A cidade do Recife enfrentou um dos dias mais caóticos dos últimos tempos. Em apenas três horas, o volume de chuva que normalmente cairia ao longo de um mês desabou sobre a capital pernambucana, transformando ruas em rios, arrastando carros, interditando viadutos e levando ao fechamento de escolas e repartições públicas. As imagens da tragédia se espalharam rapidamente pela internet, ocupando as redes sociais com registros de ruas completamente submersas, veículos boiando e pessoas tentando se locomover em meio ao caos.
O impacto político de uma calamidade como essa se fez sentir imediatamente. Se tivesse ocorrido um ano antes, os resultados da eleição de 2024 poderiam ter sido diferentes. João Campos, que conquistou a reeleição com uma votação expressiva de 78%, agora se vê diante de cobranças intensas por parte da população. O vídeo que ganhou repercussão nacional, mostrando crianças nadando em um alagamento no bairro de Caranguejo Tabaiares, simbolizou o colapso da infraestrutura urbana diante da força da natureza. O detalhe que mais chamou atenção foi a pintura no asfalto, onde se lia, ironicamente, “A Terra Prometida”.
Os transtornos não se restringiram às enchentes. Com a chuva intensa, diversas árvores de grande porte tombaram sobre ruas e veículos, interrompendo vias importantes e causando prejuízos. No bairro das Graças e no Espinheiro, quedas de árvores bloquearam o tráfego, e na Rosa e Silva, nas proximidades do Habib’s, um dos incidentes mais críticos da cidade ocorreu. Na Rua da Hora, outro bloqueio significativo afetou a mobilidade urbana. A sorte de muitos motoristas foi que, devido ao caos climático, grande parte da população evitou sair de casa, reduzindo o risco de tragédias ainda maiores.
A governadora Raquel Lyra também foi alvo de críticas, mas, no caso das cenas de violência protagonizadas por torcidas organizadas no fim de semana anterior, a questão extrapola sua gestão e se arrasta há anos, desafiando governos anteriores sem que soluções definitivas tenham sido encontradas. Já o problema dos alagamentos atinge o Recife de forma cíclica, agravado pela geografia da cidade, que está pouco acima do nível do mar e sofre com a influência das marés. O desafio para o prefeito João Campos passa pela necessidade de investimentos estruturais mais profundos, que vão além da limpeza de bueiros e canais entupidos pelo lixo acumulado.
Com a cidade ainda em recuperação dos estragos, a semana termina com um clima de insatisfação generalizada. As perdas políticas para João Campos e Raquel Lyra são inevitáveis e dependerá da capacidade de ambos de reagir com ações concretas para minimizar os prejuízos.
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