A investigação, nascida durante a produção de um livro sobre a história da UPE, revelou, além de histórias, um desejo latente por justiça e memória. Mergulhando em arquivos históricos, documentos da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara e com o apoio de movimentos sociais como o Tortura Nunca Mais de Pernambuco, o estudo desvelou o impacto das legislações ditatoriais como o AI-5 e o Decreto-Lei nº 477 sobre a vida de quem atuava em movimentos de resistência. A trajetória de Rosane Alves Rodrigues, militante do movimento estudantil e exilada, interrompida abruptamente pelos ventos autoritários, será reconhecida com um Diploma de Bacharel em Medicina In Memoriam. Para ela, e para os demais homenageados, a história será resgatada, transformando uma dor que o tempo não apagou em um ato de reconhecimento.
Em nome dos estudantes e servidores que sofreram na pele as marcas da repressão, o professor Carlos André Moura reflete sobre o significado dessa reparação, lembrando que, se hoje os debates universitários ocorrem em liberdade, isso se deve àqueles que se dedicaram a lutar pelo direito de expressão em um dos períodos mais fechados da história republicana brasileira. Palavras como essas ecoam o compromisso da UPE com a democracia, e a reitora Socorro Cavalcanti reitera esse posicionamento, reconhecendo a importância do papel da instituição em consolidar valores democráticos e em prestar tributo àqueles que enfrentaram o peso da ditadura.
Na cerimônia marcada para o dia 25 de novembro, no Auditório Clélio Lemos, na Faculdade de Administração e Direito da UPE, serão entregues diplomas aos homenageados e, simbolicamente, uma placa com seus nomes será fixada na Reitoria da UPE, assegurando que o legado de resistência permaneça como uma lembrança vívida. Para Amparo Araújo, coordenadora do Tortura Nunca Mais em Pernambuco, este é um passo de extrema importância na luta por memória e justiça. Netos, filhos e esposos de pessoas desaparecidas ou silenciadas pela repressão ainda hoje lutam pelo direito de dar adeus a seus mortos, de ver os nomes dos seus resgatados e honrados. Essa homenagem representa mais do que um ato formal – é um símbolo de que a universidade também está ao lado dos que clamam por verdade.
As histórias de Enildo Galvão Carneiro Pessoa, Francisco de Sales Gadelha de Oliveira, Ilmar Pontual Peres, Javan Seixas de Paiva, José Almino Arraes de Alencar Pinheiro e tantos outros se entrelaçam nesse tributo coletivo. Com o Diploma da Resistência, cada um deles se verá representado em um monumento dedicado àqueles que não puderam concluir seus sonhos devido à repressão. Para a Universidade de Pernambuco, essa ação se inscreve como uma reafirmação dos princípios de liberdade e como um gesto necessário, não só para aqueles que ali viveram, mas também para as gerações que ali passam e ainda passarão, lembrando que a democracia é um legado a ser protegido e cultivado diariamente.
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