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Por Edney Souto
UM ERRO ESTRATÉGICO DE JOÃO CAMPOS NA PROJEÇÃO ESTADUAL DO PSB, NÃO OBSERVAM AS REALIDADES REGIONAIS, FRAGILIZANDO OS NÚMEROS PROPAGADOS
João Campos, prefeito do Recife, consolidou sua liderança na capital com uma reeleição histórica, obtendo mais de 78% dos votos válidos. Contudo, o êxito municipal não parece traduzir-se em força estadual. Ao tentar ampliar a coligação que o sustenta no Recife para as dinâmicas políticas de Pernambuco como um todo, João enfrenta dificuldades evidentes. A estratégia subestima as particularidades locais e revela uma desconexão entre o discurso político do PSB e as alianças que realmente governam o interior.
Enquanto o Recife funciona como o epicentro da narrativa socialista no estado, os municípios pernambucanos seguem uma lógica própria. As alianças políticas fora da capital são moldadas por lideranças regionais que privilegiam interesses locais, muitas vezes divergentes das orientações de partidos ou figuras da capital. João Campos parece ignorar essa complexidade ao propor que a força de sua base municipal pode ser replicada em um cenário estadual cada vez mais fragmentado.
União Brasil: um exemplo de desalinhamento político
Um dos casos mais emblemáticos da fragilidade dessa estratégia está no União Brasil. Embora o partido componha a base de João Campos no Recife, a realidade no interior é bem diferente. Dos nove prefeitos eleitos pela sigla, sete estão alinhados à governadora Raquel Lyra, adversária política de Campos. Apenas um deles recebeu apoio do prefeito recifense, enquanto outro já solicitou sua desfiliação.
Figuras como Lucielle Laurentino (Bezerros) e Gilvandro Estrela (Belo Jardim), ambos do União Brasil, são exemplos de lideranças municipais que, apesar de filiadas a um partido da base do PSB no Recife, optam por se alinhar à governadora. Esse comportamento reforça que a força política da capital tem limites quando aplicada aos interiores.
A fragmentação se estende a outros partidos da base socialista
Essa dinâmica não é exclusiva do União Brasil. Partidos como PV, Republicanos e MDB, que compõem a base de Campos no Recife, enfrentam situações semelhantes. Prefeitos como Armando Pimentel (PV), de Itambé, e Dimas Natanael (Republicanos), de Lagoa do Itaenga, Dr. Edézio (PV) Bom Conselho seguem alinhados a Raquel Lyra, mostrando que a governadora conseguiu construir uma base robusta que transita por diversos espectros partidários.
A lógica dessas alianças regionais é clara: enquanto no Recife a política se organiza em torno da liderança de João Campos, os municípios operam de forma autônoma, priorizando articulações que atendem às suas necessidades específicas. Isso torna a tentativa de Campos de projetar sua hegemonia municipal para o estado um esforço infrutífero.
Os números robustos de Raquel Lyra
Enquanto João Campos busca sustentar sua narrativa, Raquel Lyra consolida sua posição. A governadora conta com o apoio direto de 126 prefeitos, distribuídos por todas as regiões do estado, incluindo 33 do PSDB, partido que lidera. Essa ampla base de apoio não apenas fortalece a gestão estadual, mas também evidencia a capacidade de articulação de Raquel, que atrai lideranças regionais de partidos que, na capital, orbitam em torno de Campos.
A vitória de Raquel em 2022 foi significativa porque simbolizou uma mudança de ciclo político em Pernambuco, marcando o fim da hegemonia socialista no estado. Desde então, a governadora tem conseguido fortalecer sua base, enquanto o PSB luta para reconquistar o espaço perdido.
Desafios de João Campos: do Recife ao futuro estadual
Apesar das dificuldades, João Campos continua sendo uma das principais apostas do PSB para o futuro. Sua capacidade de adaptação já foi testada quando, em 2020, reinventou o partido para vencer as eleições no Recife. Agora, com os olhos voltados para 2026, João precisa não apenas consolidar sua liderança na capital, mas também criar um projeto político que dialogue com todo o estado.
Essa tarefa, no entanto, não se inicia em 2026, mas já em 2025. João sabe que os erros acumulados ao longo das gestões anteriores, especialmente durante os mandatos de Paulo Câmara, foram determinantes para a derrota do PSB em 2022. A missão de Campos é apresentar uma versão renovada do partido, capaz de resgatar a confiança dos pernambucanos e de construir pontes com lideranças regionais.
A força das redes sociais e as reaproximações políticas
João é forte nas redes sociais e utiliza essa plataforma para reforçar sua imagem e conectar-se com a população. Contudo, em um estado marcado por dinâmicas locais tão distintas, isso por si só não é suficiente. Sua habilidade de articulação política será fundamental, especialmente para ampliar a base socialista em Pernambuco.
Nos últimos anos, Campos conseguiu trazer de volta figuras importantes como Miguel Coelho e Marília Arraes, ambos ex-aliados que haviam rompido com o PSB. Esse movimento demonstra sua capacidade de negociar e reconstruir alianças, mas o verdadeiro teste será ampliar essa estratégia para os interiores, onde as forças regionais seguem predominando.
Um futuro promissor, mas desafiador
João Campos é uma aposta não apenas para o governo estadual em 2026, mas também para o futuro do PSB em âmbito nacional, no pós-Lula. Essa responsabilidade exige dele não apenas a manutenção de sua popularidade no Recife, mas a criação de uma narrativa que dialogue com as diferentes regiões de Pernambuco.
O prefeito terá de equilibrar as expectativas de seu partido, reconfigurar a imagem do PSB no estado e enfrentar a força crescente de Raquel Lyra. Se repetir o sucesso que teve no Recife, João pode não apenas recuperar a força socialista em Pernambuco, mas também se consolidar como uma das maiores lideranças políticas de sua geração. Digo, não será nada fácil, é isso!
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