Blog do Edney
Por Edney Souto
POLARIZAÇÃO NAO FUNCIONOU NO RECIFE
A polarização política, que ganhou força nas eleições de 2018 no Brasil com a divisão clara entre direita e esquerda, ainda não se consolidou como uma estratégia eficaz no cenário eleitoral do Recife. Enquanto em outras regiões do país o embate entre bolsonaristas e lulistas domina o debate, a capital pernambucana segue como uma exceção à regra. A eleição de 2020 e o cenário estadual de 2022 são exemplos claros de como a polarização não encontrou terreno fértil na cidade.
Eleição de 2020: João Campos e a vitória fora da polarização
Na eleição municipal de 2020, João Campos (PSB) sagrou-se vencedor sem ser fruto de nenhum dos polos da polarização. Apesar da candidatura de Marília Arraes (PT), que contava com o apoio do ex-presidente Lula, e da delegada Patrícia Domingos, que recebeu apoio de Jair Bolsonaro, João Campos trilhou um caminho independente. Ele se beneficiou, principalmente, da força política do PSB em Pernambuco e da imagem de continuidade da gestão de seu pai, o ex-governador Eduardo Campos.
Mesmo com o envolvimento direto de figuras de peso da polarização nacional — Lula gravou vídeos pedindo votos para Marília, e Bolsonaro participou de uma live em apoio a Patrícia Domingos —, a estratégia polarizada não conquistou a preferência do eleitorado recifense. João Campos venceu no segundo turno, em uma disputa acirrada contra sua prima Marília Arraes, mas o fator decisivo foi sua capacidade de construir uma campanha centrada em questões locais e menos pautada pelo embate nacional.
A eleição estadual de 2022 e o enfraquecimento da polarização
O fenômeno da polarização também não funcionou nas eleições estaduais de 2022. Naquele ano, o lulismo tinha dois candidatos fortes: Danilo Cabral (PSB) e Marília Arraes, que concorreu pelo Solidariedade após sua saída do PT. Ambos se apresentaram como herdeiros do legado de Lula, enquanto Anderson Ferreira (PL) representava o campo bolsonarista.
A falta de união no campo lulista enfraqueceu a polarização no estado. A divisão de votos entre Marília e Danilo comprometeu as chances de ambos no primeiro turno, enquanto Raquel Lyra (PSDB), que não se alinhou com nenhum dos polos, capitalizou a insatisfação do eleitorado com a polarização. No segundo turno, Raquel derrotou Marília, e a estratégia de polarização mais uma vez mostrou-se ineficaz em Pernambuco.
2024: João Campos e a liderança sem polarização
À medida que se aproxima a eleição municipal de 2024, o cenário no Recife parece repetir o padrão observado em 2020 e 2022. João Campos continua a liderar as pesquisas de intenção de voto, novamente com uma campanha independente de qualquer polarização nacional.
Mesmo que o PT apresentasse um candidato próprio, é improvável que houvesse uma mudança significativa no quadro eleitoral. O próprio partido parece reconhecer essa realidade. Como apontado por Ciro Gomes em uma análise recente, o PT no Recife "preferiu terceirizar a vitória" em vez de correr o risco de acumular mais uma derrota nas urnas. Desde 2012, o partido vem perdendo consecutivas eleições na capital para o PSB, e a decisão de não se lançar com uma candidatura própria em 2024 reflete esse desgaste.
Dessa forma, a eleição de 2024 no Recife reforça a tendência de que a polarização não é uma fórmula bem-sucedida na capital pernambucana. João Campos, com seus méritos e apoio local, tem se mantido à frente, consolidando uma liderança baseada em fatores regionais e administrativos, e não em alinhamentos nacionais polarizados.
Um Recife avesso à polarização
O Recife se destaca como uma exceção no atual cenário político brasileiro. Enquanto em outras regiões a polarização entre lulistas e bolsonaristas parece determinar o rumo das eleições, a capital pernambucana resiste a essa tendência. Em 2020, João Campos venceu com uma campanha independente; em 2022, Raquel Lyra superou a divisão entre lulistas e bolsonaristas; e, agora em 2024, João novamente parece liderar fora dos extremos.
A política recifense, portanto, demonstra que a polarização, apesar de ser uma estratégia poderosa em outras partes do país, ainda não encontrou espaço para florescer na capital de Pernambuco. A tendência é que essa realidade continue a influenciar o cenário político local nos próximos anos. É isso!
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