NA LUPA 🔎
BLOG DO EDNEY
Por Edney Souto
LUZ VERMELHA NA FUSÃO NA FEDERAÇÃO DE PARTIDOS: RECUOS E REALIDADE NOS BASTIDORES DE BRASÍLIA
A ideia de fortalecer o centro político brasileiro por meio de fusões e federações partidárias enfrenta um momento decisivo. Acordos que vinham sendo costurados com discrição e expectativa de sucesso acenderam, de uma hora para outra, luzes vermelhas que indicam recuo, desconfiança e risco de naufrágio. Vamos dar uma analisada aqui NA LUPA desta segunda-feira.
O PSDB DO PASSADO - Comecemos pelo PSDB, outrora protagonista das grandes disputas nacionais. O partido da social-democracia brasileira, nascido sob o guarda-chuva de intelectuais e quadros técnicos nos anos 1980, definha eleitoral e estruturalmente. O desempenho pífio nas últimas eleições — com a perda de espaço nas Assembleias Legislativas, na Câmara e no Senado — colocou o PSDB num patamar mínimo de influência. O "45", símbolo de uma era de disputas palmo a palmo com o PT, hoje luta para manter a relevância nos debates políticos nacionais. A saída de Raquel Lyra e Eduardo Leite foram um baque para o PSDB.
A IDEIA DA FUSÃO- Foi nesse contexto de enfraquecimento que a fusão com o Podemos começou a ser desenhada. A legenda liderada por figuras como Renata Abreu via no PSDB um parceiro com legado, mas pouca musculatura atual, uma aliança que, bem costurada, poderia projetar a federação como uma força de centro consolidada no tabuleiro político. Mas, ao que tudo indica, o plano sofreu um baque. Fontes ouvidas pela coluna dão conta de que o Podemos começou a rever o entusiasmo. A razão é simples: ninguém quer herdar problemas sem retorno claro. O PSDB, hoje, representa mais ônus do que bônus, e isso faz o Podemos cogitar engatar a ré. A fusão, por ora, subiu no telhado.
IGREJA UNIVERSAL- Do outro lado, a federação MDB/Republicanos enfrenta uma tormenta de outra natureza e igualmente preocupante. Se, num primeiro momento, a união prometia agregar experiência (do MDB) com estrutura e capilaridade (do Republicanos), agora a sombra da ingerência religiosa ameaça enterrar as tratativas. O estopim da crise atende por um nome bem conhecido: Igreja Universal do Reino de Deus. Fundadora e antiga mantenedora da base evangélica que fortaleceu o Republicanos, a Universal deseja retomar o protagonismo dentro do partido. Com a federação em curso, lideranças da igreja manifestaram receio de que o MDB laico, pragmático e avesso a vínculos doutrinários explícitos, dilua sua influência. Edir Macedo, fundador da Universal, teria demonstrado, segundo fontes próximas, grande desconforto com a costura.
MARCOS PEREIRA- Não se trata apenas de teologia ou princípios, mas de poder. Hoje, o Republicanos está sob o comando do deputado federal Marcos Pereira, que, embora evangélico, adotou postura mais institucional do que confessional. Isso, na prática, reduziu o peso da Universal nas decisões partidárias e a federação com o MDB é vista por muitos como a consolidação dessa nova direção. O efeito imediato foi o acendimento de um sinal vermelho no processo de união.
MDB PRAGMÁTICO- Além da questão religiosa, pesa no cálculo político do MDB sua já histórica preferência pelo pragmatismo regional. O partido de Ulysses Guimarães — ou o que restou dele — sempre foi mestre em jogar com os ventos locais. Nos estados, o MDB fecha com quem oferece mais. Um dia com o PT, noutro com o PL, em terceiro com o PSB. A lógica é a da governabilidade estadual, não da coerência ideológica. Como harmonizar essa tradição com um partido como o Republicanos, de base mais coesa e estratégia nacional mais definida?
JUNÇÃO DIFÍCIL- A matemática não fecha com facilidade. A verdade nua e crua é que tanto a fusão PSDB/Podemos quanto a federação MDB/Republicanos balançam perigosamente no telhado. Há ruídos demais, riscos demais e resultados concretos de menos. Ninguém quer se comprometer com um casamento fadado à crise antes mesmo da lua de mel.
PARTIDOS CORPORATIVOS- Esses impasses revelam, mais uma vez, o quão fragmentado e volátil é o sistema partidário brasileiro. Tentativas de reorganização, embora necessárias, trombam com interesses locais, vaidades pessoais e agendas paralelas que impedem qualquer articulação mais robusta.
BIRUTA - No fim das contas, o recado que sai dos bastidores de Brasília é claro: as legendas até tentam se unir, mas continuam olhando para dentro de seus próprios espelhos e umbigos, e não para o país. Até que se convençam de que o jogo precisa ser coletivo, as luzes vermelhas continuarão a piscar. E o eleitor? Esse assiste, perplexo, ao espetáculo da desintegração. Você acredita que haverá alguma união partidária significativa antes das eleições de 2026? A coluna não acha fácil contornar todos os impeditivos. Lembrando que em política não existe: não, nunca e jamais. É isso aí. Adiante!
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