O PDT decidiu romper com a base de apoio do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e adotar uma postura de independência na Câmara dos Deputados. A decisão foi tomada nesta terça-feira, em meio à crise desencadeada pela saída de Carlos Lupi do comando do Ministério da Previdência Social. Lupi, que é presidente licenciado do partido, pediu demissão na última sexta-feira, após ver seu nome envolvido na esteira de um escândalo de fraudes e desvios de recursos no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O episódio, considerado por integrantes da sigla como o estopim de um processo de desgaste e exposição pública, foi tratado como um sinal claro de desrespeito do Palácio do Planalto ao partido, aprofundando o mal-estar dentro da legenda.
A bancada pedetista, que hoje conta com 17 deputados federais, se reuniu em Brasília para formalizar a nova posição política. Segundo relatos feitos por parlamentares que participaram do encontro, a decisão foi tomada por unanimidade e simboliza uma ruptura com o alinhamento automático que o PDT vinha mantendo com o governo desde o início do terceiro mandato de Lula, em 2023. Apesar do afastamento, os deputados negam que o partido vá aderir à oposição e se aliar, por exemplo, ao PL, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro. A estratégia, segundo os próprios membros da sigla, é manter uma atuação independente, votando a favor das pautas que coincidam com a identidade programática do partido e se opondo àquelas que não estejam alinhadas com suas bandeiras históricas.
O líder da bancada, deputado Mário Heringer, de Minas Gerais, classificou a decisão como unânime e indicou que a ruptura decorre não apenas do episódio envolvendo Lupi, mas de um acúmulo de insatisfações em relação à forma como o governo tem tratado a legenda. Parlamentares reclamam nos bastidores que a escolha do deputado Wolney Queiroz para substituir Lupi no Ministério da Previdência foi feita sem qualquer diálogo com a bancada, o que acabou por aprofundar o sentimento de desprestígio e marginalização dentro da base governista. Um deputado, sob reserva, afirmou que a nomeação de Queiroz foi vista como uma tentativa do Planalto de esvaziar ainda mais o poder de articulação do partido na Câmara, o que tornou insustentável a permanência do PDT na base.
Durante a reunião, Carlos Lupi também esteve presente e fez um longo pronunciamento aos deputados. Ele detalhou as ações adotadas em sua gestão para combater os esquemas fraudulentos que vinham lesando os cofres do INSS, assegurando aos colegas que não há qualquer prova ou menção direta a seu nome nas investigações conduzidas pelos órgãos de controle. O ex-ministro reafirmou que sua saída do cargo teve caráter político e que não cometeu nenhuma irregularidade. Os parlamentares que participaram do encontro relataram que Lupi demonstrou indignação com o que classificou como um processo público de fritura e linchamento moral promovido pelo próprio governo que ajudou a eleger.
O mal-estar entre PDT e Planalto, que vinha sendo gestado desde o início do ano, ganhou contornos mais explícitos com a crise recente e já provoca efeitos sobre o futuro político da legenda. Setores internos do partido avaliam que o episódio abriu caminho para que o PDT volte a discutir a possibilidade de lançar candidatura própria à Presidência da República em 2026, retomando o projeto interrompido após o fraco desempenho nas eleições de 2022, quando o partido terminou por apoiar Lula no segundo turno. Essa discussão, segundo dirigentes, deve ser aprofundada nos próximos meses como parte do reposicionamento estratégico da sigla no cenário nacional.
Com a decisão desta terça-feira, o PDT encerra um ciclo de mais de dois anos de parceria formal com o governo petista. Desde a posse de Lula, o partido havia se integrado à base de apoio, ocupando ministérios e cargos estratégicos na administração federal. Agora, a legenda busca reconstruir seu espaço político a partir de uma postura que combina autonomia e seletividade na atuação parlamentar, numa tentativa de preservar sua identidade e se distanciar da crise que envolve o Executivo. A movimentação também sinaliza um rearranjo na correlação de forças da Câmara, onde a base governista já enfrenta dificuldades para aprovar matérias sensíveis e agora perde mais um apoio formal.
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