NA LUPA 🔎
BLOG DO EDNEY
Por Edney Souto
QUARENTA ANOS SEM TANCREDO NEVES O PRESIDENTE QUE NÃO TOMOU POSSE PORÉM ENTROU PARA A HISTÓRIA .
Em 21 de abril de 1985, o Brasil amanhecia sob o impacto de uma tragédia política e humana. Morria, aos 75 anos, Tancredo de Almeida Neves, o primeiro presidente civil eleito após mais de duas décadas de ditadura militar. Seu corpo frágil, exaurido por sete cirurgias e semanas de incertezas, não resistiu antes de alcançar a cerimônia de posse. Quarenta anos depois, o país ainda lida com o peso simbólico de sua ausência e com o legado que, mesmo incompleto, permanece decisivo na história democrática brasileira.
COLÉGIO ELEITORAL- A eleição de Tancredo, pelo colégio eleitoral, foi um marco: não era o retorno pleno ao voto direto, mas simbolizava a esperança de um país que buscava a redemocratização. A vitória sobre o candidato do regime militar, Paulo Maluf, com o apoio de uma frente ampla formada por forças diversas, foi recebida nas ruas com entusiasmo e expectativa. Tancredo, com sua voz mansa e discurso conciliador, prometia ser o condutor de um novo tempo.
TRAGÉDIA - A tragédia começou na véspera da posse. Em 14 de março de 1985, Tancredo começou a sentir dores abdominais. No dia seguinte, data marcada para sua posse, foi internado de urgência no Hospital de Base, em Brasília. O país parou. A cerimônia foi suspensa. A doença de Tancredo rapidamente se transformou em um drama nacional transmitido em tempo real, em meio a um mar de especulações, omissões e versões truncadas.
CIRURGIA- A primeira cirurgia, realizada às pressas ainda em Brasília, revelou-se desnecessária. Outras cinco, realizadas no Hospital das Clínicas, em São Paulo, foram tentativas dramáticas de evitar o desfecho que se aproximava. No total, sete intervenções cirúrgicas em um homem já debilitado, cuja saúde era tratada com sigilo absoluto, alimentando boatos e angústia coletiva.
A FOTO DA DISCÓRDIA- Em meio à crise, surgiu uma das imagens mais icônicas da transição: Tancredo, vestindo um robe de chambre sobre o pijama, em uma cadeira de rodas, cercado pela esposa Risoleta e por uma enfermeira. A foto, feita no Hospital de Base e organizada às pressas para tentar desmentir os rumores sobre sua real condição, hoje é símbolo de um presidente que, mesmo à beira da morte, ainda buscava cumprir seu papel. Foi nesse momento que o então porta-voz Antônio Britto que foi deputado federal e governador do Rio Grande do Sul, relatou uma das últimas conversas com Tancredo: “‘Como vai, Britto?’, saudou-me. Ele parecia pálido, cansado, inchado”.
MÚSICA DE MILTON NASCIMENTO - A imagem comoveu o Brasil, assim como a canção que se tornou trilha sonora involuntária desse luto coletivo: Coração de Estudante, de Milton Nascimento. Composta em homenagem ao estudante Edson Luís, assassinado pela ditadura em 1968, a música se reinventou em 1985 como lamento nacional, embalada por multidões nas vigílias pela recuperação de Tancredo. "Quero a esperança de óculos / E meu filho de cuca legal", cantavam brasileiros emocionados. Em seu velório, a melodia embalou o cortejo e a dor de um país órfão da esperança recém-conquistada.
JOSÉ SARNEY - Tancredo morreu sem tomar posse. José Sarney, seu vice, assumiu o comando do país, em um arranjo institucional complexo, amparado pelo clamor popular e pela fragilidade política do momento. Sarney conduziu a transição e convocou a Assembleia Constituinte que resultaria na Constituição de 1988. Ainda assim, para muitos, a ausência de Tancredo impôs um vazio que nem as boas intenções do novo governo puderam preencher.
VELÓRIO DE TANCREDO- Tancredo foi velado no Palácio do Planalto e em São João del-Rei, sua terra natal. Multidões o acompanharam, em silêncio, lágrimas e flores. Foi mais que um enterro: foi a despedida de um símbolo. Ele não discursou como presidente, não fez reformas, não promulgou leis, mas tornou-se mito pela esperança que representava. A comoção foi comparável à morte de Getúlio Vargas e, décadas depois, à de Ayrton Senna.
LÁ SE VÃO 40 ANOS - Quarenta anos se passaram. O Brasil viveu avanços e retrocessos, enfrentou crises políticas, golpes institucionais e tentativas renovadas de esvaziar a democracia. Mas o nome de Tancredo Neves ainda ecoa como lembrança de uma travessia inacabada, de um pacto nacional costurado com habilidade, paciência e diálogo. Sua habilidade política, seu espírito conciliador e sua confiança no caminho democrático continuam como referências raras na vida pública nacional
SEM IDEALISTAS NA POLÍTICA - Hoje, mais do que nunca, sua figura é lembrada não apenas pela ausência trágica, mas pelo que poderia ter sido: o presidente da redemocratização, da reconciliação nacional, da transição pacífica. Tancredo tornou-se, talvez, o maior símbolo de um Brasil que tentou virar a página da ditadura sem rupturas violentas — e pagou um preço caro por isso. A morte de Tancredo Neves marcou mais do que o fim de uma vida. Selou o início de um novo ciclo político e deixou como legado uma lição de esperança, responsabilidade e coragem. Uma lição que, quatro décadas depois, continua pulsando no coração de todos e não nos estudantes de hoje em dia, cada vez mais afastados da política. O que se pergunta nos dias de hoje após quatro décadas é em que lugar se encontra os idealistas feito Tancredo Neves? Não existem mais. É isso aí!
Nenhum comentário:
Postar um comentário