Por Emílio Duarte
Há pessoas que cruzam nosso caminho e, mesmo sem perceber, passam a fazer parte de quem somos. Fábio Milhomens foi uma dessas presenças raras. Um amigo de longa data, daqueles que a vida nos presenteia ainda na juventude. Estudamos juntos no Colégio Salesiano.
Fomos alunos do meu falecido pai, que nos deixou com exatamente a mesma idade de Fábio. Depois, papai virou nosso coordenador e sempre teve o respeito de vários alunos do Colégio e, claro, o nosso também.
Aquele brilhantismo que talvez tenha faltado nas bancas do colegial sobrou na faculdade, tanto como aluno quanto, depois, como professor de Direito.
Na eleição da OAB em 2021, em plena pandemia, ele foi eleito Conselheiro Estadual e, depois, tornou-se dirigente de comissão temática, demonstrando poder de aglutinar outras mentes brilhantes na advocacia.
Sempre compartilhávamos nossos projetos pessoais. Lembro-me de quando ele fundou seu curso de pós-graduação, a LM2 academy. Fui convidado por ele para lecionar a disciplina de Processo Eleitoral — convite que aceitei de pronto, mas logo deixei avisado que, nem de longe, eu tinha o seu talento para a docência.
Após três anos, nas eleições da Ordem, no ano passado, fizemos uma reunião no café da academia Cia Athletica, que frequentávamos juntos. Reunião essa em que eu consegui, depois de muito argumentar, que ele saísse da gestão e viesse para a chapa da oposição.
No primeiro encontro que agendei com o nosso colega Almir Reis, como de costume, chegou atrasado por mais de quatro horas.
A única coisa que Fábio me prometera era que, em nome da nossa amizade, ele marcharia conosco — e assim foi. Cumpriu um papel importante na chapa de oposição.
A derrota o deixou inconformado, e sempre que conversávamos, ele ainda demonstrava dificuldade em digerir o resultado do pleito.
Ao passar dez dias de férias nos Estados Unidos, desembarquei na última quinta-feira no Recife. Ontem, como na maioria das vezes, me dirigi à Padaria Diplomata, na Rua dos Navegantes, por trás da casa de Fábio.
Deus marcou o nosso encontro. Não imaginaria que seria o último, sua despedida. Tomamos um rápido café e, novamente, falamos de política e ficamos de marcar outra conversa logo depois da Páscoa.
Quando estava descendo do meu escritório para almoçar, recebi a fatídica notícia do seu falecimento. Imaginei que estivesse tendo um pesadelo. Bati duas vezes no rosto para saber se realmente não estava tendo um pesadelo para acordar.
Imediatamente, liguei para o gerente da padaria, onde “batíamos ponto”e havia nos encontrado mais cedo. Como sempre, sou de brincar com todos naquele ambiente comercial. O gerente não deu crédito à notícia dada por mim e desligou o telefone para ligar imediatamente para a esposa dele — e teve a confirmação que todos queriam que não existisse.
Vá em paz, amigo. Por aqui, só resta agradecer ao nosso Senhor Jesus Cristo, que me deu a oportunidade de me despedir de você — mesmo sem saber — em vida.
Ficarei com as melhores lembranças: de amigo fraterno, ético, de gestos largos e com sua última risada após saber, por mim, que a FIFA tinha declarado o Flamengo campeão de 87 — já que ele era torcedor fiel do Santinha.
Ao grupo do WhatsApp dos ex-alunos do Salesiano, coube a mim dar a triste notícia. Todos estão transtornados.
Nunca mais caminharemos na Avenida Boa Viagem nos finais de semana, mas me espere, amigo, que estou chegando!
Até a Glória!
Advogado e amigo pessoal
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