No cenário político pernambucano, a quarta-feira (28) promete ser marcada por simbolismos e movimentos estratégicos que transcendem o caráter institucional do evento previsto para o Sertão do Estado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após especulações sobre uma possível ausência por questões de saúde, confirmou sua presença em Salgueiro, onde participa da cerimônia de assinatura da ordem de serviço para a duplicação da estação de bombeamento EBI-3, parte essencial das obras do Ramal do Salgado, infraestrutura integrante do projeto de transposição do Rio São Francisco. A ocasião, que já carrega por si só um forte peso simbólico e estratégico no campo das políticas hídricas do Nordeste, se transforma também em um palco antecipado da corrida eleitoral de 2026, reunindo no mesmo palanque a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), dois nomes que vêm despontando como prováveis adversários na disputa pelo Governo do Estado nas próximas eleições. A aparição conjunta dos dois líderes, diante do presidente Lula, lança um olhar atento sobre os gestos, os sorrisos contidos, os cumprimentos formais e até mesmo as posições nas fotos oficiais, elementos que ganham dimensão política em um ambiente marcado pela rivalidade silenciosa e pela busca por protagonismo.
Enquanto a governadora Raquel busca projetar sua liderança estadual com foco em resultados administrativos e na defesa da eficiência da gestão pública, o prefeito João Campos se movimenta com atenção redobrada para consolidar sua influência regional, mantendo-se próximo ao núcleo duro do governo federal. A presença de Lula, além de reforçar a importância da obra para o Semiárido, cria a oportunidade para Campos reafirmar o alinhamento com o presidente petista, reforçando uma parceria que pode ser decisiva em 2026, sobretudo diante da possibilidade de uma reedição da aliança PT-PSB no estado. Na véspera do evento em Salgueiro, João Campos já ensaiava seus passos com precisão ao receber, na sede do PSB, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, em uma sinalização clara da manutenção do elo político entre o Partido dos Trabalhadores e os socialistas pernambucanos. A movimentação tem peso político ao indicar que, apesar das disputas internas e da tentativa de fortalecimento de outras forças dentro do próprio campo lulista, como o PSD de Raquel Lyra, o PSB continua sendo o parceiro mais estratégico do PT em Pernambuco.
O evento desta quarta, portanto, é menos sobre a engenharia das águas e mais sobre a engenharia política que começa a moldar os caminhos de 2026. A governadora, embora com um estilo mais discreto e técnico, sabe que cada aparição ao lado de Lula pode lhe render dividendos eleitorais se bem explorados, especialmente em regiões do interior onde o presidente mantém alta popularidade. Já João Campos, herdeiro de um legado político forjado pelo avô e pelo pai, aposta na combinação entre juventude, articulação e presença institucional como forma de manter sua curva ascendente no cenário nacional. A expectativa em torno do evento é de que, mesmo sem trocarem farpas diretas, Raquel e João travem mais uma batalha silenciosa por visibilidade, onde cada centímetro ao lado do presidente pode representar uma vantagem simbólica futura. A agenda presidencial em Salgueiro, portanto, está longe de ser apenas mais um compromisso da rotina de Lula. Ela se inscreve no tabuleiro político como um movimento que pode alterar os humores da pré-campanha, ao mesmo tempo em que fortalece alianças, testa climas e mede forças entre dois nomes que já atuam como pré-candidatos oficiosos ao Governo de Pernambuco.
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