O BAIXO CLERO TAMBÉM MORA NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
DEPUTADOS DE ATUAÇÃO PARLAMENTAR DISCRETA
Na política, os holofotes nem sempre iluminam todos os que trabalham. Essa é uma verdade que atravessa esferas, cargos e instituições. O fenômeno do chamado “baixo clero”, popularizado na Câmara dos Deputados em Brasília, também está presente nas Assembleias Legislativas dos estados — inclusive em Pernambuco. Trata-se de um grupo de parlamentares discretos, pouco midiáticos, muitas vezes desconhecidos do grande público, mas nem por isso inativos ou irrelevantes. Vamos dar uma analisada aqui NA LUPA desta terça-feira.
UM FENÔMENO ANTIGO E NATURAL NO LEGISLATIVO
O termo “baixo clero” não é novo. Ganhou notoriedade nos corredores de Brasília para designar os deputados federais com menor projeção política. Em outras palavras, são os parlamentares que raramente discursam, não comandam comissões importantes, nem participam ativamente de articulações de bastidores. Porém, essa expressão cabe como uma luva também na política estadual — e Pernambuco não foge à regra.
SILÊNCIO NÃO É SINÔNIMO DE INÉRCIA
Na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), há um grupo significativo de deputados que se encaixa nessa classificação. Pouco se ouve deles na tribuna. Seus nomes aparecem esporadicamente nos jornais. Alguns passam quase quatro anos de mandato com pouca ou nenhuma repercussão pública. Mas isso não significa, necessariamente, que estejam alheios ao mandato. Pelo contrário.
TRABALHO DE BASTIDORES
Boa parte desses parlamentares atua de maneira silenciosa, porém intensa, nas bases eleitorais. São verdadeiros operadores políticos nos municípios de origem, mantendo articulações locais, garantindo obras, emendas e benefícios, ainda que sem estardalhaço. Trabalham no modelo “formiguinha”, acumulando capital político pela entrega prática, e não pela performance parlamentar.
O PERFIL QUE NÃO BRILHA NA TRIBUNA
O perfil do político de baixo clero não é, em regra, o do orador eloquente ou do debatedor inflamado. Em muitos casos, são ex-prefeitos, ex-vereadores ou lideranças comunitárias que fizeram gestões expressivas no Executivo, mas que, ao migrarem para o Legislativo, não encontraram espaço ou vocação para o jogo institucional. A tribuna, para eles, é apenas uma formalidade – ou um palco onde não se sentem à vontade.
A POLÍTICA TAMBÉM É FEITA DE SILÊNCIOS
A democracia representativa não exige que todos os eleitos brilhem com o mesmo estilo. O Legislativo é composto por perfis distintos: os que articulam nos bastidores, os que dominam a retórica, os que acumulam capital político e os que preferem o contato direto com o povo. Em suma, o baixo clero é uma face legítima do parlamento. E, muitas vezes, essencial.
QUEM É QUEM NA ALEPE
Embora não se publique listas formais de “baixo clero”, é possível perceber — com alguma atenção — quem são os deputados estaduais que optam pelo silêncio. São raras as aparições em coletivas de imprensa, participações em discussões ou disputas internas por comissões estratégicas. Suas falas, quando acontecem, são rápidas, protocolares. E há aqueles que passam uma legislatura inteira sem protagonizar qualquer embate político relevante.
REPRESENTATIVIDADE NÃO SE MEDE APENAS COM MICROFONE
A crítica fácil costuma associar o baixo clero à omissão ou à inoperância. É um erro. Muitos desses parlamentares são ativos, sim — só que fora dos refletores. São os que conseguem a liberação de uma ambulância para o hospital da cidade natal, que levam a estrada vicinal ao distrito esquecido, que intermediando acordos locais garantem estabilidade em prefeituras pequenas. A política real é feita também assim: nos bastidores, no cafezinho, no corpo a corpo.
A MÍDIA E A INVISIBILIDADE
A cobertura jornalística tende a favorecer os parlamentares mais performáticos. Aqueles que têm um bom assessor de imprensa, que sabem se comunicar nas redes, que marcam presença com discursos polêmicos ou defesas apaixonadas. Quem não joga esse jogo fica à margem — mas não necessariamente está em desvantagem. Em estados como Pernambuco, onde o interior ainda exerce forte influência, o contato direto com a população pode valer mais do que qualquer manchete.
O EFEITO DAS URNAS
Curiosamente, muitos parlamentares do baixo clero têm alta taxa de reeleição. Isso revela que, ainda que invisíveis para o grande público, mantêm uma base fiel, que reconhece o trabalho feito no varejo. É a política dos pequenos gestos, dos compromissos pontuais, das demandas atendidas sem pompa.
O TERMO BAIXO CLERO NÃO É XINGAMENTO
No fim das contas, ser do baixo clero não é um defeito — é uma constatação. É a ausência de protagonismo institucional, e não de ação política. É o retrato de um sistema em que nem todos serão líderes, nem todos terão voz de comando. Mas todos, em alguma medida, podem fazer a diferença para quem os elegeu. O Legislativo, seja na Câmara Federal ou nas Assembleias Estaduais, é feito de maioria silenciosa. Poucos são os que comandam, discursam, articulam em Brasília ou no Recife. A maioria faz o que pode com os recursos e as vocações que tem. E se nem todo mundo nasceu para brilhar, há quem prefira trabalhar nas sombras — com efetividade. O baixo clero é parte inseparável da engrenagem política. E entender isso é compreender melhor como funciona o poder no Brasil. É isso aí.
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