O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, reafirmou o compromisso das Forças Armadas com a democracia ao participar do programa Roda Viva. Em um cenário político ainda marcado pelos desdobramentos dos atos de 8 de janeiro, o ministro garantiu que não há qualquer risco de instabilidade institucional e que os militares mantêm sua convicção democrática. A declaração veio em um momento em que setores da sociedade seguem atentos ao papel das Forças Armadas na conjuntura nacional. Ao ser questionado se sua fala incluía tanto os militares da ativa quanto da reserva, Múcio foi direto ao afirmar que sua relação de trabalho é predominantemente com os da ativa, sinalizando uma possível diferença de postura entre os grupos dentro da estrutura militar.
O ministro também abordou o orçamento da Defesa e revelou as dificuldades financeiras enfrentadas pela pasta. Com um investimento de apenas 1,1% do PIB, Múcio destacou que os recursos disponíveis são insuficientes para atender às necessidades das Forças Armadas e que a situação coloca o Brasil em desvantagem até mesmo em comparação com outros países da América do Sul. Segundo ele, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) recomenda que os países destinem pelo menos 2% do PIB à defesa, o que está longe da realidade brasileira. Diante desse cenário, defendeu a necessidade de previsibilidade orçamentária para garantir a modernização e a manutenção das forças militares. Ainda assim, ressaltou avanços recentes, como a ampliação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) para o Ceará e o crescimento do alistamento feminino, que em janeiro deste ano registrou 23 mil inscrições.
A atuação das Forças Armadas diante dos eventos de 8 de janeiro foi outro ponto central da entrevista. Múcio negou a participação de militares nos atos golpistas e afirmou que deseja punições rigorosas para os responsáveis. Segundo ele, é fundamental identificar os organizadores para que recebam a pena máxima prevista. No entanto, o ministro destacou a necessidade de critérios diferenciados na aplicação das penalidades, argumentando que não se pode condenar da mesma forma aqueles que planejaram e financiaram a ação e os que apenas participaram da movimentação no dia. Para ele, essa é uma decisão que cabe ao Congresso Nacional, que precisará definir a melhor forma de responsabilizar cada envolvido de acordo com seu papel nos acontecimentos.
Durante a entrevista, Múcio também comentou sua permanência à frente do Ministério da Defesa e reforçou que não tem ambições políticas. Admitiu que só permaneceu no cargo por insistência do presidente Lula e resumiu sua situação com uma frase carregada de significado: “Sou refém da gratidão”.
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