Era para ser um marco histórico para Pesqueira, um orgulho para os povos indígenas do Brasil e uma celebração da diversidade na administração pública. Nos dias 16 e 17 de maio, o município do Agreste pernambucano havia sido anunciado como sede do Encontro Nacional de Gestores Indígenas, promovido pelo Ministério dos Povos Indígenas, comandado pela ministra Sônia Guajajara. O evento foi anunciado nas redes sociais como um grande ato de valorização da cultura indígena no coração do Nordeste, reunindo caciques, prefeitos, vereadores, lideranças e representantes do Governo Federal para discutir políticas públicas e fortalecer a presença indígena nos espaços de poder. Mas a promessa virou frustração.
Às vésperas do encontro, Pesqueira foi retirada da lista de anfitriãs. O motivo não foi logístico nem técnico, mas político e jurídico. Envolvido em uma avalanche de denúncias, o prefeito da cidade — conhecido como Cacique Marquinhos — virou réu em processos que envolvem corrupção, desvio de recursos e irregularidades administrativas. Ele chegou a ser afastado do cargo por decisão judicial, mas retornou recentemente. Ainda assim, permanece com pedidos de cassação apresentados pelo Ministério Público e responde a uma série de acusações graves, o que acendeu o alerta no Palácio do Planalto.
A gota d’água veio com a chegada de um dossiê robusto — mais de mil páginas — à mesa do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. O documento expõe minuciosamente os bastidores da gestão municipal e os diversos escândalos que envolvem o prefeito. A pressão aumentou, e a decisão foi rápida: o Governo Federal não injetaria recursos públicos em uma cidade comandada por um gestor réu. O evento foi oficialmente retirado de Pesqueira, sem alarde, mas com um silêncio que soou como constrangimento. O que seria uma oportunidade de protagonismo nacional para o município virou motivo de vergonha.
O cancelamento deixou um vazio simbólico na cidade. A população, que esperava movimento no comércio, visibilidade e reconhecimento, agora vê a oportunidade escapar pelas mãos da própria crise política. Lideranças locais dizem que a ministra Sônia Guajajara se deixou enganar pela imagem construída por Marquinhos — o gestor de fala mansa, fantasias tribais e discursos afinados com Brasília. Mas quem vive o dia a dia em Pesqueira enxerga outro retrato: o da ausência de políticas públicas eficazes para os povos indígenas da região, o das denúncias recorrentes, o das promessas não cumpridas e das acusações que se acumulam.
Toda vez que o cerco aperta, relatam moradores, o prefeito se reveste com trajes tradicionais e desce à Esplanada dos Ministérios como se nada tivesse acontecido. A encenação, segundo críticos, já não convence nem os aliados de outrora. Em vez de representar com dignidade a causa indígena, Marquinhos hoje encarna um desgaste nacional. A escolha por Pesqueira para sediar o evento era, num primeiro momento, um gesto de reconhecimento. Mas tornou-se insustentável diante do volume de denúncias e da visibilidade negativa que a cidade ganhou.
No fim das contas, a cidade que deveria receber o Brasil indígena em festa, agora observa, silenciosa, o afastamento de uma oportunidade que escapou não por fatalidade, mas pelas escolhas e atitudes de quem deveria cuidar do bem comum. O Encontro Nacional de Gestores Indígenas não acontecerá em Pesqueira, e o motivo é conhecido por todos. Mais uma vez, perde Pesqueira! Perdeu o povo! Essa é a verdade!
Segue o link do convite da ministra
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