A semana começou tensa para o Palácio do Planalto, com uma sucessão de derrotas que expõe o enfraquecimento da articulação política do governo federal no Congresso Nacional. Logo na segunda-feira, o Executivo foi surpreendido por uma contundente derrota na Câmara dos Deputados, onde não conseguiu aprovar o regime de urgência para a Medida Provisória que previa o aumento do IOF. A proposta, que integra os planos do Ministério da Fazenda para elevar a arrecadação e garantir o cumprimento das metas fiscais de 2025, sofreu resistência até mesmo entre partidos da base governista, revelando fissuras cada vez mais evidentes na sustentação parlamentar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No dia seguinte, a situação se agravou ainda mais. Em uma sessão conjunta, deputados e senadores derrubaram diversos vetos presidenciais a uma lei que regulamenta investimentos em energia eólica offshore. Entre os pontos rejeitados estavam dispositivos vetados por Lula por configurarem os chamados “jabutis legislativos”, inserções estranhas ao texto original e consideradas prejudiciais ao interesse público. Com a derrubada dos vetos, o governo agora terá que lidar com as consequências econômicas e políticas da medida, incluindo o impacto direto nas contas de energia elétrica. A estimativa do setor é de que, com os novos dispositivos aprovados pelo Congresso, os consumidores brasileiros poderão pagar até R\$ 200 bilhões a mais na conta de luz ao longo dos próximos 25 anos.
A derrota se deu em um cenário mais amplo de insatisfação do Legislativo com o governo. No mesmo dia, o Congresso Nacional rejeitou mais de uma dezena de vetos de Lula, incluindo o que negava indenizações a crianças com microcefalia decorrente do Zika vírus, uma demanda antiga de parlamentares do Nordeste. Outro veto derrubado foi o que barrava a cobrança de taxas para avaliação e registro de agrotóxicos, tema sensível que opõe ambientalistas ao setor ruralista e ao lobby do agronegócio, com forte presença na Câmara.
Ainda na sessão de terça-feira, os congressistas decidiram adiar a análise de cerca de 30 vetos, entre os quais alguns pontos da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025. A decisão estratégica aponta para uma tentativa do Congresso de manter o governo sob pressão e de negociar futuras concessões em troca de apoio. Ao mesmo tempo, o clima de instabilidade política no Legislativo teve um novo capítulo com a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar um suposto esquema de fraudes em benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O requerimento que criou a comissão foi lido pelo presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União-AP), que agora aguarda a indicação dos membros pelos líderes partidários. O governo, por sua vez, já se movimenta para tentar assumir o comando da CPMI, na expectativa de garantir a relatoria ou a presidência e, com isso, reduzir os danos políticos da investigação.
Enquanto enfrentava esse cenário doméstico turbulento, Lula participava da reunião do G7, no Canadá. Convidado pelos países mais ricos do mundo, o presidente brasileiro buscava reforçar sua imagem internacional como liderança do Sul Global e defensor de pautas climáticas. Contudo, a viagem foi ofuscada pela decisão de Lula de cancelar um encontro bilateral com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. A desistência gerou repercussões negativas, sobretudo diante da expectativa da diplomacia europeia para uma aproximação mais enfática do Brasil em relação à guerra no Leste Europeu.
Em Brasília, o clima é de desânimo entre aliados e assessores do Planalto. A avaliação corrente entre parlamentares é que o governo perdeu o controle da agenda política e enfrenta dificuldades crescentes para reagir. Para muitos, nem mesmo a liberação acelerada de emendas tem sido suficiente para garantir fidelidade nos votos. O primeiro semestre de 2025, que se encerra com uma série de reveses políticos, está sendo visto como um alerta vermelho para a governabilidade do presidente Lula e para a capacidade do governo de recuperar a confiança do Congresso.
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