Na vastidão do Sertão pernambucano, mais precisamente em Dormentes, um produto típico da culinária regional está prestes a alcançar reconhecimento nacional através de um selo que atesta sua origem, tradição e qualidade: a manta caprina. Extraída da parte dianteira dos caprinos e ovinos criados na região, a carne é marcada por sabor e textura peculiares, resultado direto do manejo tradicional dos criadores locais e da rusticidade dos animais adaptados ao semiárido. Esse produto emblemático poderá se tornar a próxima Indicação Geográfica (IG) do estado de Pernambuco, unindo-se a um seleto grupo que já inclui os vinhos do Vale do São Francisco, as uvas e mangas de Petrolina e o ambiente inovador do Porto Digital, no Recife.
O avanço do reconhecimento oficial da manta caprina integra um novo projeto da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe) e do Sebrae/PE, que prevê um investimento de R\$ 2,9 milhões com o objetivo de ampliar a valorização dos produtos e serviços enraizados nas diversas regiões do estado. A estratégia busca proteger e divulgar conhecimentos tradicionais e expressões culturais que sustentam economias locais e fortalecem a identidade regional. A iniciativa pretende impulsionar uma série de cadeias produtivas ao longo de um processo dividido em quatro fases: diagnóstico, estruturação, submissão dos pedidos ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e acompanhamento técnico-jurídico até a possível concessão do selo.
Dormentes desponta como protagonista natural dentro desse plano. Com o maior rebanho de ovinos de Pernambuco — cerca de 330 mil cabeças —, o município mantém viva uma tradição que é fonte de sustento para centenas de famílias. A carne caprina ali produzida não é apenas um alimento: é resultado de uma cadeia produtiva forjada na resistência ao clima árido, na sabedoria dos criadores e na adaptação dos animais à caatinga. Esse conjunto de fatores confere à manta características inimitáveis, transformando-a em um patrimônio regional com potencial de se destacar no mercado nacional.
Pernambuco ocupa posição de destaque no cenário nacional da caprinovinocultura, sendo o segundo maior em número de rebanhos, de acordo com o IBGE. São 3,2 milhões de caprinos e 3,5 milhões de ovinos espalhados por todo o estado, números que traduzem não apenas vocação produtiva, mas também um universo de práticas culturais, saberes e sabores que merecem ser protegidos e promovidos. A Indicação Geográfica surge como ferramenta capaz de ampliar a visibilidade desses produtos, reforçando sua autenticidade e origem.
Além da manta caprina de Dormentes, outros ícones do interior pernambucano estão no radar do projeto. O mel e o queijo coalho produzidos no Araripe, o barro moldado por mãos habilidosas em Caruaru, a madeira talhada em Sertânia, o café de altitude colhido em Triunfo, a renda renascença de Poção e o artesanato cerâmico de Tracunhaém representam a diversidade produtiva e criativa do estado. A culinária também marca presença com bolos emblemáticos da doçaria pernambucana como o Souza Leão, o bolo de noiva e o bolo de rolo, todos vinculados a tradições que resistem ao tempo.
O esforço conjunto entre Adepe e Sebrae/PE não se limita à proteção legal dos produtos, mas envolve também o fortalecimento das comunidades produtoras, por meio da capacitação técnica, suporte institucional e ações de fomento ao empreendedorismo local. Em um cenário de globalização dos mercados, destacar-se pela singularidade regional é uma estratégia que vem ganhando espaço e reconhecimento. A Indicação Geográfica, nesse contexto, transforma-se em uma poderosa aliada para consolidar territórios e seus produtos como referências de qualidade, tradição e inovação no Brasil e no mundo.
Informações do Blog Carlos Brito
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