A tarde começou com a movimentação habitual nas dependências da Escola Municipal Edite Leite, em Tabira. Mas, para uma mãe e sua filha, o que deveria ser uma rotina acabou se tornando uma experiência que mescla indignação e coragem. A criança, que já vinha demonstrando uma resistência crescente em ir para a escola, foi levada até lá mais uma vez, mas com uma diferença: sua mãe decidiu observar de perto o que realmente se passava entre aquelas paredes.
A menina, diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sofria ao enfrentar a jornada escolar, sempre com um relato novo, inquietante e inesperado para a mãe. E não eram apenas aquelas queixas vagas e habituais de crianças que ainda se ajustam ao ambiente escolar; seus relatos eram de um teor alarmante: “Ela tranca eu no quartinho,” dizia a menina, num misto de medo e desamparo. A mãe, determinada a desvendar a causa daquele receio, tomou uma atitude audaciosa: fingiu ir embora, mas se manteve atenta, espiando o comportamento de quem deveria cuidar, educar e acolher a sua filha.
E, então, o flagrante. A cena que jamais esperava presenciar tomou forma diante de seus olhos. A diretora da escola, identificada como Joseane Barbosa, foi vista conduzindo a criança com força e impaciência, empurrando-a para dentro de uma carteira escolar de forma tão abrupta que o choque não deixou espaço para dúvidas. Estupefata, a mãe registrou o momento e confrontou a diretora. Mas a resposta não trouxe alívio, nem uma desculpa – apenas a negação categórica, como se a realidade pudesse ser apagada ou distorcida ao sabor das palavras.
A gravidade da situação não estava só na violência física. Para uma criança autista, cada aspecto da rotina e das relações é fundamental para seu desenvolvimento, e o ambiente escolar deve ser um dos espaços mais acolhedores e seguros. Ao contrário, a experiência daquela menina revelava um cenário de descuido e insensibilidade, onde o transtorno que demanda atenção especial se tornava um fardo, uma justificativa para o trato ríspido e para a condução apressada, sem o menor traço de paciência ou empatia.
Essa mãe, então, viu-se diante de uma situação em que não havia escolha além de recorrer à justiça e buscar garantias de que o direito de sua filha ao acolhimento e ao respeito seja resguardado. Ela prometeu não se calar e tomar todas as providências possíveis, na esperança de que sua ação vá além de proteger apenas a própria filha, mas que possa também criar uma barreira para qualquer outro tratamento inadequado que, por ventura, outras crianças venham a sofrer.
As vozes que se levantam a partir dessa denúncia trazem para o debate público a necessidade urgente de uma revisão rigorosa dos métodos de acolhimento e de condução escolar para crianças com TEA, de uma formação sensível e especializada para profissionais que estejam no front da educação e de uma vigilância atenta da sociedade sobre as práticas adotadas dentro das escolas. Em Tabira, a história desta mãe e de sua filha ecoa como um apelo: que ninguém precise agir às escondidas para garantir o direito fundamental de ser tratado com respeito e humanidade.
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