O ex-ministro do Turismo no governo Jair Bolsonaro, Gilson Machado Neto (PL), foi preso pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (13), em Recife, capital de Pernambuco, no contexto de uma investigação que apura uma suposta tentativa de obstrução de Justiça envolvendo o tenente-coronel Mauro Cid. A prisão ocorreu menos de 24 horas após o ex-ministro ter acompanhado o ex-presidente da República em uma agenda pública na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, onde ambos participaram de compromissos políticos e encontros com aliados locais. Gilson retornou de carro a Pernambuco ainda na noite de quinta-feira (12), sendo detido na manhã seguinte, em uma operação silenciosa, mas cercada de expectativa nos bastidores da PF.
Segundo fontes ligadas à investigação, Machado teria tentado viabilizar a concessão de um passaporte português para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e réu em um dos principais inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal, o que apura os bastidores da tentativa de golpe de Estado que teria sido articulada após o resultado das eleições presidenciais de 2022. A movimentação do ex-ministro junto ao Consulado de Portugal, em Recife, teria ocorrido em maio deste ano e, segundo os investigadores, não foi um ato isolado: há indícios de articulação prévia e de intenção deliberada de facilitar a fuga do país do militar investigado, algo que a Procuradoria-Geral da República classificou como tentativa concreta de obstrução de Justiça.
O consulado português teria sido acionado diretamente por Gilson, que teria buscado utilizar sua influência e posição como ex-ministro para agilizar os trâmites documentais. Interlocutores próximos à investigação afirmam que a Polícia Federal já monitorava os passos do ex-ministro havia semanas e cogitou, inclusive, prendê-lo ainda em Natal, caso ele prolongasse sua permanência no Rio Grande do Norte. A operação foi cuidadosamente planejada e executada de forma a evitar qualquer fuga ou vazamento prévio de informações que pudesse comprometer a ação.
O elo entre Gilson Machado e Bolsonaro voltou ao centro do debate político e jurídico após a prisão. Os dois estavam juntos publicamente em eventos de rua e em reuniões com apoiadores e lideranças locais, um dia antes da prisão, demonstrando não apenas afinidade pessoal, mas sintonia política no atual momento de mobilização do bolsonarismo. A imagem de ambos circulando lado a lado em Natal, pouco antes da ação da PF, chama atenção pelo contraste com a gravidade das suspeitas que recaem sobre os investigados.
A ação da Polícia Federal contra Gilson ocorre num momento em que o cerco jurídico se intensifica contra antigos membros do círculo próximo de Jair Bolsonaro. A prisão do ex-ministro se soma a outras medidas cautelares que vêm sendo adotadas nas apurações sobre as tentativas de ruptura institucional no Brasil. Para investigadores, a suposta ajuda a Mauro Cid não é apenas um ato de favorecimento pessoal, mas uma peça estratégica de um possível plano de fuga, no qual Portugal surgiria como destino por laços culturais e facilidades diplomáticas. Nesse contexto, o papel de Gilson como ponte entre o militar e o consulado ganha relevância e peso criminal.
O episódio também reforça a linha investigativa que aponta para a atuação coordenada de aliados de Bolsonaro mesmo após a derrota eleitoral, com tentativas de evitar que delações e depoimentos comprometam figuras centrais do ex-governo. A escolha do Consulado de Portugal em Recife como canal de atuação, a atuação direta de Gilson e o timing da viagem de ambos ao Nordeste não são vistos como mera coincidência pelos investigadores. O caso ainda terá novos desdobramentos, com previsão de novos depoimentos e possível aprofundamento nas relações entre diplomatas, políticos e figuras militares envolvidas.
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