Em meio a uma atmosfera política cada vez mais acirrada em Pernambuco, a possível retirada do 20º Batalhão da Polícia Militar de São Lourenço da Mata se transformou em um dos temas mais sensíveis e controversos do momento, revelando fissuras profundas entre o Governo do Estado e a oposição. A publicação do Decreto nº 58.415 no Diário Oficial, declarando de utilidade pública uma área em Camaragibe para a construção da nova sede do batalhão, desencadeou uma reação imediata do prefeito de São Lourenço, Vinicius Labanca, e de parlamentares ligados ao PSB, partido do prefeito do Recife, João Campos. São Lourenço da Mata, município com cerca de 111 mil habitantes e uma extensão territorial superior à da capital pernambucana, figura na 30ª posição no ranking das cidades mais violentas do Brasil e é historicamente carente de estrutura de segurança pública, com uma delegacia que funciona apenas em horário comercial, ausência de Delegacia da Mulher e inexistência de unidade do Corpo de Bombeiros. Em meio a esse cenário, o 20º Batalhão, mesmo operando com déficit de 40% do efetivo necessário, é considerado fundamental para a manutenção da ordem. A decisão de transferi-lo para o município vizinho, sem qualquer anúncio público, diálogo prévio ou justificativa técnica oficial apresentada, gerou indignação no prefeito Vinicius Labanca, que enviou dois ofícios ao Governo cobrando explicações, sem receber resposta. Labanca, reeleito com expressiva votação em 2024, denuncia que a mudança pode abrir ainda mais espaço para a atuação da criminalidade na cidade. Ao mesmo tempo, em Camaragibe, o prefeito Diego Cabral, cada vez mais alinhado com a governadora Raquel Lyra, comemorou publicamente o anúncio, afirmando que o novo batalhão será fruto de um investimento superior a R$ 9 milhões do Estado, com apoio logístico da prefeitura local, o que, segundo ele, atenderá a uma antiga demanda da população por mais segurança. Na Assembleia Legislativa, a retirada do batalhão gerou novo capítulo da disputa política. O presidente da Casa, Álvaro Porto, usou a tribuna para questionar a retirada do equipamento, lembrando que a estrutura de segurança em São Lourenço é frágil e criticando o que classificou como falta de sensibilidade do Governo diante do agravamento da violência em Pernambuco. A deputada Delegada Gleide Ângelo também se posicionou de maneira dura, afirmando que fechar batalhões ou delegacias em cidades de alta vulnerabilidade é um erro estratégico grave e que São Lourenço da Mata deveria, na verdade, receber reforços, e não sofrer perdas em sua infraestrutura de segurança. Em meio às críticas, o deputado Joel da Harpa, ex-policial militar e independente, apresentou um argumento técnico, afirmando que as instalações do 20º Batalhão são antigas, precárias e de difícil acesso até mesmo para as viaturas, o que justificaria a necessidade de um novo espaço físico, embora tenha reconhecido que a realocação deveria ser acompanhada de um plano para não deixar a população de São Lourenço desassistida. Apesar da pressão crescente, nenhum representante do Governo se pronunciou oficialmente na Alepe até o momento. Nos bastidores, entretanto, a liderança do Governo já trabalha para apresentar, ainda nesta semana, um posicionamento formal que esclareça os motivos e os planos em relação ao 20º Batalhão. A crise vai além da discussão sobre segurança pública e revela o aprofundamento das rivalidades políticas que tendem a marcar o caminho até a eleição de 2026, onde Raquel Lyra e João Campos despontam como protagonistas de um embate que promete ser cada vez mais polarizado e disputado.
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