A terça-feira foi marcada por um cenário de forte tensão política em Pernambuco, com a oposição intensificando os ataques ao Governo Raquel Lyra (PSD), em meio a uma crise envolvendo a gestão de recursos oriundos de empréstimos já aprovados pela Assembleia Legislativa do Estado (Alepe). O embate ganhou força com a realização de uma entrevista coletiva promovida pelos deputados estaduais Alberto Feitosa (PL), Antônio Coelho (UB) e Waldemar Borges (PSB), que acusaram o Executivo de não conseguir dar celeridade à captação de recursos e de realizar manobras questionáveis na utilização do crédito obtido. Segundo os parlamentares, dos R\$ 1,7 bilhão aprovados em 2023, restam ainda R\$ 1,1 bilhão a serem captados, e o prazo de 37 dias imposto pela Caixa Econômica Federal para a contratação desse valor foi colocado em dúvida, com os oposicionistas duvidando da capacidade do Governo em cumprir esse cronograma. De forma extraoficial, membros do Palácio do Campo das Princesas admitem a intenção de solicitar uma nova prorrogação junto à instituição financeira em junho, tentando manter viva a possibilidade de acessar os recursos.
A oposição também disparou críticas sobre a suposta falta de transparência na comunicação com o Legislativo. O trio de deputados apontou um possível desvio de finalidade na aplicação do crédito, sugerindo que o Governo teria alterado os destinos dos recursos sem informar previamente à Alepe, o que, na visão deles, configura uma grave falha institucional. O Palácio, por sua vez, nega qualquer irregularidade e sustenta que não há obrigação legal de comunicar os aditivos ao Parlamento. A tensão entre os Poderes atingiu um novo patamar no fim da tarde, quando o presidente da Alepe, Álvaro Porto (PSDB), subiu à tribuna com um discurso contundente e inflamado, acusando o Governo do Estado de adotar novamente a prática de esvaziar o plenário durante votações importantes. A sessão em questão discutia indicações e projetos de relevância para o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro), que segue sem uma presidência efetiva.
Em seu pronunciamento, Álvaro Porto foi enfático ao afirmar que o Executivo estadual ainda não demonstrou a que veio, sinalizando um agravamento da crise política instalada desde o início do ano legislativo. A governadora Raquel Lyra, por sua vez, em nota oficial, tentou amenizar os ânimos ao anunciar a criação de um Grupo de Trabalho composto por deputados aliados com a missão de intensificar o diálogo institucional. No entanto, diante dos acontecimentos recentes, inclusive com o discurso duro de Porto, o gesto foi interpretado por muitos como meramente retórico. O clima de desconfiança é geral, inclusive entre parlamentares da base, que veem na paralisia da gestão um prejuízo direto à população.
Enquanto o embate político ganha os holofotes, os efeitos da crise recaem sobre os pernambucanos. Obras aguardadas por anos continuam sem sair do papel, municípios do interior não recebem as emendas prometidas e aguardam repasses para saúde, infraestrutura e educação. A Adagro, responsável por um setor essencial da economia agropecuária do estado, continua acéfala, o que compromete sua atuação em um período crítico de fiscalizações. Em Fernando de Noronha, a administração da ilha segue sendo tocada de forma improvisada, e outros poderes enfrentam a lentidão na análise de projetos devido à falta de articulação entre Executivo e Legislativo. No centro da polêmica, o deputado Waldemar Borges, que é o relator do projeto referente ao novo empréstimo de R\$ 1,5 bilhão solicitado pelo Governo, aguarda os esclarecimentos que requisitou para poder apresentar seu parecer. Segundo fontes ligadas ao Executivo, as respostas devem ser entregues ainda esta semana, na tentativa de destravar o processo legislativo e conter o desgaste.
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