quarta-feira, 21 de maio de 2025

ÔNIBUS ATOLADOS, ESTRADAS PRECÁRIAS ESTUDANTES EM RISCO, SÃO BENTO DO UNA PEDE SOCORRO

Em São Bento do Una, Agreste de Pernambuco, a cena de um ônibus escolar atolado em estradas cobertas de lama deixou de ser um episódio isolado para se tornar símbolo de um problema estrutural que vem sendo ignorado pelas autoridades locais. O município, conhecido pela sua tradição agrícola e pela força das comunidades do campo, carrega agora um retrato vergonhoso: o colapso das vias rurais que deveriam garantir o transporte escolar de centenas de crianças e adolescentes. O que se vê são trajetos abandonados, veículos escolares paralisados em atoleiros e estudantes forçados a caminhar por quilômetros, expostos a perigos diversos, para tentar exercer seu direito básico à educação.

Na manhã desta semana, mais um episódio revoltante veio à tona. Um ônibus escolar atolou em uma estrada que liga povoados da zona rural à sede do município. Com o veículo afundado na lama, estudantes, muitos ainda na primeira infância, precisaram descer e seguir a pé em meio ao barro, sob chuva, carregando mochilas pesadas e, em alguns casos, sendo ajudados por colegas para não escorregarem. O incidente, embora grave, foi tratado com naturalidade por quem vive a rotina do campo – um sinal de como o inaceitável foi normalizado na vida de quem depende dos serviços públicos oferecidos pela prefeitura.
O que se denuncia não é um problema pontual causado por intempéries, mas um descaso crônico da gestão municipal com a manutenção das estradas vicinais. Relatos de moradores apontam que diversos trechos estão completamente abandonados, sem qualquer patrolamento, aplicação de piçarra ou escoamento adequado das águas pluviais. Com a chegada do período chuvoso, a falta de infraestrutura transforma os caminhos em trilhas de lama onde nem mesmo motos conseguem circular com segurança. A situação afeta não só o transporte escolar, mas também o escoamento da produção agrícola, o acesso a serviços de saúde e a mobilidade de centenas de famílias.

A Secretaria Municipal de Infraestrutura e o próprio prefeito Alexandre Batité vêm sendo insistentemente cobrados pela população rural, que já recorreu a abaixo-assinados, protestos e solicitações formais protocoladas. Apesar disso, as respostas seguem superficiais ou, na maior parte do tempo, inexistentes. A falta de transparência sobre os investimentos em melhorias de estradas e a ausência de cronogramas de manutenção reforçam a percepção de abandono. O poder público age como se as vozes do campo não merecessem ser ouvidas, como se a dignidade das crianças que ali vivem pudesse ser ignorada em nome de interesses políticos ou conveniências administrativas.
A realidade atual evidencia o colapso de uma política pública essencial: o transporte escolar seguro e digno. O município, que recebe recursos específicos para garantir esse serviço, parece incapaz de priorizá-lo. Crianças estão sendo penalizadas por escolhas erradas, por omissão e por uma gestão que não compreende que a estrada até a escola é o primeiro passo para a cidadania. Quando esse passo se transforma em uma travessia arriscada por entre lama e abandono, o sistema educacional perde, a democracia se fragiliza e o futuro de toda uma geração é colocado em xeque.

O problema não é apenas logístico – é social, humano e ético. A precariedade das estradas não apenas dificulta o acesso físico à escola, mas representa uma violência simbólica contra os estudantes da zona rural, que são obrigados a conviver com a ideia de que seus direitos valem menos. O poder público, que deveria zelar por esses caminhos, opta por manter a invisibilidade das comunidades rurais, empurrando o problema para depois, como se a rotina escolar pudesse esperar, como se a infância daqueles meninos e meninas fosse descartável. Enquanto isso, a cada novo dia de chuva, mais um ônibus pode ficar atolado, mais uma criança pode se machucar, e mais uma oportunidade de mudar o destino pela educação pode se perder no barro.

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