O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, colocou o governo Lula em alerta ao sinalizar que pode deixar o cargo caso sejam adotadas medidas que restrinjam as exportações do agronegócio. A insatisfação do ministro, que até então se mantinha como um dos fiéis aliados do Planalto, vem crescendo diante da pressão interna para que o governo taxe exportações de produtos agropecuários ou imponha cotas para determinados setores. Segundo fontes próximas, Fávaro já teria deixado claro a auxiliares que não compactua com esse tipo de política e que sua permanência no governo depende do respeito a esse limite.
A relação entre o agronegócio e a gestão petista sempre foi marcada por tensões, mas Fávaro buscava equilibrar os interesses do setor com as diretrizes do governo. No entanto, a recente crise envolvendo a suspensão das linhas de crédito subsidiadas dentro do Plano Safra acendeu um novo sinal de alerta. O episódio gerou críticas contundentes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), entidades que representam o setor e que reagiram duramente à interrupção do financiamento.
Diante da repercussão negativa, o governo federal agiu para contornar a situação, publicando uma medida provisória que abriu um crédito extra de R$ 4,1 bilhões para assegurar as contratações do Plano Safra 2024-2025. A ação serviu para apaziguar parte das críticas, mas não eliminou as preocupações do ministro. O que mais pesa na sua decisão, conforme tem relatado a interlocutores, é a possibilidade de o governo insistir em medidas que imponham barreiras às exportações de soja, milho, carne e etanol.
O Planalto vem estudando alternativas para conter a alta do preço dos alimentos, um tema que ganhou força nos debates internos desde o início do ano. A hipótese de um imposto sobre exportações ressurgiu nos últimos dias como uma opção ventilada por setores do governo e pela bancada petista no Congresso. Para Fávaro, no entanto, essa abordagem pode trazer impactos negativos ao agronegócio e comprometer a competitividade brasileira no mercado internacional.
A preocupação do ministro reflete um dilema dentro do próprio governo. Enquanto setores mais alinhados à agenda social defendem medidas que poderiam garantir maior oferta de alimentos no mercado interno e frear a inflação, a equipe econômica e representantes do agronegócio alertam para os riscos de desestimular as exportações e prejudicar um dos principais motores da economia brasileira.
Mesmo diante das incertezas, Fávaro segue em sua postura de resistência. Sua possível saída do cargo abriria uma lacuna na interlocução do governo com o setor agropecuário, algo que Lula busca evitar. Nos bastidores, há articulações para tentar manter o ministro e, ao mesmo tempo, avançar com soluções que possam atender aos interesses do governo sem gerar novos atritos com o agronegócio. O desfecho desse impasse pode definir não apenas o futuro do ministro, mas também os rumos da política agrícola brasileira nos próximos meses.
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