quarta-feira, 7 de maio de 2025

EMBATES EXPLODEM NA ALEPE E EXPÕE A TENSÃO ENTRE GOVERNO E OPOSIÇÃO

O clima na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) ganhou um novo tom nesta segunda-feira, revelando uma mudança no padrão das discussões entre governo e oposição. Até então, os embates mais duros envolvendo a administração de Raquel Lyra ficavam restritos às comissões internas, onde a base governista sempre conseguiu manter a maioria e abafar tensões mais fortes. No plenário, o que predominava eram discursos protocolares, com os governistas exaltando avanços no pequeno expediente, sem direito a apartes, e a oposição fazendo críticas também de forma contida. Dessa vez, porém, o calor das divergências tomou conta do plenário e chegou ao público que lotava as galerias, como os policiais civis que aguardavam a votação de um projeto de interesse da categoria, adiado por duas sessões consecutivas. O impasse sobre a pauta levou os servidores a interromperem os oradores com gritos de "vota, vota, vota", sem interesse pelas farpas trocadas entre os parlamentares.

O estopim da discussão foi a derrota do projeto do Executivo na comissão de Finanças, que autorizaria o Estado a contrair um empréstimo de R\$ 1,5 bilhão. Ao discursar, a líder do governo, deputada Socorro Pimentel, fez um apelo direto aos colegas, pedindo "responsabilidade pela casa" e acusando a oposição de agir por "interesses momentâneos" e manobras que poderiam pôr em risco programas e obras destinados à população. Na outra ponta do embate estava o deputado Antonio Coelho, do União Brasil, autor do substitutivo que derrubou a proposta original ao alterar a destinação dos recursos: em vez de ir integralmente para grandes obras, metade seria repassada diretamente aos municípios para investimentos locais. Ao rebater Pimentel, Coelho lembrou que a Alepe já autorizou a governadora a contrair até R\$ 9,5 bilhões em empréstimos sem detalhamento claro dos gastos e disse que os recursos liberados anteriormente não beneficiaram diretamente as cidades do interior. Sugeriu ainda que o governo utilizasse valores de outros empréstimos já aprovados para as obras citadas, como o Arco Metropolitano e a duplicação da BR-232.

O argumento encontrou resistência imediata da deputada Débora Almeida, que explicou que empréstimos negociados via Tesouro Nacional não podem ter sua destinação alterada de forma tão simples, uma vez que seguem regras rígidas e coordenadas previamente estabelecidas. Além disso, ela considerou a proposta inconstitucional. Débora aproveitou para alfinetar Coelho, dizendo estranhar o recente "surto municipalista" do parlamentar e lembrando que sua família, com base em Petrolina, nunca teve histórico de distribuição equitativa de recursos. Ela citou que o ex-senador Fernando Bezerra Coelho foi votado em cidades como São Bento do Una e não destinou nada para lá, preferindo concentrar seus esforços em Petrolina. O deputado Antonio Coelho respondeu enumerando os feitos do pai no Senado, mas quem elevou ainda mais a temperatura foi Waldemar Borges, do PSB, que afirmou que a Alepe sempre foi generosa com a governadora e, portanto, tem legitimidade para discutir para onde vão os recursos. Borges acusou o governo de usar verbas para cooptar lideranças políticas do interior e cobrou mais transparência sobre a origem dos recursos empregados.

O tom de fiscalização foi reforçado por Diogo Moraes, também do PSB, que anunciou que a oposição passará a exigir a abertura de contas específicas para cada empréstimo, de modo a acompanhar detalhadamente a destinação do dinheiro. Sileno Guedes endossou a proposta e elogiou o parecer de Antonio Coelho na comissão de Finanças, garantindo que a oposição estará mais vigilante do que nunca daqui para frente. Coube ao deputado Renato Antunes, da base governista, tentar arrefecer a discussão. Ele classificou a postura da oposição como "oportunista e casuística" e lembrou que Pernambuco, durante os governos socialistas, foi rebaixado a nível C em sua Capacidade de Pagamento, o que impedia a contratação de empréstimos. Antunes destacou que Raquel Lyra conseguiu recuperar a credibilidade do Estado e elevá-lo a nível B, permitindo novos financiamentos essenciais para a realização de investimentos estruturadores. Segundo ele, as operações de crédito são fundamentais para mudar a realidade da população, especialmente após anos de dificuldades financeiras. Enquanto isso, os gritos das galerias seguiam ecoando no plenário, simbolizando a pressão que agora extrapola os bastidores e invade de vez o palco principal da política pernambucana.

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