Em depoimento prestado nesta terça-feira (10) ao Supremo Tribunal Federal, no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) surpreendeu ao tentar suavizar o ambiente tenso do plenário com um comentário inusitado. Dirigindo-se ao relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro perguntou se poderia “fazer uma brincadeira”. Após uma breve pausa e com tom descontraído, afirmou: “Gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 2026”. A resposta de Moraes foi seca, mas bem-humorada: “Eu declino”, disse ele, entre risos contidos, provocando reações discretas na sala. O episódio, embora breve, foi emblemático do contraste entre o tom político de Bolsonaro e a seriedade do julgamento.
Ao longo do depoimento, que durou pouco mais de uma hora, Bolsonaro buscou afastar as acusações de que teria conspirado contra as instituições democráticas. Em um gesto simbólico, ergueu um exemplar da Constituição Federal ao declarar que jamais atentou contra a democracia brasileira. “Sempre estive do lado da legalidade. Minha atuação como presidente respeitou os limites da Constituição, que é a nossa bússola”, afirmou. Ele acrescentou que suas declarações contra o sistema eleitoral, especialmente em relação às urnas eletrônicas, não passavam de “retórica política” e que não havia qualquer intenção de incitar ruptura institucional. “Eu fiz críticas, sim. Mas dentro do que é permitido num regime democrático. Opiniões não são crimes”, argumentou.
Bolsonaro também aproveitou o momento para apresentar um pedido de desculpas velado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo ele, algumas de suas falas em relação à Justiça Eleitoral foram “exageradas” e poderiam ter causado interpretações equivocadas. “Se fui além, peço desculpas. O debate eleitoral às vezes esquenta, mas minha intenção nunca foi desrespeitar as instituições”, declarou. O ex-presidente tentou reforçar a narrativa de que suas ações após a derrota nas eleições de 2022 foram pautadas pela legalidade, destacando que não incentivou invasões ou movimentos antidemocráticos. “Eu deixei o Brasil em paz, fui para os Estados Unidos e nunca estimulei qualquer tipo de desobediência civil”, disse.
Durante a oitiva, a defesa de Bolsonaro insistiu na tese de que o ex-presidente não teve participação direta nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e que os eventos posteriores à eleição foram marcados por manifestações espontâneas de apoiadores. O ministro Alexandre de Moraes, por sua vez, adotou postura firme, lembrando que as investigações reuniram provas de reuniões, minutas de decretos e articulações envolvendo integrantes do alto escalão do governo anterior. Bolsonaro, no entanto, negou envolvimento com qualquer documento que sugerisse a decretação de estado de sítio ou intervenção nas cortes. “Nunca assinei, nunca autorizei, e jamais teria compactuado com isso”, garantiu. Ao final, apesar da tentativa de distensionar o ambiente, o depoimento reforçou os desafios que o ex-presidente ainda enfrentará nos próximos capítulos do processo.
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