sexta-feira, 27 de junho de 2025

GUERRA POLÍTICA E JUDICIAL EM OLINDA

A crise política em Olinda ganhou novos contornos nesta quinta-feira (26), após a Câmara Municipal rejeitar, por 13 votos a 2, o pedido de abertura de investigação contra a prefeita Mirella Almeida (PSD), que poderia culminar em um processo de impeachment. Apesar da decisão do Legislativo, o clima permanece inflamado entre a gestora e o advogado Antônio Campos, autor das denúncias. Ambos recorreram às redes sociais para trocar duras acusações, expondo uma rivalidade política que se arrasta há anos e agora atinge seu ponto mais agudo.

Mirella comemorou a decisão dos vereadores, exaltando o que chamou de “sobriedade” da Casa Legislativa, em especial do presidente da Câmara, vereador Saulo Holanda. Em mensagem pública, a prefeita afirmou que o pedido de investigação era “irresponsável” e teria sido protocolado por alguém que, segundo ela, “nunca desarmou o palanque desde a primeira campanha, há dez anos”. Em tom de enfrentamento, a gestora acusou Campos de ser um político que apenas destrói, em contraposição ao que disse ser sua postura de construção e entrega.

A prefeita ainda usou o episódio para reafirmar sua posição como mulher na política, num ambiente que, segundo ela, ainda é hostil às lideranças femininas. “Não é fácil ser uma mulher jovem, numa política de homens nascidos em berço de ouro, vindos de famílias tradicionais. Mas aprendi a não ter medo. Enfrento os desafios com coragem”, disse. Ela listou ações de seus seis primeiros meses de mandato e reforçou que o seu foco é o trabalho, apesar das críticas. A fala reforça a narrativa da prefeita de estar sendo perseguida por razões políticas e pessoais, ligadas inclusive a questões de gênero e classe.

Do outro lado, o advogado Antônio Campos, irmão do ex-governador Eduardo Campos e com histórico de embates políticos na cidade, rechaçou a fala da prefeita e partiu para o contra-ataque. Ele afirmou que Mirella precisa prestar contas de sua gestão, em especial do Carnaval de Olinda de 2025, cuja prestação de contas, segundo ele, já ultrapassa cem dias de atraso. Ele também a acusou de não cumprir com o pagamento das emendas impositivas, prejudicando áreas essenciais como a saúde, citando como exemplo a situação do Hospital Tricentenário.

Campos afirmou ainda que não recebeu respostas oficiais da Prefeitura a diversos pedidos de informação, entre eles sobre o rombo financeiro herdado da gestão anterior, comandada por Professor Lupércio, de quem Mirella foi secretária. Para o advogado, a negativa da Câmara em instaurar o processo foi um ato puramente político e sem respaldo legal. Ele anunciou que irá recorrer à Justiça com um mandado de segurança pedindo que o processo investigativo seja aberto, com vistas ao afastamento da prefeita.

Além do Judiciário, Campos prometeu acionar o Tribunal de Contas do Estado, o Ministério Público de Pernambuco e o Ministério Público Federal para denunciar o que classifica como “ilegalidades” e “falta de transparência” na administração municipal. Nas redes sociais, ele foi ainda mais duro ao declarar que Mirella seria a responsável por conduzir Olinda ao caos, afirmando que sua gestão é uma continuação desastrosa do governo anterior. A frase “impeachment já, intervenção em Olinda já” foi repetida em tom de manifesto.

Enquanto a guerra de versões se desenrola nas redes e nos bastidores institucionais, a cidade de Olinda assiste à escalada de tensão entre dois personagens políticos que protagonizam uma das mais conturbadas disputas recentes da política municipal. A batalha, agora, promete migrar para os tribunais, onde Antônio Campos tentará o que não conseguiu no plenário da Câmara: a abertura de uma investigação formal que possa colocar a gestão de Mirella sob escrutínio judicial.

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