sábado, 5 de abril de 2025

DECLARADA GUERRA NO MDB PERNAMBUCANO

O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em Pernambuco vive uma de suas mais intensas disputas internas das últimas décadas, revelando um racha entre duas figuras centrais da legenda: o ex-deputado federal Raul Henry e o deputado estadual Jarbas Vasconcelos Filho. O confronto escancarou tensões antigas que agora se tornaram públicas, reacendendo debates sobre o comando do partido no estado e sobre o uso simbólico da figura do ex-governador Jarbas Vasconcelos, pai de Jarbas Filho e ícone histórico do MDB pernambucano.

Recentemente, a ala liderada por Fernando Dueire e Jarbas Filho deflagrou um movimento para substituir Raul Henry da presidência estadual do MDB. O gesto foi acompanhado de um posicionamento considerado emblemático: Jarbas Vasconcelos, mesmo enfrentando sérios problemas de saúde, teria manifestado apoio a esse novo comando, algo imediatamente contestado por Raul Henry. Em nota, Henry afirmou que Jarbas não tem atualmente condições clínicas para avaliar cenários políticos e classificou como indevida qualquer tentativa de instrumentalizar a imagem do ex-governador para disputas de poder. Segundo ele, a trajetória de Jarbas deveria ser respeitada, e não manipulada por conveniências momentâneas.

A resposta de Jarbas Filho veio com veemência. Ele acusou Raul Henry de se aproveitar há anos da imagem e do prestígio de seu pai para construir sua carreira política. Disse que Henry sempre se beneficiou do capital simbólico que Jarbas representa, mas agora se posiciona como guardião de sua memória apenas quando se vê ameaçado politicamente. A fala do deputado foi interpretada como um rompimento definitivo entre ambos, que já vinham alimentando desentendimentos silenciosos desde o fim do ciclo de poder do MDB no estado.

O impasse não é apenas pessoal, mas também estratégico. De um lado, Raul Henry defende o alinhamento do MDB com a candidatura de João Campos (PSB) à reeleição na Prefeitura do Recife, reforçando os laços históricos entre os dois partidos. Do outro, o grupo de Jarbas Filho e Dueire sinaliza aproximação com o projeto da governadora Raquel Lyra (PSDB), que trabalha para ampliar sua base de apoio nas eleições municipais de 2024. Essa divergência de rumo acirra ainda mais a disputa, pois coloca o partido no centro das articulações estaduais, com peso direto sobre coligações e chapas em formação.

Nos bastidores, correligionários do MDB avaliam que o embate pode levar a uma intervenção da direção nacional para pacificar os ânimos e definir oficialmente a nova composição do diretório estadual. Existe ainda o receio de que o conflito cause uma debandada de lideranças municipais, sobretudo nas cidades do interior, onde tanto Raul Henry quanto Jarbas Filho mantêm vínculos históricos. O quadro de instabilidade compromete o planejamento eleitoral da legenda, especialmente em um momento em que a sigla busca se reinventar após perder espaço em sucessivos pleitos.

A disputa também tem desdobramentos emocionais. Pessoas próximas a Jarbas Vasconcelos relatam que ele ainda acompanha, mesmo que com limitações, o cenário político e que não estaria alheio ao que ocorre no partido que ajudou a consolidar. Esse detalhe torna ainda mais delicada a controvérsia sobre quem representa, de fato, os valores e o legado deixado por ele. Para muitos, a briga entre Henry e Jarbas Filho é também uma disputa simbólica sobre quem tem legitimidade para herdar a liderança moral e política do MDB em Pernambuco, um dos partidos mais longevos do estado.

Em meio a esse embate, o futuro da legenda permanece indefinido, enquanto o clima entre os dois grupos segue inflamado, sem sinais de reconciliação à vista. A história que parecia construída sobre uma aliança sólida agora revela rachaduras profundas que podem redirecionar o destino do MDB nas próximas eleições.

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