O deputado estadual João Paulo, em entrevista à Folha, trouxe à tona um sentimento de desilusão que permeia as bases do Partido dos Trabalhadores (PT) no Recife. Suas declarações expõem uma mágoa crescente entre os militantes do partido, que se sentiram excluídos na decisão sobre a escolha do candidato a vice-prefeito na chapa de João Campos. O fato de o escolhido ter sido do PCdoB, e não do PT, parece ter deixado a militância "triste e abalada", conforme descreveu o parlamentar, revelando um descontentamento que se espalha como um sopro gelado nas fileiras petistas.
João Paulo, que há décadas se destaca como uma das figuras mais influentes do PT em Pernambuco, não escondeu sua preocupação com o cenário atual. Nas suas palavras, o desalento com a escolha do vice-prefeito é apenas uma parte de um problema maior: a rejeição crescente ao prefeito João Campos. Durante suas caminhadas e conversas com eleitores, o deputado afirma ter ouvido muitas vezes que eles não têm a intenção de votar novamente em Campos nas próximas eleições. Esse sentimento, segundo ele, não é fruto apenas das recentes decisões políticas, mas está também enraizado em memórias de episódios eleitorais passados que ainda ressoam entre os petistas.
Um desses episódios, que João Paulo fez questão de rememorar, foi a eleição estadual de 2022, quando o PT, ao apoiar a candidatura de Danilo Cabral, viu sua base se fragmentar. Muitos petistas optaram por apoiar Marília Arraes, o que resultou em uma votação pífia para Cabral, que por pouco não ficou em último lugar. A traição nas urnas só não foi completa por uma diferença mínima de oito mil votos, mas foi suficiente para evidenciar uma cisão interna significativa. João Paulo teme que esse "efeito Danilo" possa se repetir agora nas eleições municipais, com os petistas mais uma vez decidindo não seguir as orientações da cúpula do partido.
O que se delineia, segundo o deputado, é uma tensão que desafia a coesão do PT no Recife. A lealdade partidária, que sempre foi um pilar do partido, está sendo posta à prova em um momento crítico. As bases do PT, que historicamente sempre tiveram um papel decisivo nas eleições da capital pernambucana, agora parecem estar à deriva, desencantadas com as decisões recentes e com o rumo que a campanha de João Campos tem tomado. As palavras de João Paulo soam como um alerta: a fragmentação do apoio petista, agravada pela escolha do vice do PCdoB, pode ter consequências imprevisíveis nas próximas eleições.
O sentimento de traição e a falta de representatividade na chapa de Campos são temas que permeiam as conversas entre os militantes, gerando uma inquietação que pode resultar em desdobramentos inesperados. As tensões internas no PT recifense indicam que o partido poderá enfrentar desafios consideráveis para unificar suas bases em torno de um único projeto político. A entrevista de João Paulo não deixa dúvidas de que, se o partido não agir rapidamente para sanar essas feridas, o futuro da legenda na capital pode estar em risco, com efeitos que reverberarão muito além das urnas de 2024.
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