A morte do papa Francisco, ocorrida nesta segunda-feira, 21, marca não apenas o fim de um pontificado repleto de simbolismos, mas também o início de uma despedida que rompe com tradições enraizadas há séculos na Igreja Católica. O velório e o sepultamento do pontífice argentino seguem diretrizes estabelecidas por ele próprio ainda em vida, como parte de seu esforço contínuo de simplificar a liturgia e aproximar o papado dos fiéis. Diferente dos predecessores, Francisco recusou os ritos majestosos que sempre acompanharam a morte de um papa e optou por uma cerimônia mais modesta, com elementos que refletem os valores de humildade e sobriedade que marcaram seu governo. O velório, por exemplo, não acontecerá sobre a tradicional plataforma elevada da Basílica de São Pedro, onde multidões costumavam se aglomerar para ver o corpo exposto. Desta vez, os fiéis poderão prestar suas homenagens enquanto Francisco repousa dentro de um caixão de madeira simples com tampa aberta, abandonando o simbolismo do corpo entronizado.
A decisão de Francisco de não ser enterrado na Basílica de São Pedro, que abriga os restos mortais de mais de noventa papas, também quebra um protocolo que perdurava há mais de cem anos. Em vez disso, o pontífice será sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, um templo que sempre teve lugar especial em sua espiritualidade. Foi ali que ele costumava rezar antes e depois de viagens apostólicas, e onde mantinha uma devoção particular à imagem de Maria, Salus Populi Romani. Esse gesto de ser enterrado fora dos muros do Vaticano reforça a imagem de um papa que se via, antes de tudo, como o bispo de Roma. Também vai contra a tradição do triplo caixão — cipreste, chumbo e carvalho — usados em pontificados anteriores. Francisco quis um único caixão de madeira, revestido internamente com zinco, em mais uma demonstração de desapego aos símbolos de poder temporal.
Essas mudanças nos ritos fúnebres não surpreendem os que acompanharam de perto o estilo pastoral de Francisco. Desde o início de seu papado, ele rejeitou pompas, escolheu viver na Casa Santa Marta em vez do Palácio Apostólico, usava sapatos simples, e evitava o uso de tronos. Agora, ao transformar até mesmo a própria morte em um ato de coerência com sua trajetória, Francisco imprime uma última e profunda lição sobre a essência do ministério petrino: serviço, humildade e proximidade com o povo.
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