O calor abafado da manhã no Ibura não foi suficiente para camuflar a inquietação de quem buscava, desesperadamente, por atendimento na Policlínica e Maternidade Professor Arnaldo Marques. O cheiro de desinfetante misturado ao de um ambiente que clama por manutenção era apenas um dos indícios da precariedade que tomou conta do lugar. Camilla Gonçalves, uma jovem de 22 anos, carregava nos olhos marejados e na voz embargada o peso de um sistema que falhou em acolhê-la. Depois de sofrer um aborto, foi conduzida ao desconforto da espera. O relógio marcava nove da manhã quando chegou, mas a ausência de uma médica para realizar os exames necessários lhe impôs um gasto extra em uma clínica particular.
No banheiro feminino, a falta de água era um emblema da indignidade. Uma maternidade sem o básico, onde mães, pais e bebês convivem com a escassez. Washington Macedo, que acompanhava sua filha recém-parida, relatava, com um tom de indignação, a ausência de lençóis para os recém-nascidos. “Trouxemos de casa. Não dava pra deixar o bebê sem nada”, disse, apontando para o pequeno embrulhado em um pano florido trazido às pressas.
A fiscalização promovida pelo vereador Gilson Filho encontrou um cenário que parecia saído de uma narrativa de abandono. Os corredores da unidade ecoavam as reclamações de pacientes que se sentiam esquecidos por um sistema que deveria protegê-los. Copos descartáveis para água eram itens ausentes, obrigando os pacientes a comprar fora. Setores como o de exames funcionavam de maneira intermitente. Nos dias pares, como na terça-feira, as portas estavam fechadas para ultrassons e exames laboratoriais, enquanto nos dias ímpares os serviços eram restabelecidos, em uma espécie de loteria de saúde.
Apesar de tudo, o vereador fez questão de separar as responsabilidades. “Os médicos não têm culpa. Eles estão aqui, fazendo o possível com o que têm. O problema é a falta de estrutura, de gestão”, destacou, enquanto observava as instalações desgastadas. Sua presença na unidade não se restringiu à crítica; foi também um ato de denúncia e de alerta para as autoridades municipais.
Gilson reafirmou o compromisso de manter a fiscalização como ferramenta de transformação, mas as paredes daquela policlínica pareciam carregar as marcas de anos de descaso. A saúde, muitas vezes evocada como prioridade nas promessas políticas, ali parecia distante, como um direito esquecido.
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