A tão aguardada fusão entre PSDB e Podemos, dada como certa no final de abril, parece ter entrado em compasso de espera. A decisão unânime da executiva nacional tucana no dia 29 daquele mês, autorizando o início dos entendimentos com o Podemos, foi celebrada à época com entusiasmo pela deputada federal Renata Abreu, presidente nacional do partido. Na ocasião, ela publicou nota oficial de boas-vindas, reforçando o discurso de afinidade programática e sinalizando um caminho sem volta rumo à unificação. No entanto, esse entusiasmo não se repetiu na última quinta-feira, quando o PSDB sacramentou a fusão em sua 17ª Convenção Nacional, em Brasília, com 201 votos favoráveis e apenas dois contrários. O silêncio absoluto de Renata e a ausência de qualquer representante do Podemos no evento acenderam um forte alerta nos bastidores.
Fontes ligadas à cúpula do Podemos afirmam que, se a decisão dependesse apenas do momento atual, a fusão não aconteceria. A estimativa, que chegou a 100% de probabilidade, despencou para cerca de 20%. Os motivos para esse impasse envolvem principalmente disputas de poder na formação da nova legenda. O deputado Aécio Neves, principal articulador da fusão pelo lado tucano, defende um modelo de rodízio na presidência nacional do partido, com alternância semestral entre as duas siglas. Renata Abreu, por sua vez, resiste à proposta e quer manter controle sobre sete diretórios estaduais estratégicos — entre eles, o de Pernambuco. Esse ponto tornou-se uma linha vermelha para a deputada, especialmente pela relação política com Ricardo Teobaldo, ex-deputado federal e figura central na fundação do Podemos, com forte atuação no estado. Renata não aceita abrir mão da influência de Teobaldo na direção pernambucana da nova sigla.
O PSDB, por sua vez, tenta se reinventar em meio a um processo de esvaziamento que atingiu em cheio sua estrutura nacional. Em 2022, dos três governadores eleitos pela sigla, dois já migraram para o PSD: Raquel Lyra, de Pernambuco, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. O terceiro, Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, também é apontado como provável desertor. No Congresso, os tucanos contam hoje com três senadores e apenas 13 deputados federais, enquanto o Podemos tem quatro senadores e 15 deputados. A fusão era vista como forma de unir forças, consolidar bancadas e aumentar competitividade nas eleições municipais e gerais. Mas o impasse em torno da liderança e da divisão de poder ameaça colocar tudo a perder.
Em Pernambuco, o cenário é igualmente complexo. Embora o PSDB tenha emplacado apenas um dos 32 prefeitos eleitos no último pleito — os demais seguiram para o PSD com Raquel Lyra —, o deputado Álvaro Porto, presidente estadual da legenda, mantém o discurso de confiança. Ele se movimenta nos bastidores para ampliar a base e conquistar novos quadros, ainda que a resistência seja evidente. Do lado do Podemos, o ex-prefeito de Paudalho, Marcelo Gouveia, comanda o partido no estado e aguarda orientações de Renata Abreu. O silêncio da presidente nacional, porém, revela um clima de incerteza. A convenção do Podemos, necessária para homologar a fusão, ainda não tem data definida. Nos bastidores, cresce a percepção de que o entusiasmo inicial cedeu lugar à cautela. A janela de oportunidade, que parecia escancarada, começa a se fechar lentamente, à medida que a disputa por protagonismo político ofusca o projeto de união partidária.
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