sexta-feira, 30 de maio de 2025

SÓ RESTOU VERAS E FERRO NA DISPUTA PELO PT-PE

A corrida pela presidência estadual do Partido dos Trabalhadores em Pernambuco, dentro do Processo de Eleições Diretas (PED), caminha para uma configuração cada vez mais polarizada entre duas figuras históricas da legenda: o deputado federal Carlos Veras e o ex-deputado federal Fernando Ferro. A disputa, que já teve sete pré-candidaturas postas em diferentes momentos do processo interno, agora se afunila com a consolidação de apoios e a retirada de nomes, tornando-se um embate direto entre projetos distintos de partido e estratégias políticas divergentes para o futuro do PT no estado.

Nesta quinta-feira, o cenário se redesenhou mais uma vez com o anúncio do vereador recifense Osmar Ricardo, importante liderança da capital e tradicional militante da corrente Articulação de Esquerda, que decidiu declarar apoio formal à candidatura de Carlos Veras. O gesto de Osmar amplia a força de Veras nas bases urbanas do partido e sinaliza que a candidatura do atual deputado federal vem agregando lideranças influentes do PT que até então permaneciam em posição neutra ou com pretensões de lançar nomes próprios. O apoio é interpretado nos bastidores como um movimento estratégico da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no partido, para fechar fileiras em torno de um nome competitivo que una representação parlamentar, vínculo com os movimentos sociais e capacidade de diálogo interno.

Carlos Veras, que desde o início da disputa apresentava um discurso de unidade partidária e renovação na condução da sigla, ganha tração e consolida sua posição como favorito após semanas de articulações intensas. A candidatura de Fernando Ferro, por sua vez, permanece como expressão de um setor do partido mais crítico à atual direção e defensor de um resgate do PT mais orgânico e vinculado aos princípios históricos da esquerda socialista. Ferro conta com o respeito de parte significativa da militância mais antiga, tem trajetória marcada pela atuação no Congresso e pelo enfrentamento à direita, mas enfrenta dificuldades para se expandir entre as novas lideranças petistas, sobretudo aquelas que ascenderam nos últimos ciclos eleitorais.

A retirada de outras candidaturas – entre elas nomes como o do ex-vereador Gilvan Cavalcanti e da militante Maria das Neves – reflete uma dinâmica de reagrupamento de forças no PT, que costuma vivenciar disputas internas acirradas, mas que desta vez caminha para uma eleição mais objetiva e concentrada em dois campos principais. A tendência é que, nas próximas semanas, novas adesões e declarações de apoio sejam divulgadas, consolidando o duelo entre os dois ex-parlamentares como a principal disputa interna da legenda nos últimos anos.

A movimentação de Osmar Ricardo pode também sinalizar o alinhamento da base municipal do PT recifense à candidatura de Veras, fato que influencia diretamente o comportamento das zonais e dos diretórios municipais do interior. Como a eleição do PED é feita por voto direto dos filiados, o convencimento das bases é fundamental, e os apoios de vereadores e deputados com atuação direta nas comunidades tendem a ser decisivos para a definição do resultado. Com isso, a expectativa é de que o clima político nas instâncias partidárias fique cada vez mais aquecido até o dia da votação.

Enquanto isso, o campo de Fernando Ferro mantém o discurso de que a disputa não é apenas entre nomes, mas entre projetos políticos. Seus apoiadores têm afirmado que o ex-deputado representa uma possibilidade de retomar a identidade ideológica do PT, fortalecendo suas conexões com sindicatos e movimentos sociais históricos, como o MST e a CUT, além de adotar uma linha mais crítica à atual relação do partido com governos de coalizão. Já a campanha de Veras defende que o partido precisa dialogar com a realidade política de Pernambuco, manter seu protagonismo institucional e, ao mesmo tempo, ampliar sua presença nas periferias e movimentos populares.

A eleição do PED, prevista para acontecer nos próximos meses, será determinante para a reorganização do PT pernambucano com vistas às eleições municipais de 2024 e à montagem da estratégia eleitoral para 2026. Nos bastidores, lideranças nacionais também acompanham com atenção os rumos da disputa, especialmente pelo papel estratégico que Pernambuco ocupa no mapa político do partido no Nordeste. A decisão entre Carlos Veras e Fernando Ferro promete mais que uma mudança de comando: será, de fato, um indicativo da rota que o PT estadual pretende seguir nos próximos anos.

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