O PSDB, partido que por anos comandou a política brasileira e ocupou a Presidência da República em dois mandatos consecutivos, atravessa agora o que pode ser seu ocaso definitivo. Nem mesmo a anunciada fusão com o Podemos tem sido capaz de estancar o processo de esvaziamento e debandada que atinge suas fileiras. Dos três governadores eleitos em 2022 com a legenda tucana, dois já deixaram a sigla. Raquel Lyra, em Pernambuco, rompeu com o PSDB ao longo de 2024, buscando um novo espaço político mais alinhado com seus interesses locais e com maior fôlego para enfrentar a polarização que domina o país. Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul, outro nome que chegou a ser apontado como possível renovador do partido no cenário nacional, também bateu em retirada. Sobrou apenas Eduardo Riedel, governador de Mato Grosso do Sul, que permanece filiado, mas já é visto como alguém de malas prontas para deixar o ninho tucano a qualquer momento. Se Riedel confirmar sua saída, terá o destino simbólico de ser o último a apagar a luz de um partido que já foi a maior força política do Brasil.
A decadência do PSDB é antiga, mas se aprofundou de maneira irreversível após a derrota de Aécio Neves para Dilma Rousseff na eleição presidencial de 2014. Desde então, a legenda entrou num ciclo de perda de relevância e fragmentação interna, agravado pelos escândalos de corrupção que atingiram suas principais lideranças. Minas Gerais, berço político de Aécio e um dos pilares do tucanato, foi perdido. São Paulo, por décadas dominado pelo PSDB e considerado o coração da sua força política, também escapou das mãos do partido com a ascensão de João Doria e depois com a vitória de Tarcísio de Freitas, ligado ao bolsonarismo. Sem seus bastiões tradicionais, o partido viu seus quadros se dispersarem por outras siglas, em busca de abrigo e chances reais de sobrevivência eleitoral.
A saída de Raquel Lyra foi particularmente sintomática, já que ela havia sido uma das únicas vitórias significativas do PSDB no Nordeste em 2022. Mas isolada e sem apoio da direção nacional, acabou buscando caminhos mais pragmáticos. Eduardo Leite, que chegou a sonhar com uma candidatura presidencial, esbarrou nas disputas internas e na incapacidade do PSDB de se reposicionar como uma alternativa sólida diante da polarização entre Lula e Bolsonaro. A fusão com o Podemos, em vez de representar uma solução, escancarou as dificuldades de unificar lideranças com trajetórias tão díspares e expôs ainda mais as fragilidades da marca tucana, hoje rejeitada por parcelas expressivas do eleitorado. Restou Eduardo Riedel como o último governador tucano, mas mesmo no Mato Grosso do Sul já circulam rumores de que ele está negociando uma nova filiação que lhe permita mais margem de manobra para as eleições de 2026.
Enquanto isso, nomes históricos do PSDB, como Tasso Jereissati e José Serra, recuaram da cena política ou migraram para outros projetos. A base militante, que nos anos 1990 lotava ruas em apoio a Fernando Henrique Cardoso e governadores tucanos, praticamente desapareceu. Os diretórios estaduais minguaram e, em muitos casos, já atuam apenas de forma protocolar, sem influência real sobre os rumos das eleições. O velho partido da social-democracia brasileira, que um dia se gabava de seu projeto de modernização econômica e de suas gestões nos principais estados do país, hoje assiste à própria extinção em ritmo acelerado. E Eduardo Riedel, cada vez mais isolado, vai se tornando literalmente o último dos moicanos de uma legenda que chegou ao topo e agora se dissolve, sem resistência, na nova geografia do poder político nacional.
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