O Vaticano amanheceu envolto em uma atmosfera de comoção nesta quarta-feira (23), com o início das cerimônias fúnebres do Papa Francisco, que começou a ser velado na Basílica de São Pedro, no coração da Cidade do Vaticano. A alvorada trouxe não apenas o nascer de um novo dia, mas também o início da despedida daquele que, por mais de uma década, ocupou o trono de Pedro com humildade, voz firme pelos pobres e coração aberto ao mundo. Por volta das 4h da manhã, no horário de Brasília, teve início a procissão fúnebre que partiu da Casa de Santa Marta — residência simples escolhida pelo pontífice desde o início de seu papado — e que percorreu locais simbólicos da Cidade do Vaticano até alcançar a Basílica Vaticana. O cortejo foi acompanhado com solenidade por membros da guarda suíça, religiosos e autoridades do clero, enquanto milhares de fiéis já se aglomeravam na Praça de São Pedro.
O trajeto do cortejo percorreu a Praça Santa Marta, a Praça dos Protomártires Romanos e passou sob o imponente Arco dos Sinos, numa travessia carregada de simbolismo e reverência, até adentrar pela porta central da basílica, sob aplausos emocionados. Cerca de 20 mil pessoas, segundo informações do Vaticano, ocuparam os arredores do templo, transformando o espaço num mar de rostos comovidos, muitos com lágrimas nos olhos e terços entre os dedos. O velório foi oficialmente iniciado com uma celebração conduzida pelo camerlengo, cardeal Kevin Farrell, que assumiu temporariamente a liderança administrativa da Santa Sé, conforme previsto pelo protocolo vaticano em situações de sede vacante. Durante a cerimônia, Farrell incensou e benzeu o corpo do pontífice, que foi disposto diretamente no caixão, como ele próprio havia expressado em vida, optando por um velório simples e discreto, em contraste com tradições anteriores que incluíam plataformas elevadas e aparatos solenes.
As palavras do camerlengo ressoaram pelo interior da basílica em tom solene: “Queridos irmãos e irmãs, com profunda dor agora acompanhamos os restos mortais do nosso Papa Francisco até a Basílica Vaticana.” Em seguida, uma fila formada por cardeais e clérigos percorreu em silêncio o caminho até o caixão, onde, um a um, realizaram reverências silenciosas, enquanto do lado de fora o público iniciava sua entrada para prestar as últimas homenagens. Às 6h, as portas da basílica foram abertas à visitação dos fiéis, que começaram a passar diante do corpo do papa em clima de oração e respeito. A cerimônia, que se estenderá até sexta-feira (25), promete atrair centenas de milhares de pessoas vindas de diversas partes do mundo. Muitos trazem consigo cartazes, imagens religiosas e bandeiras de seus países, em sinal de devoção à figura de Francisco, lembrado por seu carisma, seu compromisso com as causas sociais e por ter aproximado a Igreja Católica de muitas realidades periféricas.
Ao optar por uma cerimônia de despedida mais íntima e sem ostentação, o papa também se despede com o mesmo estilo de vida que o marcou desde sua eleição em 2013: simples, acessível e voltado ao essencial. Francisco, que já havia rejeitado os luxos do Palácio Apostólico para viver entre os demais sacerdotes da Casa Santa Marta, quis agora que sua última jornada terrena fosse igualmente marcada por sobriedade. O silêncio respeitoso dos presentes, entrecortado por murmúrios de orações em diferentes idiomas, reforça o caráter universal de sua liderança espiritual. Dentro da Basílica de São Pedro, onde repousam os corpos de inúmeros papas e santos, o corpo de Francisco agora repousa entre os fiéis — como ele sempre desejou — à altura dos olhos e do coração do povo.
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