O avanço nas negociações entre Pablo Marçal e o União Brasil vem causando um turbilhão dentro do partido, colocando à prova a unidade de sua direção nacional. Marçal, que ganhou destaque ao quase alcançar o segundo turno na eleição para prefeito de São Paulo, é visto por alguns líderes da legenda como um ativo valioso. Contudo, a possível filiação do ex-coach, que já declarou interesse em disputar a Presidência da República, levanta tensões entre diferentes alas do partido.
A proximidade de Marçal com a cúpula da legenda, especialmente com Antonio Rueda e ACM Neto, não é suficiente para garantir sua entrada. A resistência é palpável, especialmente entre os membros que enxergam em Ronaldo Caiado, governador de Goiás, o nome ideal para a corrida presidencial de 2026. A intenção de Marçal de traçar um projeto próprio não encontra eco em um partido que busca um alinhamento sólido em torno de Caiado, cujo nome deve ser lançado como pré-candidato no início do próximo ano. Para Marçal, que deseja protagonismo, ser "soldado do partido" pode não ser um papel atrativo.
Entre os opositores à filiação, vozes como as de Pauderney Avelino e Kim Kataguiri trazem à tona uma visão mais crítica. Para Avelino, o União já tem um nome competitivo para a disputa presidencial, o que tornaria a filiação de Marçal desnecessária. Kataguiri, por sua vez, vai além, colocando em xeque a credibilidade do ex-coach ao relembrar episódios polêmicos, como o laudo falso divulgado contra Guilherme Boulos, o que resultou em uma investigação na Polícia Federal. Esse histórico, somado à possibilidade de novas complicações jurídicas, reforça a oposição interna.
Embora sua performance eleitoral em São Paulo tenha chamado a atenção, aproximando-se de figuras como Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, Marçal ainda enfrenta obstáculos que transcendem os números. O episódio envolvendo a eleição de 2022, quando teve sua candidatura a deputado federal invalidada, também paira como sombra sobre sua trajetória. O imbróglio jurídico gerado pela disputa dentro do PROS naquele ano resultou na exclusão de seu nome da corrida presidencial e, posteriormente, na invalidação de sua eleição como deputado.
Ainda que o União Brasil tenha demonstrado interesse em Marçal no passado, especialmente durante a disputa municipal em São Paulo, a aliança com Ricardo Nunes acabou prevalecendo. Agora, com a expectativa de uma nova filiação e o desejo de Marçal de consolidar-se como liderança nacional, o partido enfrenta um dilema estratégico. Ao mesmo tempo em que busca atrair um nome que traga capital eleitoral, precisa assegurar que sua estrutura interna e seu projeto político maior não sejam desestabilizados.
Enquanto isso, as movimentações nos bastidores continuam intensas, sem qualquer definição concreta. A entrada de Marçal no União Brasil, se concretizada, pode abrir um novo capítulo de embates dentro do partido, em um cenário já marcado pela convivência entre alas que apoiam o governo e aquelas que desejam apresentar uma oposição consistente. A convivência de um possível projeto próprio de Marçal com a candidatura de Caiado parece ser o maior desafio à frente, deixando no ar a pergunta sobre o quanto o União Brasil está disposto a ceder em nome de uma aposta que, até o momento, permanece cercada de incertezas.
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