segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

A OXIDAÇÃO E FALTA DE MANUTENÇÃO FORAM AS CAUSAS PRINCIPAIS DO DESABAMENTO DA IGREJA DO MORRO

A tragédia que abalou o Morro da Conceição em agosto deste ano ganhou novos contornos com a divulgação do laudo técnico elaborado pelo Instituto de Criminalística Armando Samico, da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco. O documento, obtido com exclusividade, revelou que o desabamento do teto da Igreja do Morro, que deixou 25 feridos e ceifou duas vidas, teve como principais causas a oxidação da peça de apoio metálico da quinta treliça da estrutura e a falta de manutenção preventiva. 

O laudo apresenta uma análise detalhada da estrutura da igreja, indicando que a peça metálica, conhecida como console, localizada na parede direita, apresentava elevado nível de oxidação nos chumbadores e parafusos. Esses elementos, responsáveis por fixar a treliça à parede, perderam aderência, resultando na queda progressiva da cobertura. A investigação aponta ainda que a infiltração de água, que comprometeu a estabilidade da peça, não foi devidamente contida pela manta asfáltica aplicada na estrutura. Embora destinada a prevenir a penetração de água, a manta não impediu a corrosão e, junto com o peso adicional de placas solares instaladas no teto, desempenhou um papel secundário no colapso.

O relatório ressalta que, além da quinta treliça, as demais estruturas metálicas que compunham a cobertura estavam, em sua maioria, preservadas e fixadas corretamente. Contudo, por estarem interligadas à treliça defeituosa, também ruíram quando esta perdeu estabilidade. A análise técnica foi meticulosa, com registros fotográficos e gráficos que detalham o estado de cada componente estrutural. A peça responsável pelo colapso, segundo o perito Dr. Fernando Luiz da Silva, já apresentava deformações sutis antes do desabamento, indicando uma falha progressiva que culminou na tragédia.

O impacto do acidente foi amplificado pelo momento em que ocorreu. Embora o desabamento tenha acontecido fora do período da festa de Nossa Senhora da Conceição, evento que atrai milhares de fiéis ao santuário, as consequências poderiam ter sido ainda mais graves se o teto tivesse cedido durante as celebrações. Este ano, o evento alcança sua 120ª edição, reunindo uma multidão de devotos que, até a última noite, já somavam cerca de 400 mil pessoas.

O inquérito policial, conduzido pela Delegacia do Vasco da Gama, também foi alimentado pelas conclusões do laudo pericial. As investigações seguem para determinar responsabilidades, sobretudo no que diz respeito à ausência de manutenção preventiva que poderia ter evitado o desabamento. A oxidação progressiva e as infiltrações apontam para uma negligência estrutural que, segundo especialistas, é comum em edificações com estruturas metálicas antigas e sem inspeções regulares.

Apesar da tragédia, a reconstrução do teto foi concluída com agilidade pelo Governo do Estado, permitindo que as celebrações deste ano fossem realizadas em segurança. A nova estrutura, moderna e reforçada, tornou-se um símbolo de superação para a comunidade de fiéis que frequenta o santuário. No entanto, o episódio lança luz sobre a necessidade de políticas públicas que garantam a preservação de edificações históricas e a segurança dos espaços religiosos.

A Igreja do Morro da Conceição, localizada no coração do Recife, carrega não apenas o peso da tradição religiosa, mas também o da memória coletiva de seus frequentadores. O desabamento expôs fragilidades que, até então, estavam ocultas sob a beleza e a imponência do templo. A tragédia, que já deixa marcas profundas nas famílias das vítimas e nos sobreviventes, ressoa como um alerta para outras igrejas e construções históricas que enfrentam desafios semelhantes em sua manutenção.

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