A nova crise enfrentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganha contornos ainda mais delicados com a divulgação de dados internacionais sobre sua popularidade e o movimento político do centrão em Brasília. Segundo o ranking global do instituto Morning Consult, divulgado nesta quarta-feira, Lula aparece na 18ª posição entre os 23 líderes mundiais avaliados, com 60% de desaprovação e apenas 34% de aprovação. A sondagem, realizada entre os dias 3 e 9 de junho, revela um desgaste acentuado da imagem do presidente brasileiro diante da opinião pública, numa conjuntura em que os desafios fiscais se acumulam e a articulação política no Congresso dá sinais de enfraquecimento. Em contraste, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, lidera o ranking com expressivos 78% de aprovação, seguido pelo presidente da Argentina, Javier Milei, com 60%.
No mesmo dia da publicação do ranking, o Palácio do Planalto foi surpreendido por uma movimentação dura da recém-criada Federação União Progressista, que reúne os partidos União Brasil e Progressistas. Mesmo com quatro ministérios ocupados no atual governo, a federação anunciou que votará contra a medida provisória encaminhada por Lula para compensar a revogação parcial do decreto que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O comunicado assinado pelos presidentes das legendas, Antonio Rueda (UB) e Ciro Nogueira (PP), expressa de forma clara que a base parlamentar da federação será orientada a rejeitar qualquer proposta de elevação de tributos que não venha acompanhada de um corte efetivo de gastos públicos.
A posição oficial da União Progressista representa um revés de peso para Lula. O grupo detém hoje a maior bancada da Câmara dos Deputados, com capilaridade também relevante no Senado, e promete se articular com coesão para inviabilizar a agenda fiscal que o governo tenta emplacar como alternativa à deterioração das contas públicas. “Só aceitaremos examinar qualquer discussão fiscal se a coluna de despesas estiver no centro do debate”, declarou Antonio Rueda, ampliando a pressão para que o Executivo reveja sua estratégia de equilíbrio fiscal baseada no aumento da arrecadação.
Internamente, o governo se vê em um dilema: manter investimentos sociais e em infraestrutura, como os previstos no novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), ou ceder ao Congresso e cortar gastos em setores sensíveis, o que pode comprometer a base eleitoral do presidente. A resistência da União Progressista pode se tornar o ponto de inflexão no projeto fiscal do governo, já que o Planalto enfrenta dificuldades em costurar maioria parlamentar. O PL, de Jair Bolsonaro, maior força de oposição, segue coeso contra qualquer aumento de impostos. MDB e Republicanos, que em certos momentos se aproximaram do governo, também indicam que não estão dispostos a sustentar medidas impopulares, especialmente com o horizonte de 2026 se aproximando.
O isolamento político, aliado à queda de popularidade e à instabilidade econômica, cria um ambiente de incerteza para o governo Lula. A avaliação nos bastidores é de que, sem um plano fiscal claro que envolva corte de despesas e controle das contas públicas, será cada vez mais difícil avançar com projetos estratégicos. A União Progressista, com sua nova configuração e discurso alinhado à responsabilidade fiscal, passa a desempenhar um papel central na engrenagem política de Brasília, colocando o governo sob intensa vigilância e reduzindo a margem de manobra do presidente num cenário cada vez mais adverso.
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