segunda-feira, 16 de junho de 2025

PARA LULA EM PERNAMBUCO O QUE IMPORTA É O SENADO


Por: Greovário Nicollas 
Em meio à movimentação política de olho em 2026, o xadrez eleitoral em Pernambuco revela uma dinâmica silenciosa, mas estratégica: para o presidente Lula, a disputa para o Senado no estado vale mais do que a eleição para o Governo. Embora a sucessão no Palácio do Campo das Princesas receba grande atenção pública, é o futuro da cadeira hoje ocupada por Humberto Costa (PT) no Senado que realmente interessa ao núcleo do poder em Brasília.

A avaliação é pragmática. Governadores, por mais barulho que façam, precisam de diálogo e boa vontade do governo federal para conseguir recursos, obras e programas. Já senadores têm mandato longo, liberdade de atuação, influência direta sobre o orçamento via emendas e cada vez mais autonomia para adotar posições independentes — ou hostis. Em outras palavras, um governador adversário pode ser contornado; um senador opositor, não. Daí a obsessão do Planalto por manter, ou ampliar, sua base na Casa Alta do Congresso.

O nome de Humberto Costa, nesse cenário, é visto como peça-chave. Ex-ministro da Saúde, fundador do PT em Pernambuco e nome respeitado em Brasília, Humberto é considerado pelo entorno de Lula como uma das poucas garantias de lealdade plena. Além disso, é alguém com trânsito em diferentes alas do partido, com articulação sólida entre prefeitos, lideranças do interior e movimentos sociais. A manutenção de seu mandato é vista internamente como prioridade máxima — quase uma “linha vermelha” nas negociações no estado.

No entanto, mesmo com essa importância toda, Humberto ainda não figura com segurança nas chapas competitivas. Isso porque tanto João Campos (PSB), quanto Raquel Lyra (PSD), que despontam como os nomes mais fortes ao governo, enfrentam pressões de grupos e partidos que pretendem lançar outros candidatos ao Senado. No campo de João, surgem nomes como o ministro Silvio Costa Filho (Republicanos), o ex-prefeito Miguel Coelho (União Brasil) e a ex-deputada Marília Arraes (Solidariedade). Todos são peças importantes para o palanque do PSB, seja por densidade eleitoral ou por força regional, mas cada um tem sua fragilidade perante o lulismo.

Silvio Costa Filho é ministro do atual governo, mas seu partido, o Republicanos, já dá sinais claros de que vai caminhar com Tarcísio de Freitas (SP) em 2026. Miguel Coelho, que insiste em disputar o Senado de qualquer jeito, ficou refém das decisões do PP de Eduardo da Fonte, com quem trava uma relação instável. Já Marília, que foi candidata ao governo em 2022 e teve quase dois milhões de votos, carrega hoje uma relação fria com o PT e uma legenda (o Solidariedade) que tende a seguir caminhos próprios, fora do eixo tradicional petista.

O impasse para João Campos é que precisa desses aliados para fortalecer sua chapa majoritária — sobretudo se quiser enfrentar Raquel Lyra com chances reais —, mas também sabe que o apoio de Lula pode ser determinante em um estado onde o petista ainda tem enorme popularidade. Um apoio esse que, pelo que se desenha, estará condicionado à presença de Humberto na disputa ao Senado.

A governadora Raquel também observa os movimentos. Mesmo que mantenha uma relação protocolar com Lula e seu governo, sabe que não pode perder o protagonismo político para João. Por isso, seu grupo também analisa se deve abrir espaço para um nome mais afinado com o Planalto. Mas, até o momento, a governadora parece distante de qualquer gesto nesse sentido — o que pode significar uma vantagem para o PSB caso o PT decida se alinhar oficialmente com João.

No meio disso tudo, permanece uma grande dúvida que paralisa muitas articulações: Lula será ou não candidato em 2026? Embora ele diga que pretende disputar um quarto mandato, internamente há incertezas sobre sua saúde, disposição e viabilidade. Caso Lula não concorra, o peso do PT na montagem das alianças pode diminuir drasticamente. Nesse cenário, Humberto Costa perde poder de barganha e deixa de ser o ativo essencial que é hoje.

Essa indefinição trava compromissos mais ousados. Ninguém quer apostar todas as fichas em um projeto que pode murchar se o principal líder do país decidir não concorrer. Por isso, apesar da clareza estratégica sobre a importância do Senado, ainda não há tapete vermelho estendido para Humberto Costa. O jogo continua em aberto, mas uma coisa é certa: se Lula for candidato, Pernambuco precisará entregar ao presidente um aliado no Senado — ou arcar com o custo de vê-lo virar os olhos para outros estados.

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