escola que queremos

Por Drª Lucienne Jordão


Nos últimos dias as escolas vêm sofrendo com atos de violência, desestrutura emocional, medo, pânico e mudança de comportamento. A violência nas escolas vem preocupando a sociedade, pais, alunos e professores. Algumas queixas relevantes são relatadas o tempo todo, o que precisa mudar, qual o papel da escola, o papel da família. Esse descontrole emocional e bullying vivenciado pelos estudantes. O que realmente está acontecendo com esses adolescentes.  Esses jogos violentos, pensamentos suicidas, grupos motivadores para atos com esses que estamos vivendo. São muitas perguntas para melhorar as intervenções. 
   Um conjunto de estudos sobre violência escolar tem procurado quantificar a incidência da violência nas unidades escolares. No levantamento sobre as pesquisas em violência escolar Sposito (2001) assinala que os primeiros trabalhos realizados no Brasil, datados da década de 1980, procuram realizar um mapeamento de episódios de violência ocorridos no âmbito escolar, dando uma ênfase na questão da segurança e na questão da democracia na escola.
Os estudos evidenciam que os agressores são fisicamente mais fortes, reagem com maior agressividade, são provocadores, apresentam tendência à hiperatividade, manifestam pouca empatia com os demais e inclusive se mostram satisfeitos com o sofrimento que provocam. São egocêntricos, hedonistas e têm uma autoestima defensiva alta. Mantêm uma relação insatisfatória e hostil com a escola, pois não gostam dela e nem dos professores. No entanto, são populares especialmente dentro de seu grupo. Isto indica, segundo Revilla Castro (2002) uma possível congruência entre estas características e o descompromisso com a escola.
As vítimas em geral são mais frágeis fisicamente e às vezes têm uma aparência física desvalorizada socialmente. As vitimas são, por exemplo, os gordos, as pessoas pertencentes às minorias étnicas ou as que possuem alguma deficiência física ou mental. Em geral, aparentam insegurança e apresentam uma atitude submissa. Suas reações são pouco assertivas com tendência a reagir chorando e com o abandono da situação. Também, em geral, apresentam uma baixa autoestima, baixa autoconfiança e uma autoimagem negativa. Têm poucas relações com seus companheiros, são isoladas, pouco respeitadas e impopulares (REVILLA CASTRO, 2002). Olweus (1998), no entanto, distingue um tipo de vítima que denominou como provocativa, que se caracteriza por apresentar uma combinação de ansiedade, hiperatividade e agressividade em suas reações.
  A influência da própria sociedade enquanto determinante dos comportamentos violentos na escola é problematizada, entre outros, por La Taille (1998, 2000). Para o autor os valores da sociedade penetram as relações que se estabelecem na escola. 
Hoje, em uma sociedade caracterizada pelo individualismo, qualquer limite, parâmetro e diretriz são vistos como práticas autoritárias que cerceiam a espontaneidade dos alunos. Para La Taille a sociedade atual favorece uma forma de socialização individualista que pode até mesmo chegar a valorizar a violência para se atingir metas pessoais e uma representação de si mesmo como violenta é passível de valorização por elas próprias.
Em geral, são essas análises que têm, direta ou indiretamente, norteado as propostas de intervenção para a prevenção da violência nas unidades escolares.

Algumas propostas e programas de prevenção à violência
*A implantação do sistema educacional de políticas públicas, intervenções diárias diante do processo escolar, orientação familiar, projetos sociais dentro da escola, estratégias de resolução de conflitos, incentivo de estimular o jovem no mercado de trabalho no 3° ano do ensino médio, mais participação em temas desafiadores em roda de conversa, inovar com palestras atrativas com pessoas com referência diante da abordagem dos temas. 
*Incentivar aos jovens a ter um espaço para falar suas angústias e emoções. 
*Alinhar visitas domiciliares para ver de perto o contexto da família diante da demanda do aluno. 
*Promover dinâmicas reflexivas, discussões para essa relação interpessoais.

A proposta de intervenção para a prevenção da violência de jovens está delineada em 6 eixos estruturantes
1- a adequação do ensino às tarefas evolutivas da adolescência. Para tanto se procura estimular o pensamento abstrato e a autonomia do adolescente. Busca-se incentivar no adolescente a noção de direitos e deveres e a importância de ser responsável. A ideia é tornar os jovens protagonistas das situações de aprendizagem; 
2- a redução das condições de risco psicossocial e o desenvolvimento das competências que protegem os jovens como a adaptação ao sistema escolar, a integração em grupo de pares e o desenvolvimento da competência socioemocional; 
3- a estimulação para que ocorram mudanças cognitivas, afetivas e de conduta. Procura-se desenvolver nos jovens atitudes que os levem a incorporar a tolerância e repudiar a violência na sua própria identidade e ensinar a eles a competência de resolver conflitos; 
4- a discussão sobre diversas situações de intolerância para que os jovens aprendam a detectar e combater as condições que levam a isso e como superá-las; 
5- o desenvolvimento nos jovens da percepção da intolerância e da violência como uma grave ameaça aos direitos humanos; 
6- a implantação e o incentivo da democracia escolar.
Sabemos que a violência muita das vezes começa com o bullying que NÃO É BRINCADEIRA, a partir de projetos como estes pode se afirmar diante da ludicidade esclarecedora, uma possibilidade de incentivar os jovens a prática de convivência, empatia e respeito pelo outro.
Diante das intervenções continuadas da psicologia nas escolas nesse enfrentamento é de suma importância o direcionamento do psicólogo nesse suporte diante das temáticas de conflitos, aceitação e evolução. 
Dessa forma, sugere-se que as intervenções sejam promovidas em todas as escolas sejam privadas ou públicas. Sugere-se esses projetos não fiquem só no papel mas seja inserido na prática diária desses estudantes.

* Dra Lucienne Jordão é Psicóloga Clínica, Psipedagoga Clínica, hospitalar e Institucional e Especialista em autismo/ABA









    

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