quarta-feira, 30 de abril de 2025

CÂMARA DE PESQUEIRA IMPÕE BLINDAGEM VERGONHOSA E ENTERRA CPI PROTEGENDO ESQUEMA DE NO MÍNIMO R$ 15 MILHÕES

A cidade de Pesqueira, no Agreste pernambucano, acompanha perplexa mais um capítulo da crise política que assola o município e expõe, com crueza, o abismo entre a vontade popular e a conduta de seus representantes. Na última terça-feira (29), a Câmara de Vereadores decidiu barrar a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que poderia jogar luz sobre o suposto esquema de corrupção que, segundo o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), desviou mais de R$ 15,6 milhões dos cofres públicos sob o comando do prefeito Cacique Marcos Xukuru (Republicanos). A manobra legislativa que evitou o avanço da investigação não surpreendeu a população, mas deixou ainda mais claro o pacto de autoproteção que impera na Casa, onde interesses pessoais e corporativos se sobrepõem à obrigação constitucional de fiscalizar e defender a cidade.

Mesmo diante da gravidade das acusações — que incluem organização criminosa, fraudes em licitações e lavagem de dinheiro — e do afastamento judicial dos vereadores Sil Xukuru (PT) e Pastinha Xukuru (PP), também implicados no esquema, a maioria da Câmara preferiu blindar o prefeito e seus aliados. A proposta de instaurar a CPI, articulada pela oposição, foi rejeitada por falta de uma assinatura: obteve apenas quatro das cinco necessárias para atingir um terço dos 15 parlamentares. A base governista se fechou em silêncio cúmplice, indiferente à indignação que ecoa nas ruas e à evidência de que a corrupção já manchou profundamente as instituições locais.

Coube aos vereadores Mateus Leite (Podemos), Biá Cabral (PSDB), Gel Napoleão (PL) e Evando Júnior (PSD) a tarefa de enfrentar a maré da omissão e da submissão que domina o Legislativo de Pesqueira. Em meio à pressão política e ao isolamento dentro da própria Casa, esses quatro parlamentares ousaram desafiar o poder instalado e exigiram, com coragem rara, a investigação dos crimes que colocam em xeque a moralidade pública do município. Mateus Leite, autor do pedido da CPI, foi enfático ao rechaçar a narrativa do prefeito, que se diz vítima de perseguição política. Em discurso firme, Leite afirmou que a motivação da oposição não é partidária nem eleitoreira, mas sim um compromisso com a verdade e com a população, que não pode mais ser traída por quem deveria zelar pelo seu bem-estar.

O presidente da Câmara, Guila Araújo (PDT), foi a peça-chave na operação que travou a CPI. Ignorando a tese da oposição, que defende que as assinaturas de quatro vereadores seriam suficientes, dado o afastamento judicial de dois membros da Casa, Araújo insistiu que Sil e Pastinha Xukuru, apesar de suspensos das atividades legislativas, seguem como parlamentares plenos para efeitos regimentais. O argumento jurídico usado pelo presidente serviu, na prática, para proteger o grupo acusado e deslegitimar a iniciativa dos que, mesmo em minoria, se dispuseram a enfrentar o sistema. Essa conduta, que transforma o Parlamento municipal num escudo para interesses obscuros, aprofunda o descrédito da Câmara perante a opinião pública e prolonga a sensação de impotência que consome Pesqueira.

Segundo o MPPE, as fraudes investigadas ocorreram entre janeiro de 2021 e setembro de 2022 e envolveram pelo menos 15 licitações direcionadas para beneficiar o grupo liderado pelo prefeito. O desvio milionário não apenas saqueou os recursos públicos, mas comprometeu serviços essenciais, afetando diretamente a vida da população, sobretudo a mais pobre. Ainda assim, a maioria dos vereadores preferiu manter-se fiel à lógica da conivência, reafirmando o velho pacto de sobrevivência política que transforma suspeitos em intocáveis. Pesqueira segue refém dessa engrenagem perversa, enquanto a minoria que ousa reagir, como demonstraram Leite e seus aliados, carrega sozinha a tarefa de resistir em nome da ética e do interesse coletivo. Vamos acompanhando os fatos! Segue os fatos!

Matéria baseada em Texto vinculado no Diário de Pernambuco 

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