Na manhã desta semana, mais um episódio revoltante veio à tona. Um ônibus escolar atolou em uma estrada que liga povoados da zona rural à sede do município. Com o veículo afundado na lama, estudantes, muitos ainda na primeira infância, precisaram descer e seguir a pé em meio ao barro, sob chuva, carregando mochilas pesadas e, em alguns casos, sendo ajudados por colegas para não escorregarem. O incidente, embora grave, foi tratado com naturalidade por quem vive a rotina do campo – um sinal de como o inaceitável foi normalizado na vida de quem depende dos serviços públicos oferecidos pela prefeitura.
O que se denuncia não é um problema pontual causado por intempéries, mas um descaso crônico da gestão municipal com a manutenção das estradas vicinais. Relatos de moradores apontam que diversos trechos estão completamente abandonados, sem qualquer patrolamento, aplicação de piçarra ou escoamento adequado das águas pluviais. Com a chegada do período chuvoso, a falta de infraestrutura transforma os caminhos em trilhas de lama onde nem mesmo motos conseguem circular com segurança. A situação afeta não só o transporte escolar, mas também o escoamento da produção agrícola, o acesso a serviços de saúde e a mobilidade de centenas de famílias.
A Secretaria Municipal de Infraestrutura e o próprio prefeito Alexandre Batité vêm sendo insistentemente cobrados pela população rural, que já recorreu a abaixo-assinados, protestos e solicitações formais protocoladas. Apesar disso, as respostas seguem superficiais ou, na maior parte do tempo, inexistentes. A falta de transparência sobre os investimentos em melhorias de estradas e a ausência de cronogramas de manutenção reforçam a percepção de abandono. O poder público age como se as vozes do campo não merecessem ser ouvidas, como se a dignidade das crianças que ali vivem pudesse ser ignorada em nome de interesses políticos ou conveniências administrativas.
A realidade atual evidencia o colapso de uma política pública essencial: o transporte escolar seguro e digno. O município, que recebe recursos específicos para garantir esse serviço, parece incapaz de priorizá-lo. Crianças estão sendo penalizadas por escolhas erradas, por omissão e por uma gestão que não compreende que a estrada até a escola é o primeiro passo para a cidadania. Quando esse passo se transforma em uma travessia arriscada por entre lama e abandono, o sistema educacional perde, a democracia se fragiliza e o futuro de toda uma geração é colocado em xeque.
O problema não é apenas logístico – é social, humano e ético. A precariedade das estradas não apenas dificulta o acesso físico à escola, mas representa uma violência simbólica contra os estudantes da zona rural, que são obrigados a conviver com a ideia de que seus direitos valem menos. O poder público, que deveria zelar por esses caminhos, opta por manter a invisibilidade das comunidades rurais, empurrando o problema para depois, como se a rotina escolar pudesse esperar, como se a infância daqueles meninos e meninas fosse descartável. Enquanto isso, a cada novo dia de chuva, mais um ônibus pode ficar atolado, mais uma criança pode se machucar, e mais uma oportunidade de mudar o destino pela educação pode se perder no barro.
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