quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Na Lupa, Quinta, 30/01/2025, Blog do Edney

NA LUPA 🔎 
BLOG DO EDNEY 


Por Edney Souto


DISPUTA PELA PRESIDÊNCIA DA AMUPE EXPÕE RACHA ENTRE PREFEITOS, COM TENSÃO, INCERTEZAS E AMEAÇA O LEGADO DA PRINCIPAL ENTIDADE MUNICIPALISTA DE PERNAMBUCO 

A eleição para a presidência da Associação Municipalista de Pernambuco (AMUPE), marcada para o dia 27 de fevereiro, tem revelado uma disputa intensa e imprevisível, com articulações políticas que ultrapassam as questões municipais e refletem o jogo de forças para 2026. O que deveria ser um pleito de consenso e fortalecimento do municipalismo transformou-se em uma corrida acirrada, colocando em xeque o legado de estabilidade deixado pelo ex-presidente José Patriota.  

Durante dez anos à frente da entidade, Patriota consolidou um modelo de sucessão baseado no diálogo e na construção de candidaturas únicas, evitando conflitos internos e garantindo um ambiente de cooperação entre os prefeitos. No entanto, sua ausência na condução do processo tem levado a AMUPE a uma disputa fratricida, com múltiplos candidatos e interesses divergentes, aumentando as tensões entre os gestores municipais.  

Da harmonia ao racha: o fim da unidade na AMUPE

A sucessão na presidência da AMUPE sempre ocorreu de forma negociada, sem grandes embates. Em 2022, José Patriota garantiu a eleição por consenso da prefeita de Surubim, Ana Célia, e, em 2023, articulou um acordo que permitiu a gestão compartilhada entre Márcia Conrado (PT), prefeita de Serra Talhada, e Marcelo Gouveia (Podemos), ex-prefeito de Paudalho. O arranjo estabeleceu que Márcia ficaria no cargo até o fim de 2023 e Marcelo assumiria em 2024.  

No entanto, com a aproximação da nova eleição, Marcelo Gouveia decidiu buscar a reeleição, o que gerou reações negativas entre os prefeitos. O principal motivo de insatisfação é sua pré-candidatura a deputado federal em 2026, o que levaria a um abandono precoce do cargo na AMUPE. Para muitos gestores, essa postura demonstra um uso político da entidade, desviando seu foco do fortalecimento do municipalismo para interesses eleitorais individuais.  

A rejeição ao nome de Marcelo abriu espaço para novos concorrentes, como o prefeito de Aliança, Pedro Freitas (PP), que conta com o apoio do deputado Eduardo da Fonte (PP). A prefeita Márcia Conrado, que já esteve à frente da AMUPE, também é cotada, mas enfrenta resistência entre prefeitos que defendem a renovação na liderança da associação. Além deles, surgem ainda os nomes do prefeito de Petrolândia, Fabiano Marques (Republicanos), e do ex-presidente da AMUPE e ex-prefeito de Escada, Jandelson Gouveia (PL), que, ao lançar sua candidatura, envia um recado direto: se Marcelo Gouveia pode disputar a reeleição, ele também pode.  

O cenário de divisão preocupa os prefeitos, que temem que uma disputa acirrada prejudique a credibilidade da entidade. O prefeito Roberto Asfora (PP), de Brejo da Madre de Deus, expressou sua insatisfação:  
“Deve ter algum interesse acima das questões municipais que não estão bem claros. Sou prefeito pela quinta vez e nunca vi isso. Os prefeitos deveriam se reunir para conversar e debater sobre o que é melhor para a AMUPE.”  

Orlando Jorge (Podemos), prefeito de Limoeiro, também lamentou o clima de fragmentação:  
Lamento essa postura de se colocar a eleição de 2026 numa instituição que tem de construir a unidade em torno do municipalismo. É sofrível ver todo dia surgindo um candidato.”  

Já Mano Medeiros (PL), prefeito de Jaboatão dos Guararapes, alertou para os riscos políticos da disputa:  
A nossa pauta é o municipalismo, mas o que estamos vendo são movimentos de partidos e pessoais. Isso é muito ruim para a AMUPE. O melhor caminho é o consenso e alguém terá que recuar em nome da importância dessa instituição que luta pelos municípios.”  

O fator Eduardo da Fonte e a candidatura de Pedro Freitas

Diante do enfraquecimento de Marcelo Gouveia, o nome de Pedro Freitas ganhou força, impulsionado por Eduardo da Fonte, líder do PP em Pernambuco. O deputado tem articulado apoios entre prefeitos insatisfeitos com a atual gestão da AMUPE e busca consolidar um candidato alinhado aos seus interesses políticos.  

Nos bastidores, a governadora Raquel Lyra já é vista como uma aliada estratégica de Pedro Freitas, o que reforça ainda mais seu favoritismo. A aliança entre o PP e o governo estadual pode consolidar um novo eixo de poder dentro da AMUPE, alterando os rumos da entidade nos próximos anos.  
A movimentação de Eduardo da Fonte foi reforçada por um encontro recente entre ele, o deputado federal Waldemar Oliveira e o presidente estadual do Avante, Sebastião Oliveira. A reunião gerou especulações sobre uma possível articulação para enfraquecer a candidatura de Márcia Conrado, que sempre teve proximidade com Sebastião. Em uma postagem enigmática no Instagram, Sebastião afirmou que a conversa com Eduardo da Fonte teria sido apenas um "reencontro", mas nos bastidores há sinais claros de que a aliança pode estar se redesenhando.  

Waldemar Oliveira, em entrevista, sugeriu que Pedro Freitas e Márcia Conrado poderiam compor uma chapa única para evitar um embate direto, mas essa possibilidade ainda não foi confirmada.  
"Os nomes mais cotados para a AMUPE são do Pedro, prefeito de Aliança, e de Márcia, prefeita de Serra Talhada. Podendo até eles compor uma mesma chapa.”  


O papel da Comissão Eleitoral e os desafios da votação  

A eleição da AMUPE será conduzida por uma Comissão Eleitoral formada pelos prefeitos Lula Cabral (Cabo de Santo Agostinho), Joel Gonzaga (Feira Nova) e João Martins (João Alfredo). O grupo terá o desafio de garantir a lisura do processo, que já nasce envolto em polêmicas e disputas acirradas.  

O edital de convocação já foi publicado, e as chapas podem ser inscritas até o dia 17 de fevereiro. O pleito acontecerá virtualmente, mas a AMUPE disponibilizará computadores com internet em sua sede para os prefeitos que preferirem votar presencialmente. A chapa eleita comandará a entidade no biênio 2025-2027.  

O futuro da AMUPE e o risco de um enfraquecimento institucional

Com a eleição se aproximando e as articulações cada vez mais intensas, a AMUPE vive um momento de incerteza. A disputa interna ameaça a unidade que sempre caracterizou a entidade e levanta questionamentos sobre sua capacidade de manter-se como um espaço de defesa dos interesses municipais, sem interferências partidárias.  

A possível ascensão de Pedro Freitas com o apoio de Eduardo da Fonte pode redesenhar o cenário político da AMUPE e fortalecer ainda mais a influência do PP entre os prefeitos pernambucanos. Já Márcia Conrado, caso consiga viabilizar sua candidatura, representaria uma continuidade da gestão compartilhada que marcou os últimos anos.  

Seja qual for o desfecho da eleição, uma coisa é certa: a AMUPE nunca esteve tão dividida. O que antes era um espaço de consenso e articulação agora se tornou um campo de batalha político, com reflexos que podem ir muito além do municipalismo. O legado de José Patriota está em jogo, e a forma como os prefeitos conduzirão essa disputa definirá o futuro da entidade pelos próximos anos. É isso!

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