Nos bastidores, a escolha de Miguel Ricardo para a pasta do Recife foi tratada como um gesto claro de incorporação do grupo de Mário Ricardo ao entorno de João Campos. Isso depois de um período de indefinição, em que Mário chegou a flertar com uma aproximação com a governadora Raquel Lyra (PSD), motivado por antigas relações institucionais e expectativas de interlocução administrativa. No entanto, o processo eleitoral de 2024 redefiniu os campos de força. A governadora tomou posição firme pela reeleição da prefeita Elcione Ramos em Igarassu, enfrentando diretamente Miguel Ricardo, que emergia como principal adversário local. Com a vitória de Elcione, o grupo de Miguel e Mário se viu afastado do Palácio do Campo das Princesas, abrindo caminho para um realinhamento definitivo.
A presença de João Campos nos bastidores da campanha de Miguel em 2024 já havia sinalizado sua preferência. Apesar de discreta, sua atuação foi percebida entre aliados como um gesto de investimento político, mesmo diante da força da máquina estadual no município. Agora, com Miguel integrado à sua equipe, João amplia sua rede de aliados em uma região que historicamente dialoga com lideranças do centro e da direita. A costura foi construída sob a chancela de Silvio Costa Filho, que mantém boa interlocução com João Campos e tem apostado na construção de um ambiente de coesão dentro do Republicanos, partido que, até pouco tempo, dividia palanques em várias regiões do estado.
A nova configuração beneficia o projeto de João para além do Recife, levando seu campo de influência a cidades-chave do Grande Recife. A região metropolitana, especialmente o Litoral Norte, é considerada vital para qualquer candidatura majoritária no estado. Ter um nome como Miguel Ricardo, com base eleitoral consolidada em Igarassu e vínculos com lideranças religiosas e comunitárias, dentro da estrutura da Prefeitura do Recife, fortalece a narrativa de um campo político em expansão. Além disso, a movimentação também reforça o papel de Silvio Costa Filho como articulador de alianças que extrapolam a lógica partidária, favorecendo um cenário de unidade progressiva entre Republicanos e PSB.
A presença conjunta de João Campos, Miguel Ricardo e Mário Ricardo em eventos recentes, como o encontro político realizado em Petrolina, vem sendo lida como demonstração pública desse novo alinhamento. As imagens e discursos compartilhados nas redes sociais escancararam o afastamento do grupo em relação ao governo estadual, consolidando uma dissidência silenciosa dentro do campo da direita moderada. No Recife, a entrada de Miguel em um cargo estratégico também pode servir como vitrine para sua experiência administrativa, o que pode render dividendos eleitorais no futuro. João, por sua vez, posiciona-se como liderança aglutinadora, capaz de atrair quadros de diversas vertentes ideológicas para seu projeto estadual.
Esse redesenho no tabuleiro político da Região Metropolitana do Recife pode influenciar diretamente o cenário eleitoral de 2026, criando alternativas para a composição de uma chapa forte e com capilaridade. O Republicanos, que já havia sinalizado interesse em ocupar espaços mais centrais na política pernambucana, passa agora a operar em sinergia com João Campos, abrindo a possibilidade de uma aliança sólida e competitiva. Enquanto Raquel Lyra se vê obrigada a reorganizar suas bases nas cidades onde sofreu resistência, João segue ampliando seus tentáculos administrativos e políticos em todo o estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário